sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Para aqueles que comparam os portugueses aos refugiados

Ando a ficar chocado e seriamente preocupado com o que tenho visto no Facebook e em muitas conversas de café e transportes públicos.
Não me refiro à possibilidade de um Governo de Esquerda, nem mesmo ao ignorar de 1 milhão de votos de Cavaco nem tão pouco por já ter passado quase 20 dias e Portugal não ter ainda apresentado um esboço do próximo Orçamento de Estado à Comissão Europeia, falo de algo muito maior, um problema que nos assombra a todos e cada um de nós, mas, por mero egoísmo ou pura e simplesmente xenofobia não vemos, ou não queremos ver e ficamos quietos, no nosso canto.
Pior, por qualquer um dos motivos acima referidos, temos atitudes desumanas, e publicamos com muito orgulho, através de post's, imagens comparativas ou outras, nas redes sociais, à espera de likes e partilhas. Que não passam de uma transformação de vergonha pessoal para vergonha coletiva por parte daqueles que alinham e alimentam estes comportamentos. Mas eu digo, desde já, comigo não contarão para essa causa de desumanização da nossa sociedade. E quando digo nossa sociedade, não falo apenas de Portugal, porque a verdade, a boa verdade, é que o mundo é muito pequeno, e a sociedade é global, e o problema de uns, são o problema de todos, quer queiramos ou não.

Acerca dos refugiados, para aqueles que não tinham ainda percebido o tema, é com muita pena minha que vejo e oiço pessoas a comparar a situação de portugueses à dos refugiados, que comparam a nossa cobrança de impostos para alimentar o nosso sistema de segurança social e Estado Social (RSI, reformas, SNS, Educação, ...) à de outros, que vivem em guerra, ditadura, desespero e fome. Sim, porque está é que é a verdade.

Muitos dos que hoje partilham essas imagens, procuram apoio social nas suas declarações populares e populistas, são os mesmos que em Setembro partilharam a imagem de um bebé, que sem culpa nenhuma foi privado de viver neste mundo.

Outro aspeto interessante, é pensar que vivemos na União Europeia. Quero com isto dizer que vivemos uma união de base solidária. Hoje, por força de alguns líderes que procuram asfixiar países mais vulneráveis para fazer esquecer a história, essa base solidária parece escondida em muitos aspetos, mas cabe à Europa dar resposta a esta crise humanitária, em centenas de milhares de pessoas arriscam a própria vida para terem a sua oportunidade de melhorar a vida neste continente, que nós, muitas vez desprezamos.

É importante ainda lembrar que, quando comparamos os portugueses a estes, estamos a comparar entre duas classes de sortudos, sim sortudos. Os portugueses porque vivem num país maravilhoso, que apesar de viver uma crise económico-financeira, tem todas as condições para se viver com paz, não se mete em conflitos maiores, não somos chamados a intervir em missões de guerra... Temos os nossos problemas claro, temos pessoas a passar mal, temos assimetrias que urgem em ser colmatadas, mas não somos a Síria. E os refugiados que os portugueses se comparam hoje em dia, são os sortudos que conseguiram entrar na Europa, atravessar o mar com vida, resistiram ao bombardeamento que houve à porta de sua casa, à perda dos que mais amavam, à fome... Enfim, a tantas outras calamidades.

Por favor, tenham noção do ridículo.

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