terça-feira, 22 de dezembro de 2015

E que tal absterem-se?

Deverá ser das poucas vezes que defendo a abstenção, mas este é um caso especial e em sede parlamentar.

Estou a falar do mais recente tema quente da atualidade, o anúncio de voto contra do PCP ao Orçamento retificativo deste Governo de António Costa.

Defendo que quer o PCP, como o Bloco de Esquerda, Verdes e Pan devem-se abster e veremos o que farão os deputados que suportam o atual Governo (sim, porque o Governo é composto apenas pelos socialistas) e os deputados que suportavam o anterior Governo, ou seja, PSD e CDS.

Convém, obviamente, relembrar o porquê deste retificativo. Porque, com cerca de um mês de governação, seria muito grave que a origem fosse ações descontroladas deste Governo, ou então, muito pouco provável que nesse mês as condições/clima de atuação governativa tivessem mudado assim tanto que obrigasse a um retificativo. A origem deste instrumento, é o sucedido com o caso Banif, que foi herdado do anterior Governo, que estava engenhosamente guardado a 7 chaves para que houvesse uma saída limpa e umas eleições menos penosas (ainda assim perderam a maioria... enfim).

E porque é que incluo no lote de abstenções apenas os partidos à esquerda do PS e não o próprio PS também? Porque esta solução é encontrada precisamente por um Governo do Partido Socialista. Então e os deputados recém eleitos da direita? Devem, a meu ver, e inspirando em certa medida no que Paulo Baldaia (diretor da TSF) escreveu no seu Facebook pessoal, dizer de sua justiça, em sede própria e com as consequências quer políticas quer eleitorais que isso trará. Porque será muito interessante ver qual será a postura adotada por aqueles que criaram um problema, abstiveram-se de o resolver, esconderam dos portugueses criando assim um problema ainda maior.

Não quero com isto dizer que prefiro uma abstenção da esquerda para ver se o retificativo passa ou se não se criam os primeiros dissabores à esquerda depois de terem, historicamente, chegado a acordo.

Ah, e aproveito para lembrar que votar contra um retificativo não quer dizer que este Governo tem os dias contados, como muitos esperam e já celebram. Só demonstra, pelo contrário, que teremos um Governo de diálogo onde cada partido não abdicará dos seus princípios e valores, não esquecendo o seu eleitorado, naturalmente.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Uma vergonha bem resolvida.

Mais um caso de intervenção estatal num banco, é o terceiro num espaço temporal não muito longo. BPN, BES e Banif.
Dos 3, o Banif será, a meu ver, o que gerará menos contestação.

Ficamos a saber esta noite que o Banif vai ser vendido por 150 Milhões de euros (parte boa) e a parte dita má, em que envolve os ativo tóxicos, custará ao Estado quase 2300 Milhões de euros, dos quais pouco mais de 1700 Milhões diretamente dos cofres públicos e quase 500 Milhões através do fundo de resolução, que é suportado pelo sistema bancário. Ora, como o Estado tem participação em muitos dos principais bancos (CGD, Novo Banco e Banif, entre outros). Nota: utilizei números redondos para ser de mais fácil perceção.

No entanto, até aqui falei de números. Mas a verdade é que dos 3 casos de intervenção que falei anteriormente, estima-se que este caso do Banif seja o que tem menor custo para o Estado, porém, e de uma forma muito transparente, o atual Primeiro-Ministro veio na primeira pessoa afirmar que terá um custo elevado para os contribuintes, mas que no quadro atual, é a melhor solução.
Com esta solução, não deveremos ver associações de lesados do Banif nem contestações à porta da casa do governador do Banco de Portugal nem da sede do banco. E por falar em Carlos Costa, não seria melhor ver se não existirá outro economista com competências para o cargo? Podem dizerem o que quiserem, mas Vitor Constâncio (antecessor) não foi tão apático e essa apatia não nos custou tanto como a de Carlos Costa.

Politicamente, este caso do Banif é vergonhoso. Não há outra palavra.
Tivemos um executivo governamental que nos omitiu um caso gravíssimo, repito, gravíssimo e que sabia que o era. Esta omissão foi propositada com vista a obter mais uns votos nas eleições e se vender a ideia de que tudo estava bem e os cofres cheios.
Nitidamente, houve falta de transparência.

Hoje, sabemos qual é o ponto de situação, mas esperemos que a comissão de inquérito avance efetivamente e que retire conclusões. Que Mariana Mortágua tenha um papel tão decisivo e/ou apareça outra Mariana Mortágua, mas que a verdade seja dita de forma clara.

Ah, e que se acabem com estas omissões de uma vez por todas porque os contribuintes já estão fartos. Depois claro, há distanciamento entre eleitor e eleito e taxas de abstenção altíssimas. Talvez devam ser os políticos os primeiros a mudar a atitude.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Será possível em Portugal estas opiniões?

Como é que é possível, em Portugal, haver pessoas a ligar para um programa, em causa o programa discurso direto, na TVI24, a dizer o que dizem em relação aos refugiados?

O tema de hoje do programa é a chegada dos 25 refugiados ao nosso país.

Até agora, foram ouvidas cerca de 4 ou 5 chamadas, pois bem, todas elas foram a dizer algo como: "os refugiados vêm para Portugal viver luxuosamente", "vão ter logo emprego e passam a frente dos outros", "olhem para os nossos". Mas o mais engraçado é que, para não ficarem tão mal na fotografia, ainda vão dizendo: "não tenho nada contra eles", "eles são bem-vindos"... Ora, como é que se faz então a ponte entre estes dois mundos? Como é que podem dizer que são a favor de os ajudar, e criticam a ajuda básica. Repito, ajuda básica. Direito a saúde, educação, habitação e alimentação é básico, é elementar para a vida de cada um de nós.

Muito sinceramente, sinto-me envergonhado por viver num país em que temos tantos e tantos a terem este tipo de opinião. Bem sei que muitos pensam o contrário, e que porventura esses são aqueles que não ficam em casa a fazer chamadas mas que vão para a rua (associações e outros meios) ajudar efetivamente.

É por causa de mentalidades como as que se têm dignado a ligar para o dito programa, que a Europa está como está, desagregada. 
Aproveito para relembrar duas coisas:

  1. Estas pessoas estão a fugir da guerra e da fome. Não têm culpa do que está a acontecer no país deles!
  2. Não é os políticos criarem condições para que algumas pessoas terem acesso aos bens elementares que está mal, o que está mal é haver pessoas que não têm acesso aos tais bens essenciais.
Que fique bem claro a diferença entre o ponto 1 e 2 acima referidos.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Que melhor explicação?

Ora, hoje foi o dia em que a direita decidiu dar uma explicação, uma excelente explicação, diga-se, do que se passou no passado dia 4 de outubro e aquilo que significa o novo quadro parlamentar eleito pelo povo.

Tal como foi (excessivamente) escamoteado, o que se passou no dia 4 de outubro, últimas eleições legislativas, foi que a coligação PáF (PSD+CDS) venceram as eleições, sendo a força política apresentada a eleições que reuniu mais votos. Porém, essa vitória não foi o suficientemente representativa para se verificar uma maioria absoluta no parlamento.

Tendo em conta que em política, apesar de haver um chamado "espaço" de centro, em que o PS está mais a esquerda e o PSD à direita, e que o PSD e CDS, a direita de Portugal se apresentou a eleições coligada, quer isto dizer que os votos da coligação PáF são todos os que a direita reuniu. Salvo, com representação parlamentar.
Por consequência, e aqui verificou-se o inédito, a esquerda (PCP, BE, PEV e PS) uniram-se e formaram acordos para criar condições de estabilidade e governabilidade (que terão de ser agora provadas na prática durante os 4 anos da legislatura).

Em suma, a direita reuniu 38% dos votos (logo, 38% dos deputados) e a esquerda 62% dos votos (e como tal, 62% dos deputados). Sendo 62 um número maior ou igual a 50+1, verifica-se uma maioria absoluta da esquerda em apoio parlamentar.

E a pergunta que se coloca agora é: Mas porque é que estás a falar disto outra vez Pedro? Simples. Porque a melhor forma de mostrar o que acima escrevi, é verem o que se passou hoje no parlamento.
Quando a esquerda apresentou uma moção de rejeição a um Governo de direita, essa moção foi aprovada. Hoje, a direita apresentou uma moção de rejeição a um Governo de esquerda, e foi rejeitada.

Perceberam a diferença?

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Orçamento... Quem fez o quê e quando?

A pergunta que serve de título a este artigo, a meu ver, só terá peso mediático daqui a uns meses, depois do orçamento já estar aprovado e em prática.

Hoje, o dia parece estar marcado com a elaboração do Orçamento de Estado para o próximo ano. António Costa sempre defendeu, e tem defendido por estes dias, que haver orçamento apenas em Março, não parece razoável. E não o é. Porque a verdade é que o país entrar no próximo ano sem Orçamento para o mesmo é uma situação gravíssima, repito, gravíssima para as nossas contas públicas. O preço a pagar por essa demora, é governar por duodécimos, Ou seja, tendo por base o que foi gasto no igual período do ano anterior e não podendo ultrapassar. Ou seja, na prática, governar com o mesmo orçamento que em 2015. Ninguém o quer, penso.

Segundo notícias, nomeadamente do público, Mário Centeno ouviu dos seus parceiros europeus que poderá ser entregue apenas em Janeiro o primeiro rascunho do OE para 2016. Isso cria, naturalmente, algum alívio no governante, mas mantém o problema que eu em cima referi, entrar em 2016 sem o devido orçamento. O agora ministro das finanças já tinha dito que o orçamento para o próximo ano seria entregue o mais rápido possível. Agora, só ninguém sabe qual é a data a que se referia porque provavelmente nem o próprio a sabe.

Este Governo já mostrou estar preparado, que fez o trabalho de casa. Não estou a dizer que fez um bom ou mau trabalho, atenção, mas que o fez, isso fez. Foi em tempo recorde, diria, que foi apresentado um Governo ao Presidente da República (para além de ser o mais inclusivo que qualquer um terá memória). O Programa de Governo começa a ser discutido amanhã no Parlamento. Como vemos, a celeridade, por estes dias, é a palavra chave do novo executivo.

Ora, tendo em atenção os aspetos referidos neste artigo, não parece claro que se o Governo teve de pedir às Finanças novos elementos das contas públicas, é porque este trabalho não estava feito? Principalmente se recuarmos no tempo e nos lembrarmos que o anterior executivo não apresentou qualquer esboço na comissão europeia porque não estava esclarecida a situação política nacional.

Faço aqui um pedido aos nossos políticos, de todos os partidos: vamos deixar o diz que disse e o fui fiz isto e vocês aquilo?

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sobre o novo Governo

Tal como escrevi ontem ao final do dia, hoje seria de esperar que Cavaco Silva indigitasse António Costa como Primeiro-Ministro de Portugal. Ora, aconteceu mesmo, e ainda hoje ficamos a conhecer o novo elenco governativo.

Para o novo Governo, temos o regresso do Ministério da Cultura (sim, eu sei que o Governo que não o chegou a ser na prática de Passos Coelho também tinha novamente este ministério, no entanto, todos sabemos que foi promessa do PS o regresso desta pasta) e também o regresso do Ministério do Ensino Superior, que teve como figura Mariano Gago.

Outro ponto positivo que vejo neste Governo é o surgimento de alguns outsiders da política, pessoas vindas das universidades e grandes instituições, como por exemplo Tiago Brandão Rodrigues e Mário Centeno.
Mas este último Governo, aquele que perdeu as eleições dia 4 de Outubro, mostrou-nos que nem sempre estas surpresas são eficazes e eficientes, mas vamos acreditar que foi uma exceção apenas.

Eventualmente, poderão dizer que temos agora como ministros caras que eram já de outros Governos e que soam a nomes de sempre, nomeadamente dos Governos de Sócrates e das fileiras mais vincadas do PS, como por exemplo Augusto Santos Silva e João Soares. Porém, são duas pessoas que deram provas que são capazes de assumir responsabilidades desafiantes e fazer um bom trabalho.

Para finalizar, duas notas. Primeira é que temos no Governo uma ministra com origens Vilacondenses, falo de Constança Urbano de Sousa com a pasta da Administração Interna e a segunda nota é que tenho uma meia dúzia de nomes nos quais deposito muita esperança, e obviamente expectativa para ver o seu desempenho nas novas funções pela minha admiração por eles, nomeadamente: António Costa, Augusto Santos Silva, Mário Centeno, Pedro Nuno Santos, Manuel Caldeira Cabral e Tiago Brandão Rodrigues.

De Cavaco Silva até ao Novo Banco. Uma viagem curta

Para mim, hoje foram duas as noticias que marcaram o dia.

Primeiro, e logo pela a manhã, Cavaco chamou Costa a Belém, não para o indigitar, mas para lhe pedir mais esclarecimentos. Ora, vistos os esclarecimentos que pediu, mais não era do que o pedido de formalização e responsabilização da postura do PS e nomeadamente de António Costa perante aqueles 6 pontos, que estavam, diga-se, quer no programa do Partido Socialista, como também tem sido largamente explicado pelo líder socialista, e outros responsáveis deste partido em entrevistas e declarações.
Porém, e tendo em conta que estamos a falar do ainda Presidente da República Cavaco Silva, até que entendo o que fez e pediu. Sim, a mim não me escandaliza nada que o tenha feito. A partir do momento em que indigitou Passos Coelho, já sabendo que este seria chumbado, se sabe que Cavaco Silva tentaria, até à 25ª hora evitar aquilo que é inevitável, que António Costa venha a ser Primeiro-Ministro. E este pedido de esclarecimentos, para mim, não é mais do que uma pré-indigitação, mas também um pedido de uma folha que mais tarde seja utilizada como escudo contra qualquer acusação que a direita possa fazer ao PR de ter empossado a esquerda.
Certo é que Cavaco Silva tem ainda uma veia imprevisível, mas penso que amanhã, dia 24 de Novembro, tenhamos a indigitação de António Costa.

A outra notícia é o despedimento de 1200 funcionários do Novo Banco. Desde o dia em que esta solução, muito pouco clara, diga-se, para o BES foi encontrada, que eu desconfio da sua eficácia e eficiência. Senão vejamos. Primeiro, temos uma solução que não iria ter qualquer custo para os contribuintes. Ora, nos dias de hoje, e no nosso sistema bancário, dar uma garantia destas, é demagogia, mas quando existe uma capitalização por parte da Caixa Geral de Depósitos (maioritariamente estatal) no Novo Banco, este risco para os contribuintes torna-se inevitável. Depois, mais tarde, já seria preciso mais capitalização, e aí já seria possível prever alguns encargos para os contribuintes, ou seja, foi fazer o primeiro passo novamente, mas sem mentir, totalmente, aos portugueses. E agora, um despedimento coletivo de mais de 1000 funcionários.
O mais engraçado de tudo, é que os media, ao darem a notícia, mostram o exemplo do BBVA, que despediu no ano passado cerca de 150 funcionários (reparem na diferença) e obteve um lucro de 1M de euros com essa "manobra laboral". Ou seja, a noticiar como algo positivo. E enquanto forem pessoas despedidas para colmatar erros de gestão, o país não pode avançar. Seja ele qual for.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A semana de Cavaco Silva

É extraordinário o que o nosso Presidente da República, que é só o chefe de Estado, está a fazer esta semana.

Lembram-se de no passado dia 5 de outubro não ter participado nas comemorações por causa do momento que exigia reflexão? Então e esta segunda e terça? Não exigiam reflexão também? 
A não ser que tenha ido até à madeira para refletir, fazendo dessa viagem um retiro espiritual, não vejo motivo algum para ter lá ido num momento em que a celeridade deveria primar.

Depois tivemos uma primeira declaração que foi no mínimo, incendiária. Recordar que teve 5 meses como Governo de gestão enquanto Primeiro-Ministro é quase tão bom como chamar piegas aos portugueses. E o que é que uma coisa tem a ver com a outra? O mesmo, o ignorar da situação que os portugueses se encontram e as consequências das medidas e decisões tomadas.

Mas o copo de água enche quando diz, num momento em que os portugueses ainda não viram os resultados da melhoria do estado das contas publicas, porque na verdade, essas não melhoraram. que existe uma almofada financeira substancialmente melhor que em 2011, e que nem diz o quanto tinham os nossos cofres por tão pouca que era a quantia. Ora, primeiro ponto, se não fosse uma quantia baixa, não teria sido necessário pedir auxílio externo. Ponto número dois, é suposto ser o nosso chefe de Estado a alarmar? A gerar desconfiança? A lançar o medo? A lançar a preocupação? E por fim, terceiro e último ponto, o Primeiro-Ministro de então não se reunia semanalmente com o Presidente da República? Não havia uma prestação de contas constante? Todas as leis não foram aprovadas pelo crivo do Presidente? Ora, o Presidente não tem aqui responsabilidades? 

Agora, o copo transborda quando coloca a audição de banqueiros e economistas (segundo a capa do jornal i de hoje, são todos contra um Governo PS, ou seja, em Belém prima a pluralidade) à frente da audição dos partidos com assento parlamentar, ou seja, os eleitos e quem representa o povo.

Mas este artigo termina com uma boa notícia. Dia 24 de Janeiro, ficou hoje a saber-se, iremos ter as eleições para eleger aquele que terá a espinhosa tarefa de voltar a dignificar o mais alto cargo da nossa democracia.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Existem dois silêncios que não deviam existir...

Por estes dias, existem dois silêncios significativos. Duas vozes que faziam falta a todos nós ouvir.
Um não fala porque, infelizmente, já não está entre nós. O outro, não fala porque, talvez, não lhe convém.

Falo de Miguel Portas e Marcelo Rebelo de Sousa.

Esteja onde estiver, Miguel Portas há-de estar contente com o que se está a passar no nosso país. Um dos seus sonhos, ver a esquerda unida, está agora a ganhar um formato que talvez até o próprio o tivesse numa gaveta rotulado de “utopia”, ou na melhor das hipóteses, rotulado como “longínquo”. Miguel, que foi um dos fundadores do Bloco, daquele Bloco que sabia o que queria, ao que vinha e que caminho não queria seguir. Era um daqueles intelectuais que hoje faz falta, e muita falta fará amanhã. Depois de um período menos feliz do Bloco de Esquerda, em que perdeu metade dos seus deputados e teve uma liderança sem liderança, ao longo da passada legislatura (perdão, da XIX legislatura, porque entretanto houve outra), esteja onde estiver, Miguel vê o seu partido reencontrar-se e tornar-se um partido de apoio ao Governo, e não apenas um partido de protesto, como foi o PCP ao longo de 40 anos. Aconteça o que acontecer, esse mérito ninguém tira a Catarina Martins, foi capaz de, com o mesmo número de deputados que anos a fio o PCP contou, fez muito mais do que o PCP durante anos fez. É certo também que, sem a postura do PCP, Catarina não faria nada disto, nem tão pouco António Costa, mas estou aqui para relembrar o Homem que, esteja onde estiver, está orgulhoso, certamente.

O outro silêncio que, a todos nós nos diz respeito e devia já ter tomado uma postura, é o de Marcelo Rebelo de Sousa. Sim, estou a falar daquele indivíduo que, semanalmente, falava para mais de 1 milhão de pessoas sobre tudo e mais alguma coisa, do desporto, especialmente futebol aos livros, de promover atividades associativas à política, Marcelo tinha sempre uma palavra a dizer. Fosse essa palavra a favor ou contra o seu próprio partido. Fosse essa palavra a favor ou contra o Presidente da República, de quem é conselheiro. Fosse essa palavra a favor ou contra o Primeiro-Ministro, por quem nunca morreu de amores (e vice-versa). Lá estava, domingo à noite, ano após ano, o seu comentário, as suas audiências, a sua popularidade. Li por estes dias num artigo de opinião e concordo plenamente: é certo que Marcelo não é hoje comentador mas sim candidato, mas também é certo que foi a atividade de comentador que o colocou na posição favorável que hoje se encontra como candidato a Presidente.


Pelo menos eu, gostava de ouvir qualquer coisa, quer de Miguel como de Marcelo. São dois silêncios que não deviam existir.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A TINA não mora em Portugal

Ao ler o Expresso Curto de hoje, senti uma enorme satisfação por ter votado numa das forças que ontem derrubou o Governo de direita. Segunda esta newsletter, a imprensa internacional destaca o facto de a esquerda se ter unido para por termo à austeridade.
Que melhor expressão para noticiar o que ontem se passou?

Claro que, muitos meios de comunicação social portugueses tentam vender a ideia de que poderemos tornar numa Grécia com crise política profunda, tentam não olhar tanto para exemplos de países europeus onde quem governa não é quem venceu as eleições. A Dinamarca por exemplo, que todos idolatram o seu estilo de vida, é um desses países!

António Costa afirmou logo, no seu discurso de derrota, sim, porque o PS perdeu as eleições, não as venceu, não foi capaz de capitalizar os votos de desagrado dos eleitores descontentes, que não contribuiria para uma maioria negativa, ou seja, só não faria passar o programa de Governo se tivesse consigo uma alternativa. Ora, acontece que essa alternativa foi, finalmente, construída. Não foi o PS quem venceu as eleições, não nos iludamos, mas foi sim a esquerda, e a esquerda soube ler esse resultado. Quem votou no BE e no PCP, para além dos seus votos mais fieis, são eleitores que não viram no PS, por si só, a capacidade de capitalizar o seu agrado. Ora, a haver um acordo entre os partidos de esquerda, o PS sabe que tem de com estes negociar, chegar a consenso, mas... quem não teria?

Creio que muito políticos e pseudo-políticos e aspirantes políticos ainda não perceberam uma coisa. A política hoje já não se faz como nos anos 90. Já não é uma t-shirt e uma caneta que influenciam um voto. As pessoas querem políticas reais, querem qualidade de vida, querem futuro para os filhos, querem estabilidade para as suas reformas, querem políticas sociais, querem um sistema de educação eficiente, querem um acesso à saúde sem olhar a carteira, querem uma justiça justa e imparcial. Aquele político que ainda pensa que basta aparecer nos 6 meses antes das eleições, pode bem tirar o cavalinho da chuva.
Ao fim e ao cabo, este Governo, com a ajuda de Cavaco Silva, fez prolongar as eleições para depois do verão na expectativa de obter um bom resultado com propaganda e populismo de chinelo no pé, mas a verdade é que 700 mil eleitores não se esqueceram de retirar a confiança que tinham depositado em 2011, e esse foi o verdadeiro fator decisivo no dia 4 de Outubro.

Hoje, em todo o mundo, Portugal é notícia porque a esquerda se uniu para derrotar a austeridade, e isso é que é factual.
Existe uma alternativa, e resta a Cavaco Silva permitir que ela seja posta em prática.
A TINA (There Is No Alternative) não mora em Portugal.


Chegou ao fim a aventura da austeridade.

Já estava anunciado o fim a um Governo de Passos e Porta, mesmo antes das eleições.
Uma vez consumado o resultado eleitoral, a sua vitória como força mais votada apresentada a eleições, verificou-se que o inédito estava a acontecer. Nunca na nossa história um partido venceu as eleições sem que a sua "ala ideológica" a vencesse também, isto é, os governos com maioria relativa tiveram sempre do seu lado (esquerda ou direita) a maioria dos votos. 2015 mudou este paradigma. Pela primeira vez, a coligação de direita venceu mas foi a esquerda que mais votos obteve. 

Esta foi e é a grande e significante diferença que até agora, muitos continuam sem perceber.

Hoje, na Assembleia da República, foi rejeitado e posto fim aquele que ficará na nossa história, como o Governo mais curto da nossa democracia. 11 dias apenas. Sim, 11 dias.

Restará agora a Cavaco Silva tomar uma decisão, sendo que não deverá adotar outro caminho que não a indigitação de António Costa  para Primeiro-Ministro.
O desafio é grande. A expectativa é enorme. Será um Governo que ficará, mais do que os outros, debaixo de fogo.

Houve um acordo assinado, histórico e que deixa a direita sem saber o que fazer ou dizer. O medo de que corra bem tem assombrado Passos e Portas.

Eu quero acreditar que correrá bem. Acredito em António Costa e nesta geração que o tem rodeado. Sem bem que o PS tem bons deputados. O PS prestará um bom serviço ao país. Essa é a minha crença.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Para aqueles que comparam os portugueses aos refugiados

Ando a ficar chocado e seriamente preocupado com o que tenho visto no Facebook e em muitas conversas de café e transportes públicos.
Não me refiro à possibilidade de um Governo de Esquerda, nem mesmo ao ignorar de 1 milhão de votos de Cavaco nem tão pouco por já ter passado quase 20 dias e Portugal não ter ainda apresentado um esboço do próximo Orçamento de Estado à Comissão Europeia, falo de algo muito maior, um problema que nos assombra a todos e cada um de nós, mas, por mero egoísmo ou pura e simplesmente xenofobia não vemos, ou não queremos ver e ficamos quietos, no nosso canto.
Pior, por qualquer um dos motivos acima referidos, temos atitudes desumanas, e publicamos com muito orgulho, através de post's, imagens comparativas ou outras, nas redes sociais, à espera de likes e partilhas. Que não passam de uma transformação de vergonha pessoal para vergonha coletiva por parte daqueles que alinham e alimentam estes comportamentos. Mas eu digo, desde já, comigo não contarão para essa causa de desumanização da nossa sociedade. E quando digo nossa sociedade, não falo apenas de Portugal, porque a verdade, a boa verdade, é que o mundo é muito pequeno, e a sociedade é global, e o problema de uns, são o problema de todos, quer queiramos ou não.

Acerca dos refugiados, para aqueles que não tinham ainda percebido o tema, é com muita pena minha que vejo e oiço pessoas a comparar a situação de portugueses à dos refugiados, que comparam a nossa cobrança de impostos para alimentar o nosso sistema de segurança social e Estado Social (RSI, reformas, SNS, Educação, ...) à de outros, que vivem em guerra, ditadura, desespero e fome. Sim, porque está é que é a verdade.

Muitos dos que hoje partilham essas imagens, procuram apoio social nas suas declarações populares e populistas, são os mesmos que em Setembro partilharam a imagem de um bebé, que sem culpa nenhuma foi privado de viver neste mundo.

Outro aspeto interessante, é pensar que vivemos na União Europeia. Quero com isto dizer que vivemos uma união de base solidária. Hoje, por força de alguns líderes que procuram asfixiar países mais vulneráveis para fazer esquecer a história, essa base solidária parece escondida em muitos aspetos, mas cabe à Europa dar resposta a esta crise humanitária, em centenas de milhares de pessoas arriscam a própria vida para terem a sua oportunidade de melhorar a vida neste continente, que nós, muitas vez desprezamos.

É importante ainda lembrar que, quando comparamos os portugueses a estes, estamos a comparar entre duas classes de sortudos, sim sortudos. Os portugueses porque vivem num país maravilhoso, que apesar de viver uma crise económico-financeira, tem todas as condições para se viver com paz, não se mete em conflitos maiores, não somos chamados a intervir em missões de guerra... Temos os nossos problemas claro, temos pessoas a passar mal, temos assimetrias que urgem em ser colmatadas, mas não somos a Síria. E os refugiados que os portugueses se comparam hoje em dia, são os sortudos que conseguiram entrar na Europa, atravessar o mar com vida, resistiram ao bombardeamento que houve à porta de sua casa, à perda dos que mais amavam, à fome... Enfim, a tantas outras calamidades.

Por favor, tenham noção do ridículo.

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

E o povo?

Nos últimos dias, tem-se discutido tudo e mais alguma coisa. Primeiro foi a derrota do PS e de António Costa, depois, foi a possibilidade de Governo e acordo à esquerda, depois foi quem iria Cavaco Silva indigitar para Primeiro-Ministro, depois foi o seu discurso, depois foi o que fará depois deste Governo cair, agora é os ministros escolhidos... Onde irá acabar estas grandes dissecações filosóficas?

Mas uma coisa eu não tenho ouvido discutir, que é porém, o essencial?
E o povo?
Sim, como fica o povo no meio disto tudo?

António Costa, por força da disponibilidade demonstrada pelo PCP e BE, entende, legitimamente, que tem condições para formar Governo, desde com um acordo que mostrou já ser possível.
Passos Coelho reclama a vitória como líder da força política mais votada, o direito a governar.
Os deputados é que vão decidir, porque nós, eleitores, votamos nos deputados, e serão estes que decidiram o nosso futuro, obviamente. Para aqueles que não votam, ou que utilizam o voto de forma infundada e desinformada, fica aqui uma lição destas eleições legislativas.

Mas não temos discutido o futuro da segurança social, não temos discutido o que poderá ser o OE para 2016, andam a entreter o povo com este impasse político, e a culpa tem um e só um nome, Cavaco Silva. Pode não ter sido dele a ideia de atrasar tanto, mas foi ele quem deu o aval. A ideia de marcar as eleições para depois do verão, serviu para o atual Governo ir ganhando uns meses, e poder maquilhar as contas públicas de forma a vencer. Objetivo: Ganhar as eleições. Check. Depois, um outro efeito era precisamente este, o que está a acontecer. Já repararam que, de um mês para o outro, todos os indicadores relevantes, aqueles que serviram de moleta retórica na hora de pedir esforços ao povo, voltaram aos níveis de 2011 ou pior? Ou seja, então para que serviu todo o aperto, sufoco e asfixia financeira, por via da austeridade que implementaram? Ou melhor dizendo, que povo é os nossos governantes beneficiaram? Não foi o português de certeza...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

PortugalCoup, Cavaco no seu melhor

Ainda estou para tentar perceber o que se passou! Estou de ressaca, como se diz na giria popular.

No seu discurso em que indigitou Pedro Passos Coelho, o Presidente da República acabou por se enredar nas suas exigências e próprio discurso que tem vindo a adotar. Mas prefiro destacar 2 pontos.


  1. Minutos antes do discurso, era expectável que Cavaco Silva indigitasse Passos Coelho, como tal acabou por acontecer. Em condições normais, o que iria entreter os comentadores e as hostes públicas, era o facto de não ter indigitado António Costa como Primeiro-Ministro, não dando assim ouvidos ao acordo que o líder do Partido Socialista apresentou ter, com garantias de estabilidade e condições de governabilidade. Acontece que não, o que acabou por ser notícia foi o conteúdo e principalmente o tom com que Cavaco Silva anunciou, não o facto de indigitar Passos Coelho, mas sim ter excluído de um acordo parlamentar a possibilidade de PCP e BE apoiarem um Governo do Partido Socialista. Ora, estamos a falar de cerca de 1 Milhão de votos que o nosso Presidente da República ignorou. Isto, por si só é gravíssimo. Tanto mais quando tinha, dias antes, pedido um entendimento. Quer isto dizer que se esqueceu de referir que esse acordo teria de ser obrigatoriamente com os partidos da coligação. Já para não falar da questão que se permanecerá com a expressão arco da governação, que é horrível em democracia.
  2. Um dos argumentos que Cavaco Silva utilizou foi a questão de tradição. O que aconteceu no passado dia 4, não se prende com tradição mas com inovação. Aconteceu algo que nunca tinha acontecido, isto é, a força mais votada não foi a que tinha a sua ala (esquerda ou direita) consigo, isto é, a força mais votada nas últimas eleições foi a coligação (de direita) mas foi a esquerda quem reuniu maior número de votos. Este facto dá azo a uma ampla leitura dos resultados, tal como temos visto nos últimos dias.



Neste fim de semana, e como rescaldo do discurso de Cavaco Silva, por esta europa fora, foram muitos os que opinaram acerca do que se está a passar em Portugal. Com a hastag #PortugalCoup , o nosso país andou nas redes sociais, e por aquilo que se pode ler, são muitos os que acham golpe de Estado Cavaco Silva ter ignorado o acordo à esquerda.

NOTA: Já que gostamos tanto de referenciar os países nórdicos, olhemos para a Dinamarca, que é governada por forças que não venceram as eleições. E era escusado terem tirado a série Borgen da RTP 2, onde o poder deste país é lá retratado.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Estamos a viver o início de uma nova era política

Por estes dias, e com recurso à nova tecnologia, tenho tido a possibilidade de "puxar" para trás a programação e ver, na RTP memória, a série Conta-me como foi. Começou a dar do primeiro episódio, novamente.

Esta série portuguesa, retrata Portugal no ano de 1968, narrada por um rapaz de 8 anos à época.
Já quando passou na RTP, era fascinado pela série, e confesso, tenho uma certa inveja positiva em relação aos que nasceram no início da década de 60, mais propriamente da minha mãe, que nasceu por esses anos.

Segundo o jovem ator, em 1968 nascia um novo tempo em Portugal, e poucos eram os que davam conta disso. A sua irmã já usava saias, para inveja positiva da mãe, o irmão no caminho para casa, cruzava-se com manifestações improvisadas e clandestinas, ele e os amigos trocavam cromos do coluna e outras figuras proeminentes do futebol de então, num descampado onde um camião abandonado era o cenário de tardes sem fim. O pai, acabara de comprar um televisor na noite de mais um festival da canção. Era então o início de uma nova era. A política estava a mudar, estava a nascer em Portugal, novos contornos e cenários até então colocados completamente de parte, ou mesmo proibidos.

Ainda bem que temos um serviço público de televisão que nos recorda, ou muitas vezes mostra pela primeira vez, como se vivia em Portugal antes de 1974.

E a esta hora já deverão estar a perguntar porque é que estou a escrever sobre este tema, que pouco mais poderá ter a ver com a minha atividade de zapping ou então com as horas de lazer frente ao televisor.
É que, em condições de cumprir com a sua palavra, Cavaco Silva indigitará António Costa como Primeiro-Ministro de Portugal, uma vez que este conseguiu reunir consenso e maioria parlamentar que garanta estabilidade e condições de governabilidade.
Ora, a ser assim, e mesmo que o Presidente da República não o faça, uma coisa é certa, esta é uma nova era na nossa política nacional.
Quero com isto dizer que, daqui a 40 anos, a RTP memória passará um novo conta-me como foi, a mostrar este mês de outubro de 2015.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

António Costa apresentou uma solução de Governo.

Hoje parece claro que Cavaco, em condições normais, terá de indigitar António Costa para ser o próximo Primeiro-Ministro de Portugal.

Dirão que esta é uma constatação nada surpreendente, tendo em conta o partido que tenho vindo a defender e o meu público apoio a António Costa, mas existem mais razões:


  1. Em qualquer país, é espectável que sejam empossados de Governo, aqueles que ofereçam mais e melhores condições de governar. Ora, parece-me claro. Principalmente quando em jogo podem estar o chamados "nervos de mercado", que como todos sabem, não sou nada de acordo em governar ou escolher quem se governa a pensar nos mercados e nas taxas de juro. Parece que, segundo o que António Costa disse e também Catarina Martins, existe da esquerda portuguesa condições de governabilidade;
  2. Tendo em conta que o nosso Presidente da República é Cavaco Silva, e que Cavaco tem pedido, desde 2013, acordos alargados e estabilidade entre os partidos, uma vez que se juntaram PS, PCP e BE, esse acordo e estabilidade está assegurado. Se olharmos para aquilo que foi a reação de Cavaco Silva às eleições, e o convite que fez a Passos Coelho para procurar acordos alargados e este ter falhado, parece ainda mais evidente que o mesmo não está em condições de formar Governo.
Veremos o que fará Cavaco Silva, mas uma coisa parece ser certa, ou indigita já António Costa para liderar um Governo de esquerda, ou então Portugal perderá tempo e arrisca-se a não ter um Orçamento de Estado a tempo do novo ano, o que seria gravíssimo para os portugueses.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Não, não o vejo como traidor!



É incrível como na política, aos olhos da opinião pública se passa de bestial a besta.

É o que aparentemente se passa agora com António Costa. A meu ver, injustamente.
Nestes últimos dias tem havido uma forte contestação ao líder socialista. Sobretudo nos artigos de opinião.

Muitos falam de sucessivas traições. Primeiro a António José Seguro, depois aos militantes do PS, agora traição à democracia... Enfim.
Para deixar claro, hoje, e com todas as consequências que isso pode ter no futuro, digo que não o vejo como um traidor.

Quanto ao suposto "assalto ao poder" no PS, vejo a disponibilidade de assumir a liderança naquela altura como resposta a sucessivos apelos para que António Costa fosse, efetivamente o líder. Esse "assalto" traduziu-se em primárias no Partido Socialista, em abertura a simpatizantes para escolher o candidato a Primeiro-Ministro e ainda numa clara vitória de cerca de 70% dos votos.
E quanto ao que se está a passar agora, o nosso Presidente da República continua a ter o poder de atuar, isto é, convidar alguém (Passos ou Costa) a formar Governo. Estas reuniões que António Costa tem mantido não são uma traição à democracia, basta para tal ler-mos a constituição ou sermos um eleitor informado para sabermos o que fizemos no dia 4 de outubro. Vejo estas reuniões como uma resposta ao que o PCP e BE iniciaram, vontade de dar resposta aos 62% dos votos.

E uma coisa sabemos, que afinal, existem condições para melhorar a vida dos portugueses e que o programa da PàF não é o único caminho.

sábado, 10 de outubro de 2015

Quando a direita mete medo e a esquerda se une.

Acerca da semana que passou, parece claro uma coisa: Costa quer, mesmo, fazer diferente.

Foi com muito agrado que vi Costa ter saído da reunião com a coligação e dizer que foi uma reunião pouco produtiva. Principalmente depois de 2 dias antes ter dito, após falar com Jerónimo de Sousa, que há espaço para fazer trabalho sério.

Esta é a maior prova de que, o partido charneira, está empenhado em dar resposta aos mais de 60% de eleitores que votaram numa política que não a dos últimos 4 anos.

Mas ao longo desta semana, tanto foi escrito. A direita, com medo da força do povo, está a continuar a fazer aquilo que fez na campanha, tentar assustar e meter medo aos cidadãos, dizendo que não há alternativa. O problema da direita, o seu verdadeiro problema, é que essa alternativa que dizem não existir, está mesmo a ser construída. E vai dar frutos, podem crer.

Quando lia, ao longo desta semana, comentadores escrever algo como: quem ganha tem de governar, ou que o PS uma vez vencido, tem de deixar outros governar ou ainda o mais espetacular, algo como se os portugueses quisessem que fosse António Costa a chefiar um Governo, teriam votado no PS. Eu relembro a todos estes, por essa ordem de ideias, que há 4 anos os portugueses deram vitória ao PSD, e que queriam que este partido governasse em diálogo com os outros partidos e com a sociedade, mas o que aconteceu no pós-eleições de 2011, foi que o PSD e CDS se coligaram, legitimamente, e governaram como quiseram, mesmo tendo perdido a legitimidade por força das políticas em vários momentos do mandato.
Por isso, a mensagem que quero transmitir é exatamente esta: deixem os partidos fazer o seu trabalho, e se desse trabalho resultar uma coligação à esquerda com condições de governabilidade, que seja. Escusam de ter medo, o povo é soberano.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Pós-eleições

Quero começar este artigo por felicitar a coligação Portugal à Frente, uma vez que foi a força política que recolheu mais votos.

Porém, este resultado não confere ao PSD e ao CDS uma vitória inequívoca. Isto porque perdeu a maioria absoluta que tinha no parlamento. E após 4 anos sem qualquer diálogo, será muito complicado agora para estes dois partidos ver qualquer proposta ser aprovada. A começar pelo próprio programa de Governo.
Logo, está tudo nas mão do segundo partido mais votado, o Partido Socialista.
Este, tem várias opções em cima da mesa. Pode juntar-se à esquerda para apresentar uma alternativa de Governo, pode aliar-se à direita para formar um Governo, tal como Cavaco Silva pretende e pode por fim, não optar por nenhum dos anteriores e apenas fazer oposição, viabilizando algumas propostas do Governo e juntando-se ao Bloco e ao PCP para bloquear outras.

No meio disto tudo, António Costa encontra a intenção da ala segurista em voltar a liderar o partido.
Mas esta questão será clarificada em congresso após as presidenciais, até lá, o foco está na formação de um novo Governo e na elaboração do Orçamento de Estado.

Voltando ao tema principal, a formação de um novo Governo.
A meu ver, não me parece nada viável que o PS forme Governo com a direita. De todas as hipóteses, esta é a que eu rejeito já neste momento. Para além de achar que se António Costa optar por esta via, perderá metade do seu eleitorado.

Porém, a opção de alargar o chamado arco de governação ao Bloco de Esquerda e à coligação CDU traz muitos riscos. O primeiro dos quais é não se saber a postura que estes partidos têm quando são Governo. Na oposição, têm muitas vezes a postura de se ficar a parte da mesa das negociações, tal como aconteceu com a Troika, e ainda existe outro fator relevante, que é a postura destes países perante o projeto europeu e o euro.

O importante, como eu tenho dito nos últimos meses e anos, numa coligação não é importante apenas e só quem a constitui, mas sim o seu conteúdo ou intenção. E não teria problema nenhum de conviver com uma coligação PS, CDU e BE, mas o propósito teria de ser criar emprego, dignificar as condições de trabalho e combater a austeridade. Esses são os ponto que unem estes partidos, e a coligarem-se, terão de se potenciar. 
António Costa foi bem claro, e tem todo o meu apoio quando diz que qualquer projeto que vá contra os 4 propósitos a que o PS se propôs, isto é, aumento do rendimento, dignificar o trabalho, uma postura ativa e forte na europa e apostar na educação, inovação e ciência. O PS, pela sua história e pela sua capacidade de diálogo, pelo seu líder e pelos votos que obteve, não deve sujeitar-se a pressões dos partidos à sua esquerda. A acontecer negociações com estes, deve ser o PS a liderar, e não a ser liderado.

Vejamos o que as próximas horas nos trazem, mas serão decisivas, certamente.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Final de campanha

Muito sucintamente, no domingo votarei no PS porque não aceito que um Governo que tratou os portugueses como tratou, possa vencer as eleições. Ou se acontecer, nao será com o meu voto.
Mas vou mais longe. Os jovens emigraram como não acontecia desde os anos 60. A austeridade foi aplicada em dose inacreditavelmente desumana, em nome de um defice e divida pública, que aumentaram ambos. O desemprego subiu e o emprego baixou. Mas não só baixou, como ficou mais precário. Os reformados que trabalharam uma vida a descontar, viram as suas reformas e pensões cortadas.
Mas não é só de motivos para não votar na coligação que falo. Existem razões pela qual voto PS, essencialmente porque acredito no modelo econômico que previligia o consumo como fator de dinamização, de criação de emprego. Só assim, poderemos melhorar a vida das pessoas. E em termos reais, nao estatísticos.
acredito tambem na saúde pública e na escola pública. Assim como na sustentabilidade da segurança social.
Outro fator relevante, e que deveria ser alvo de reflexão de todos, é o facto de termos um Primeiro - Ministro e seu vice recandidatarem-se, e sem teres a coragem de mostrar a cara nem apresentar um programa.
Por tudo isto, é que acredito que o voto útil faz sentido no Partido Socialista. Até porque, seria um desperdício não eleger António Costa.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Sondagens

Este ano, e talvez porque se tenha passado demasiado tempo a fazer tempo para as eleições, estamos a ter uma campanha rica em sondagens, tracking polls e estudos de opinião mais isolados.

Acabei agora mesmo de ler o artigo do Ricardo Costa, no Expresso Diário do dia 24 deste mês, onde apenas salienta duas ou três notas sobre sondagens em si.
Basicamente, os pontos que Ricardo Costa faz notar são os seguintes:

  1. Em 2011, os dois partidos da coligação obtiveram 50% dos votos, enquanto o PS conseguiu menos de 30%, o que demonstra que a direita teve uma queda abrupta, mas menos do que seria de esperar porque nunca perdeu um certo eleitorado, e que o maior partido da oposição conseguiu recuperar alguns votos e atingir assim o seu "teto". Mais, só através do voto útil;
  2. Este ano vão aparecer novas listas do que em relação a 2011. No entanto, e ao contrário do que se passou na Madeira e europeias, não deverão ter grande expressão eleitoral;
  3. Existir uma apatia enorme, que levará a maior resignação e abstenção;
  4. O PCP e o Bloco de Esquerda parecem estar afastados dos 20% juntos que se chegou a ponderar;
  5. Os tracking polls servem, e são utilizados à muitos anos pelos partidos, não como radar das intenções de voto, mas sim como GPS dos discursos que os líderes proferem.
Acontece que, e apesar de achar um excelente artigo para que o cidadão comum não deixe de participar ou se influenciar apenas pelas ditas sondagens, gostaria de completar o artigo com alguns exemplos da utilidade das sondagens.
Importa neste momento relembrar que, e como devem saber, eu sou muito céptico em relação às sondagens e à sua fiabilidade. Acho incrível como de 1000 pessoas, podemos retirar a fotografia de 10 milhões, mas a verdade, é que não costumam errar assim tanto... Ou costumam?

Acima foi dado o exemplo da Madeira, que pode ser também aqui utilizado. É certo que nas sondagens se previa uma vitória do PSD, só não se sabia se com maioria absoluta ou relativa, mas o que é certo é que ninguém previa tamanha derrota do PS nem que seriam 5 votos a decidir se o PSD governaria ou não com maioria absoluta. Sim, é importante relembrar que houve uma recontagem de votos, pedida aliás por todos os partidos e estariam em causa 5 votos, apenas 5 votos que puseram em risco a maioria absoluta. Lição a retirar? Todos, mas todos os votos contam.
Mas poderemos dar outro exemplo. Lembram-se de em Inglaterra, as sondagens dava empate técnico entre os conservadores e os trabalhistas? Algumas até colocava os trabalhistas à frente do partido de Cameron, e o que aconteceu? Cameron renovou a legitimidade, e com maioria absoluta. Lição a retirar? Mesmo com a sondagem de dia 2 de outubro, caso esta indique um empate técnico, poderemos assistir a uma vitória clara e esmagadora do PS ou PáF.

Para mim, a verdadeira sondagem é no dia 4 à noite, com os votos contados. Até porque, e é aqui que tudo se pode "jogar" desta vez, existem cerca de 22% de indecisos, que podem, perfeitamente, decidir o vencedor. E estes, só se expressarão no dia 4, através do voto.

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Porque nunca poderia votar na PáF


Lembro-me de, em 2011, quando os meus amigos e colegas de escola me perguntavam porque deveriam votar no PS, ou então qual a diferença entre votar PS ou PSD, eu na altura dava a resposta mais simples que tinha no meu cardápio: se não queres ficar sem escola e saúde, vota PS. Daqui, deve ler-se: Se não é objetivo ficar sem acesso a um sistema de ensino e saúde públicos, deve-se votar PS.
Infelizmente, não sei se com o contributo destes colegas e amigos ou não, mas a verdade é que o PSD venceu as eleições e coligou-se com o CDS para formar uma maioria parlamentar.

Quatro anos passados, não posso, com muita pena minha, admitir que errei.
Quatro anos depois, em relação à educação, tivemos anos escolares a começar com pior qualidade e com atrasos históricos (ano letivo anterior), colocações de professores que envergonham qualquer sociedade que se diga progressista e ainda o aumento das propinas no ensino superior. Isto já para não falar nas não contratações de professores, turmas cada vez maiores, encerramento de escolas, nas mobilidades especiais e nos exames criados.
Temos, sem dúvida alguma, um sistema de ensino muito pior do que o que tínhamos antes deste Governo tomar posse. 
Por outro lado, as nossas universidades fizeram da exportação a sua principal atividade, visto que depois de completar uma licenciatura, poucas são as hipóteses que restam a um jovem senão emigrar.
Eu tirei a minha licenciatura precisamente durante os anos de governação de Passos Coelho. Lembro-me que quando foi eleito, estava já em preparação para os exames do secundário. Por isso, senti bem a evolução negativa que foi levada a cabo por este Governo nesta matéria, principalmente no ensino superior. Mas houve uma área que me fez chocar. O desinvestimento na inovação e conhecimento é algo de abismal. Não consigo conceber que um Governo, numa sociedade que quer estar na vanguarda de tudo e de todos, não aposte no futuro. E o futuro passa, inevitavelmente, pelas universidades, pelo conhecimento e pela inovação.

Na outra matéria que falei em cima, como arma de arremesso por mim utilizada, é difícil saber por onde começar. Admito que também aqui o atual Governo não tenha sorte com as minhas experiências. Infelizmente, durante estes 4 anos tive de me deslocar várias vezes a diferentes hospitais, por diversos motivos e em variadas circunstâncias, e pois bem, cada vez pior. Se na educação, os rakings ainda "ajudam" o Governo, na saúde nem por isso.
Vi com os meus próprios olhos muitas pessoas que precisavam de uma cama no hospital por serem operadas no dia seguinte, e não ficaram internadas porque não havia cama disponível. As taxas moderadoras, duplicaram. Não vou falar das listas de espera, porque como se trata de saúde, um dia de espera para o que quer que seja, é demasiado. Mas o mais grave para mim, é o facto de termos vários enfermeiros a sair das nossas universidades, bem preparados, e a serem literalmente obrigados a emigrar, com trabalho reconhecido e condições de trabalho dignas, algo que não encontraram em Portugal. A consequência, para além do desperdício no investimento feito ao longo de anos, e de estarmos a ajudar a enriquecer outros países ou então ao facto de estarmos a fazer jovens emigrarem e desprenderem-se daquilo que lhes é familiar, temos a necessidade, equipamentos e infra-estruturas preparadas para fazer mais e melhores operações, mas não o podemos fazer porque não são contratados enfermeiros.

Por estas duas razões em especial, nunca poderia votar na PáF.
Brevemente escreverei porque votarei no PS.

sábado, 19 de setembro de 2015

Depois dos debates

Gostaria de começar este artigo, e até porque não escrevi durante algum tempo por isso mesmo, com uma nota muito breve em relação à experiência que vivi na Hungria. Tal como aconteceu na Moldávia, uma vez mais conheci um novo país para mim, com a oportunidade de aprender através da educação não formal, mas acima de tudo, a oportunidade de conhecer pessoas novas. Tenho a sensação de que, numa semana, fiz uma mão cheia de amigos para a vida. É sempre bom e gratificante enriquecer desta forma. Aconselho a todos procurarem informação sobre o programa Erasmus + e ver em que medida este se pode aplicar aos seus anseios, interesses e vivências.

Porém, quer no dia em que parti como no dia seguinte a ter regressado, Passos Coelho e António Costa tiveram dois frente-a-frente, através da televisão e rádio respetivamente. A meu ver, o líder socialista foi quem venceu os dois debates, e pela mesma razão, pela atitude que mostrou ter, porque o conteúdo, esse, tem sido apresentado ao longo dos últimos meses, de forma pausada e responsável. Não quero, contudo, deixar de salientar que a diferença ou margem de vitória entre Costa e Passos foi mais evidente no primeiro debate, aquele que registou o maior número de espectadores de sempre, com sensivelmente 3.4 milhões.

Eu não vou estar aqui, hoje, a falar do conteúdo e das políticas que António Costa apresenta, até porque me dedicarei a fazê-lo na rua nos próximos dias, mas também o farei aqui. Apresentarei aqui o porquê de votar no Partido Socialista no próximo dia 4 de Outubro.

Quem viu e ouviu os debates teve a oportunidade de constatar que o ex-autarca se encontra em melhores condições de governabilidade, e não o digo por ser um orgulhoso socialista, nem por andar nas ruas a defender e lutar por uma vitória eleitoral. Digo-o porque, sem margem para dúvidas, António Costa mostrou ter um conhecimento bem mais profundo e real da situação dos portugueses. Mostrou que tem uma alternativa, de confiança, na qual podemos votar, sem medos e receios.

Para além do mais, e voltando ao ponto em que destaquei a atitude como elemento decisivo nos debates, o líder do PS mostrou uma capacidade de se comprometer com os portugueses, sem entrar em promessas vazias e populistas e mais, conseguiu mostrar determinação e coesão nas ideias pelas quais se apresenta hoje, e isso, é muito importante no momento em que ponderamos o nosso voto.

Nos próximos dias, como disse, apresentarei as razões pelas quais vou votar em António Costa, mas agora, e para terminar, apenas relembro que vencer debates e estar ligeiramente à frente nas sondagens não é garante de uma vitória eleitoral. Os debates valem para mostrar e apresentar as propostas e os candidatos. As sondagens servem para... bem, devem servir para avaliar as intenções de voto, mas que se têm mostrado bastante ineficientes nos últimos atos eleitorais a que temos assistido. Por isso, dia 4, seja para votar em quem for, ou mesmo para deixar o boletim em branco, é importante não ficar em casa.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Amanhã será o dia...

Dentro de algumas horas, parto para a Hungria, Budapeste.
Não vou fazer, para já, voluntariado por causa da crise das migrações, mas antes participar num intercâmbio cultural no âmbito do programa Erasmus + .

Será, contudo, uma aventura. A minha expectativa à priori, é tentar perceber no terreno, como se vive um momento de tensões como este. Não deve ser fácil estar in loco, mas esse é o desafio.

Porém, e uma vez que este blog não se prende apenas com questões pessoais, tentarei com esta viagem, tal como aconteceu quando fui à Moldávia, perceber a situação política que se vive. A comunicação social faz-nos chegar um país de radicalismo à direita, com uma recusa quase total dos migrantes. Mas será que os hungaros pensam assim? Será que Viktor Orban representa o povo ou entrou no seu próprio mundo? Essa é a resposta que vou procurar.

Não obstante, e indo ao encontro do tema que nos juntará naquele país, tenho como objetivo mudar o meu estilo de vida, por um estilo de vida mais saudável e que me leve a evitar, ou pelo menos retardar aquele que parece ser o inevitável caminho de parte da minha família, que é a diabetes.

Por Portugal, ficará no mesmo dia, marcado como o ponto de viragem na campanha para as eleições legislativas. Falo, claramente, do debate que colocará frente a frente Passos Coelho e António Costa.

Quanto a este ponto, que acompanharei à distância, mas não descurarei a minha atenção de tal evento, estou confiante de que será um momento de afirmação do maior partido de oposição, que pretende dentro de um mês chegar ao poder, e mais importante ainda, chegar ao poder em condições de o poder exercer.
António Costa, quando se disponibilizou para assumir a liderança do Partido Socialista, tinha as espectativas altas, bem altas aliás. Amanhã, será o dia de afirmação.

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Pelos holofotes, o que não se faz

Aquilo que Paulo Rangel, no passado sábado, trouxe para os holofotes, tanto se aplica ao caso Sócrates como ao que envolve Ricardo Salgado, sendo certo que, a ideia era atingir o PS com a prisão do seu último Primeiro-Ministro. Mas, como até tem acontecido e continuará a acontecer, eu não farei qualquer comentário sobre esses casos.

Porém, não invalida o facto de eu me poder prenunciar no mau exemplo que o eurodeputado deu a uma plateia jovem.

Que o PS iria reagir a estes casos com a separação dos poderes em Portugal, como sendo uma característica essencial ao bom e normal funcionamento de um Estado de Direito Democrático, era quase óbvio. Que esta linha de defesa iria ser vista como fugir com o "rabo à seringa", também parecia óbvio. Que muitos iriam alegar se tratar de pura retórica e discurso vazio, também não é difícil. Acontece que, esse é o exemplo que se deve dar. Essa é a postura que se deve adotar. Estou, claro, a falar daqueles que têm um pingo de dignidade e dois dedos de testa.

Mas, para tentar silenciar e abafar uma boa semana política que o Partido Socialista, e nomeadamente António Costa tiveram, Paulo Rangel decidiu fazer da aula na Universidade de Verão em Castelo de Vide um palco de mediatismo barato e demagogo, onde tudo vale na política e não se tem o respeito pelas instituições que nos defendem e representam.

Talvez por ser filho de uma aposentada do Ministério da Justiça, tenho o enorme respeito e confiança que o nosso sistema judicial é ainda capaz de nos proteger e garantir os nossos direitos.

Por todas as críticas que Paulo Rangel ouviu, e que tiveram repercussões no ainda Primeiro-Ministro Pedro Passos Coelho por este não ter tido a coragem de dizer algo como: "Repudio e distancio-me de toda e qualquer tomada de posição que não assuma uma clara separação de poderes. Venha ela de onde vier." Bastava isto. Como dizia, o eurodeputado sentiu a necessidade de escrever este artigo no público sobre o episódio. Do qual destaco o seguinte excerto: A Universidade de Verão é a iniciativa mais consistente de formação política existente em Portugal. Um mérito quase exclusivo de Carlos Coelho. Não é um palco de “rentrée”, nem um comício e, muito menos, um festival ou acampamento juvenil."
Coincidência ou não, o tal acampamento a que se refere nas entrelinhas, Summer Camp da JS, que marcou a rentrée do PS, contou com elevadas prestações de ilustres oradores e foi uma excelente via de aproximação entre os candidatos a deputados e os mais novos, que estão hoje desacreditados da política, precisamente por causa de declarações e políticos como Paulo Rangel demonstrou este sábado ser.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Ensaio para dias 4 a 9 de Outubro... deste ano!



Tendo em conta dois artigos do jornal "i", ontem e hoje, sobre as presidenciais, mais precisamente aquilo que se passa do lado da coligação, parece evidente o interesse de 3 distintos potenciais candidatos. Marcelo, Santana e Rio. Qual deles avançará? Ou melhor, qual deles avançará com o apoio do PSD? O apoio será do PSD ou da coligação PSD/CDS e, consequentemente, o óbito oficial do CDS? E por fim, porque ainda não avançou nenhum deles? Vejamos a minha versão das respostas a estas perguntas...

Para começar, é importante neste momento esclarecer que Santana Lopes, atual provedor da Santa Casa da Misericórdia, tem manifestado publicamente interesse em candidatar-se a Presidente da República. Esteve, aliás, para avançar com o anúncio oficial em Março, mas decidiu recuar e adiar tal momento para depois das legislativas.
Rui Rio também já demonstrou disponibilidade para uma candidatura, mas deixou também pendente o anúncio. Em Maio, era dado como certo, agora, espera-se para depois das legislativas.
Marcelo, que avança e recua ao sabor do vento (em 2014 disse sentir-se excluido do perfil que Passos traçava à altura para um candidato PSD, na época, era aclamado Durão Barroso), mas nestes últimos meses, parece achar alguma graça à questão.

Qualquer um deles tem notoriedade suficiente para avançar com uma candidatura, mas ambos são das fileiras do PSD e nenhum quer daro "passo em falso, fatal para as suas aspirações políticas", como Carlos Carreiras defendeu ontem, também no "i". Pressões como estas, fazem passar tudo menos uma imagem de união e acalmia que querem fazer passar por aquelas bandas. 
Porém, a dúvida dentro do PSD em quem apostar parece ser entre Marcelo e Rio, uma vez que Santana Lopes não é muito acarinhado no partido laranja. Pelo menos o suficiente para lhe financiarem uma campanha como esta.
Nesse sentido, dou quase como certo o avanço, mal receba um cheque risonho, por parte do ex-Primeiro-Ministro. Principalmente se, a tal avanço, se verificar um duelo com Marcelo. É sabido de todos que não morrem de amores um pelo outro.

Feitas as contas, sobram então o mediático professor de direito e o ex-autarca da cidade invicta, que devem conhecer o seu futuro como candidatos dependendo do resultado da coligação para que, PSD ou PSD/CDS decidam apoiar um ou outro. Sim, porque parece que o CDS deixou de existir, desde que foram juntos às europeias, que não querem outra. Pois bem, creio que as presidenciais serão na mesma linha, até porque CDS não parece ter nenhum presidenciavel claro.

A meu ver, se a coligação vencer as eleições, Rio poderá sorrir para Belém. Se a coligação perder, terá necessidade de apresentar um candidato que garanta um resultado positivo, ou muito próximo disso, e nesse jogo, Marcelo ganha claramente vantagem sobre o portuense. Porém, nem tudo são más notícias para Rio, que vê a porta da liderança laranja escancarada.
Tudo somado, o que eu gostaria que acontecesse, e que acredito que aconteça, é o PS vence as legislativas, apoia Sampaio da Nóvoa para Belém, Passos demite-se, Rio corre para a liderança do PSD e este apoia Marcelo, que vai ver Santana Lopes a candidatar-se como independente. 

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Votarei Sampaio

Nesta Silly Season, e depois da primeira rentrée, no Pontal, o tema Presidenciais e as candidaturas a cada semana (muitas vezes mais do que uma por semana, mas enfim) voltaram.

O problema é que desta vez, parece ser uma dor de cabeça para o PS e para António Costa. Maria de Belém pretende candidatar-se, e segundo as notícias, tornará a candidatura oficial no dia 5 de Outubro, dia logo seguinte ao das eleições que, provavelmente, tornarão António Costa Primeiro-Ministro. Problema ou mesmo solução. 

É importante ter em conta que, em eleições presidenciais, as candidaturas são individuais e não de partidos, e que existem duas voltas, se não se verificar uma maioria absoluta na primeira mão. Com tantos candidatos (já vão 16) e com 3 potenciais candidatos à direita (Santana, Rio e Marcelo), duvido que algum consiga uma maioria absoluta logo no primeiro ato eleitoral.
Devo salientar que, não sou contra o surgimento de tantas candidaturas, é bom ver tanta vontade de tomar iniciativa e marcar pela diferença.

Porém, e aquilo que tem sido (demasiado) debatido, é a batalha Sampaio da Nóvoa vs Maria de Belém. Maria de Belém é socialista, foi presidente do partido, assumidamente mais próxima da ala segurista do maior partido da oposição e tem, devemos dizê-lo neste momento, também muito valor enquanto candidata a este cargo. Tem uma vida dedicada à cidadania e à comunidade.
Mas inevitavelmente haverá mais uma divisão de votos dentro do PS, um recolhe o mediatismo necessário, conhecimento político inquestionável e muitos e importantes apoios. O outro espelha a vontade que tem vindo a ser manifestada de dar protagonismo a cidadãos não provenientes das escolas partidárias, conhecimento profundo da nossa sociedade e intelectualmente muito bem preparado, para além do apoio dos anteriores Presidentes da República (Eanes, Soares e Sampaio).

Como aspirante político assumido que sou, e porque a coerência deve ser uma constante em qualquer cidadão, não é pelo facto de eu ser militante da Juventude Socialista que deixarei de assumir, publicamente, o meu apoio a Sampaio da Nóvoa.
Por isto mesmo, votarei Sampaio.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

PS na mira

Com a política a meio gás, uma pré-campanha ainda sem grande força por parte dos dois principais partidos e com o Parlamento de portas fechadas, o Partido Socialista é, por força da sua grandeza, por ser o principal partido da oposição e muito provavelmente o partido que vai vencer as eleições legislativas, é a mira de todos.

O problema é que, quando digo todos, é todos mesmo. Isto é, depois das infelicidades cometidas na última semana, ouvem-se, obviamente, criticas dentro do próprio partido.
Como é que é possível que, pessoas com mais anos de experiência política, nomeadamente campanhas eleitorais, do que eu de idade cometam erros como os que foram cometidos no caso já conhecido de "Cartazgate".

O PS, que tem sistematicamente pedido maioria absoluta e confiança aos portugueses, vem nesta altura do campeonato, cometer erros que são inaceitáveis e que revelam falta de experiência, quando experiência é o que não falta!

No entanto, e porque a forma como resolvemos os problemas é talvez mais importante do que os problemas em si mesmo, o maior partido da oposição responde com a nomeação de um jovem, da ala "jovens turcos" para diretor da campanha, falo de Duarte Cordeiro (secretário-geral da JS quando me tornei militante). Num claro sinal de mudança e regeneração que a política precisa e mais importante do que isso, é a demonstração de que os jovens, nomeadamente os jovens que compõe ou compuseram num passado recente a organização de juventude, no caso, a Juventude Socialista, não servem apenas para agitar bandeiras e entregar flyers em períodos de campanha. É também o reconhecimento da qualidade de formação política e do papel que a Juventude Socialista tem vindo a desenvolver em prol de uma democracia mais qualificada e acessível a todos. Este é, aliás, o principal motivo, paralelamente à crença política que tenho, de ser militante desta jota, que em nada me envergonha mas que em tudo me orgulha.

Acredito que, agora e mais do que nunca, estaremos no rumo da maioria. Uma nova página se vira na campanha que, ainda está por começar verdadeiramente.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Com que direito?

Estamos em final de legislatura. Durante 4 anos, Pedro Passos Coelho, Primeiro-Ministro, não se deslocou uma única vez à Madeira. Depois da saída de Alberto João Jardim do poder e a entrada do seu sucessor, o nosso PM já lá foi 2 vezes.
Pois bem, nada estranho. Mas o que me leva a escrever este artigo é a vontade expressa pelo Governo regional de ver aprovado um novo regime fiscal para aquela região, e ao que parece, tem já o aval de Passos Coelho.
Ora, esta manobra em cima do joelho não é mais do que populismo barato.

Porém, mesmo em pré-campanha ou não, quando se é Primeiro-Ministro de um país, é-se de todo o país, e deve-se lutar pela equidade e pela coesão territorial, pela redução de assimetrias e pela plenitude do usufruto de todos os recursos que estão disponível.
E a pergunta que eu faço é: Com que direito? Com que direito os madeirenses devem ver aprovado um novo e exclusivo regime fiscal? Todos sabemos que na região da Madeira existem já significativas diferenças fiscais que ajudam a colmatar as dificuldade de não estarem no continente.
Com que direito deverá ser aprovado um novo e favorável regime fiscal aos madeirenses, quando ainda tanto falta fazer no continente em matéria fiscal? Porquê só na Madeira, e não se fala nos Açores? Estaremos perante o favorecimento de alguns em detrimento de outros? Parece-me óbvio que sim.

Por que razão, 267 mil habitantes deverão ter benefícios fiscais, quando os 3,7 milhões de habitantes do norte têm sentido de forma mais aguda a crise? Em termos de PIB per capita, e comparando com a média europeia, a Madeira situa-se nos 74%, enquanto no norte se fica pelos 64%. Estamos a falar de 10% de diferença bastante significativa!

Para que fique claro, eu não sou contra benefícios fiscais, sou contra se beneficiarem uns, e outros ficarem esquecidos!
Nós não podemos admitir tal situação e ficar calados. Temos de, todos, reivindicar por um país mais justo socialmente, e não me parece que, com o atual cenário economico-social do país, haja necessidade de beneficiar ou rever o regime fiscal madeirense.
Acerca deste tema, e alguns dados deste artigo, vale a pena ler o que foi hoje publicado no JN por José Mendes. 

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Por acaso foi ideia minha


Quando vi esta imagem, publicada no The Guardian, a propósito da posição que os diferentes países da eurozona adotaram em relação à possibilidade da Grexit, ainda não tinha ouvido o nosso Primeiro-Ministro dizer que foi através de uma ideia sua que o último bloqueio que prendia o terceiro resgate à Grécia foi efetivamente desbloqueado, e já torcia o nariz. Então agora, bem, nem se fala!

Preferia ter visto o nosso Governo alinhar com a Espanha, Luxemburgo, Itália e França numa postura de evitar a saída da Grécia a todo o custo. Mas não, parece que, segundo este gráfico, fica num meio termo, e segundo muitos relatos, inclusive de Varoufakis, Portugal foi dos que fez mais pressão para que a Grécia não tivesse mais "regalias".
É importante hoje não nos esquecermos que, logo em Janeiro, quando Varoufakis e Tsipras ainda nem tinham aquecido a cadeira, Maria Luis Albuquerque foi então ter com o ministro das finanças alemão e pediu que fosse muito duro para com estes.
É também importante relembrar que internamente, fomos nas medidas adotadas, bem além da troika, o que espelha bem aquilo que este Governo pretende fazer das finanças públicas do nosso país, imaginemos então o que prefere em relação às dos outros!
Outro facto importante, é ter em conta que estamos em ano eleitoral, e que por isso, convém passar uma imagem de inclusão, mas na realidade, o que pretendem é um acordo mau para os gregos, para terem a bandeira de "olhem para a Grécia e vejam que não há caminho senão o da austeridade".
Porém, a resposta do Governo grego foi superior e não aceitou essa austeridade chantagista e perguntou ao povo, e o povo disse que não.
Agora, a imprensa internacional e portuguesa fazem passar a imagem de que o que foi aceite pelos gregos é ainda pior do que referendado. Eu não me acredito nisso, mas mesmo que assim fosse, sabem o que me faz lembrar? Aquele PEC IV que foi chumbado e depois veio o memorando... Exatamente igual!
É incrível o aproveitamento político, ridiculo até, que o nosso Governo faz desta situação toda.

Para finalizar, e para grande satisfação de todos nós, e mesmo para salvação do euro e da europa, existe um Pedro, que não eu, espécie de D. Sebastião que 17 horas depois de longas negociações, e 6 meses de dias decisivos e cimeiras importantes, teve a ideia e resolveu tudo.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

O papel dos media na democracia também passa por aqui

Existem dois temas que eu gostaria de escrever hoje, são eles as recentes sondagens (intercampos e eurosondagem, tornadas publicas ontem e hoje respetivamente) e também a entrevista que António Costa deu ontem na TVI/TVI24.

Porém, debruçar-me-ei apenas no segundo tema, uma vez que, como todos sabem, sou muito cético em relação ao resultados das sondagens, isto é, serão elas encomendas ou são genuínas? Depois do que se passou em Inglaterra, que credibilidade têm as sondagens? Depois do que se passou na Grécia com o referendo, que credibilidade têm as sondagens? E mesmo estas duas que acima referi, que dão resultados diferentes e o período de realização das mesmas é muito similar. Enfim, como todos sabemos, a verdadeira sondagem é na urna, através da contagem dos votos efetivos.

Não sei se tiveram a oportunidade de ver, mas se não tiveram, puxem a emissão para trás ou então procurem no site da TVI ou até no Youtube, mas vale mesmo a pena ver a entrevista que António Costa deu na TVI ontem. É longa, é certo, até porque se divide em duas partes, sendo que só a primeira tem cerca de uma hora. Eu não vou discutir aqui o conteúdo, apenas e só. Para sintetizar  o que acho em relação ao conteúdo, foi muito bom ver o candidato a primeiro-ministro pelo Partido Socialista a, em mais do que um momento, assumir pessoalmente compromissos sociais, pelos quais se tem batido até hoje. Mas melhor ainda foi ter ouvido António Costa a disponibilizar-se para fazer um programa daquele género anualmente, para comparar aquilo que disse ontem e aquilo que, periodicamente for ou não fazendo, para ser ir avaliando o grau de cumprimento do programa do PS.
Uma vez mais, António Costa demonstrou que valeu a pena ter avançado com a disponibilidade de liderar o partido do largo do rato.

O que é certo é que, com o formato desta entrevista, a nossa democracia e proximidade entre eleitor e eleito aumenta de forma substancial, e mesmo a participação cívica e principalmente, a prestação de contas, sendo esta última, a meu ver, essencial para o bom funcionamento da democracia.
Basicamente, António Costa esteve numa primeira fase frente-a-frente com Judite de Sousa que tinha sentada atrás de si alguns espectadores que foram fazendo perguntas ao longo do programa a António Costa. A pergunta poderia demorar 1 minuto a ser colocada e a resposta tinha de durar 3 minutos no máximo.
No mínimo, um sistema inovador em Portugal e que, a meu ver, aumenta o nível de profundidade da nossa democracia. É também nisto que os media têm um papel essencial a desenvolver, promover momentos de qualidade.
Numa segunda fase, já com José Alberto Carvalho, num formato mais tradicional, respondeu a algumas perguntas.

Depois de se ter iniciado este caminho, não vejo razão plausível para que não se continue.
Depois de a nossa democracia sofrer avanços como tem sofrido desde as primárias no PS até ao sistema de eleição de candidatos a deputados do LIVRE/Tempo de Avançar, vejo com ainda piores olhos os nossos níveis de abstenção.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Afinal, nem o país está melhor!

Aquela incrível premissa de que o país estaria melhor mas os portugueses não, como se fosse possível desassorear os portugueses de Portugal, uma vez que Portugal se faz dos portugueses, mas adiante... Parece ter caído por terra.

Segundo a TVI 24, em notícia rodapé, seguem os seguintes dados económicos, noticiados como notícia de última hora:

  • Importações crescem 3,2%
  • Exportações crescem 1,8%
  • Balança Comercial Portuguesa agrave-se 967 Milhões de euros em 2014
Ora, cai assim por terra uma das grandes bandeiras deste Governo. Aquilo que era um grande esforço e tudo por causa das políticas deste Governo, que as exportações estariam melhor do que nunca e que a nossa balança comercial encontrava assim o equilíbrio desejado.

Não é com júbilo, antes pelo contrário, que escrevo este artigo.
Não é por ser o PSD e CDS que lideram o Governo que eu rezo para que a economia piore, antes pelo contrário, quero sempre que as nossas condições se melhorem, mas não podemos deixar cair em falácias.

Como poderão ver pelos dados acima, as importações cresceram mais do que as exportações. E importa tentar perceber porque, e não apenas explanar os números.
As exportações crescem quando produzimos mais do que o que consumimos, e assim, exportamos o excedente. Ou então, exportamos aquilo que não consumimos, quer seja em excedente ou não, de forma mais simples. 
Já as importações crescem quando consumimos mais do que produzimos, ou consumimos o que não produzimos e temos de procurar noutros países e importar.
Ou seja, quer nas importações como nas exportações, o consumo nacional está presente, assim como a nossa produção. Se no total existe um gap de 1,4% negativos, quer dizer o seguinte:
  1. Ou estamos com mais dinheiro para consumir e a nossa economia não produz aquilo que é necessário, ou seja, a nossa economia produtiva não acompanha aquilo que o mercado pede, e aí, importamos;
  2. Ou então continuamos a consumir o mesmo, ou até menos, mas a nossa produção baixou de tal forma que nos obrigou a procurar importar para satisfazer o mercado.
Agora, cabe a cada um de nós, olharmos à nossa volta e tentar perceber qual das hipóteses que coloquei acima se enquadra melhor com a realidade.

domingo, 5 de julho de 2015

Grécia. E agora?

Pelos vistos, ainda está por confirmar, mas o não deverá ter ganho o referendo na Grécia.

Se eu fosse grego, teria votado não. Por isso, estou feliz com o resultado.
Mas é ao mesmo tempo, uma sensação estranha. Sim, porque muita coisa agora está em aberto, inclusive a saída da Grécia da zona euro, que poderá até ser o mais provável, e é precisamente aquilo que eu não quero que aconteça.
Então, eu queria que ganhasse o não, e que a Grécia não saia da zona euro? Exatamente. O que eu quero, é que seja caminhado aquele caminho estreito entre a saída da zona euro, e a autonomia de um país, de uma nação, para poderem tomar as suas próprias medidas e políticas económicas.

O tempo não é de celebrações, mas sim de trabalho e consensos. E o ministro das finanças grego percebeu isso, ao ponto de ainda hoje, se reunir com os banqueiros e amanhã já estar sentado, novamente, na mesa das negociações.

Este resultado, e tendo em consideração o que foi sendo dito ao longo da semana pelos principais membros do Governo grego, apenas reforça a posição deste Governo, que agora não representa apenas as suas vontades (mais pessoais) mas sim a vontade de um povo.

Nunca ouvi Varoufakis dizer que não quer a Grécia na zona euro. Antes pelo contrário. Ouvi até, e foi curioso porque em Portugal a forma de fazer política é bem distinta, o ministro das finanças grego dizer que prefere cortar o braço a assinar um acordo que não fosse bom para os gregos! Apenas aqueles que têm um lugar na história, no lado certo junto dos heróis é que dizem isto. Por sua vez, e porque é importante não esquecer, ouvimos o nosso Presidente da República dizer que se a Grécia sair do euro, como somos 19, passam a 18. 

O que é certo é que venceu a resposta que coloca a Grécia mais perto da saída do euro. Se o sim tivesse vencido (é importante relembrar que ainda não sabemos o resultado final) teríamos amanhã um Governo demitido na Grécia e as instituições europeias a poderem continuar a controlar por completo o povo grego.

Agora, teremos duas grandes saídas:

  1. Ou os responsáveis europeus perceberam e sabem ler o resultado, e cedem nas negociações;
  2. Ou teremos um governo que não tem outra saída senão respeitar o que o povo quer, e romper com a zona euro.
A minha opinião sobre aquilo que vai acontecer é que, como na verdade ninguém com dois dedos de testa quer a saída de nenhum país da zona euro, as instituições europeias vão ceder no pouco que falta. Na verdade, não têm outra saída senão esta. Ninguém quer ficar com a batata quente na mão.

Ao contrário do que Passos Coelho tem dito, é óbvio que haverão ilações para Portugal. A começar pela possibilidade de o nosso Primeiro-Ministro vir a ser reeleito ou não. Caso as negociações entre a Grécia e as instituições europeias não cheguem a bom porto, ninguém calará Passos Coelho e Paulo Portas a dizer que não existe o caminho que António Costa defende. Caso se chegue a acordo, ouvirão, certamente, António Costa utilizar a Grécia como exemplo.

Os próximos dias sim, vão ser decisivos.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Não podemos ter os olhos tapados!

Enquanto andamos todos a discutir as questões gregas, que obviamente são do interesse de todos nós, e todos devemos defender aquilo que acreditamos em relação à continuidade, ou não, da Grécia na zona euro e mesmo na UE, outros assuntos devem ser igualmente esclarecidos dentro do nosso país. 
Falo das privatizações da REN e EDP, que ao que parece, não foram assim tão transparentes e claras como deveria ter acontecido.
Mas podemos também falar do BES, que afinal (como era óbvio à data), terá encargos para os contribuintes.

Mas vamos por partes.

Segundo o Tribunal de Contas, após uma auditoria feita à privatização da REN e EDP, detetou envolvimento de empresas consultoras, de amigos de Vitor Gaspar, que auferiram mais de 10 Milhões de euros em honorários (relembro que o Estado recebeu, na altura, cerca de 40 Milhões de euros pela venda da EDP). Outro facto importante, foi o facto de o Estado português não ter acautelado os interesses nacionais quando privatizou estas duas companhias (estranho não é?).

Enfim. Como se não fosse já suficiente, o que na altura foi uma grande bandeira deste Primeiro-Ministro, isto é, que a resolução do BES não teria encargos para os contribuintes, mesmo depois de a Caixa Geral de Depósitos ter injetado dinheiro no banco do regime, afinal agora não passa de uma falácia, ou até poderá a curto prazo, passar a mito urbano. O que é certo é que já se fala num encargo na ordem dos 9 Mil Milhões para os contribuintes. Bem mais do que custou a nacionalização do BPN, dos erros dos amigos deste Presidente da República e que José Sócrates, e o seu Governo decidiram nacionalizar para evitar o colapso bancário que poderia despoletar a falência do BPN.

Todos nós reconhecemos a importância de discutir o que se passa na Grécia, mas não podemos fechar os olhos aos enormes erros que este Governo tem cometido e que vão custar caro ao país.