quinta-feira, 15 de março de 2018

Estão em sintonia

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Depois dos incêndios, muitos foram os que apregoavam o fim da boa relação São Bento - Belém - o mesmo é dizer entre Costa e Marcelo.

Pois bem, a verdade é que os tempos têm sido muito mornos politicamente em Portugal. Ou melhor, nem tanto a nível político, porque entretanto a direita está a arrumar a casa, com os seus congressos mais ou menos pop star, com banhos de mais ou menos ética. A temperatura está, digo eu, morna politicamente porque entre as ações do Governo e a atividade presidencial, nada vai correndo mal. E claro, em Portugal, a notícia é o que corre mal, nem tanto o que corre bem... não convém.

Este sábado, o Expresso noticia que o Presidente da República está a ponderar apertar o cerco a Rui Rio caso este tarde em fazer oposição ao Governo. Primeira questão: é o Presidente que tem de fazer oposição? O argumento até que não é inválido, ora o Presidente quer um Governo forte e uma oposição também ela forte. Todos reconhecemos, creio, o quão importante isso é para uma democracia funcionar bem.
E eu lia a notícia e pensava: bem, de facto já houve melhores dias para aquelas bandas. Mas não passavam de notícias. Nada de concreto ainda. Lá está, está tudo morno.

Ontem, também o Expresso, tem duas notícias em que eu tenho até dificuldade em perceber as diferenças reais. Marcelo está na Grécia. A Grécia está de saída dos programas de ajustamento que recorreu. Marcelo foi a Atenas dizer que podem contar com Portugal nesta altura decisiva da sua governação, até porque Portugal também passou pelo mesmo há pouco tempo. Certo, Sr. Presidente, mas Tsipras não é Passos Coelho. Fala-se da uma saída limpa. E eu pergunto: já se esqueceram dos momentos em que a Grécia entrava nas casas de todos nós, com manifestações e índices de pobreza? Parece que sim. Continuemos então.

Costa, por sua vez, foi discursar ao Parlamento Europeu e dizer que podem contar com Portugal. António Costa foi a Estrasburgo reivindicar uma Europa mais unida, mais coesa e mais igualitária. Propos um aumento de receita e disse desde logo que Portugal está disposto a aumentar a sua contribuição.

Em comum, para além do título das notícias, Costa e Marcelo mostram Portugal como ele é: um país responsável, organizado, economicamente a recuperar, com visão, europeísta e solidário.

Apesar de haver o que os separe, continua a ser muito mais o que os une.


segunda-feira, 12 de março de 2018

Na casa do vizinho... dois quarteirões ao lado

Falar do congresso do CDS-PP é, para mim, como falar da casa do vizinho.
Mas a verdade é que nem eu sou porta voz do PS e nem o PS e o CDS-PP estão assim tão próximos para serem verdadeiramente vizinhos.

Este congresso demonstra uma de duas coisas:
- Ou há de facto falta de conteúdo jornalístico em Portugal;
- Ou estamos perante uma operação de maquilhagem, com branding à mistura, como já não se via há muito tempo, creio.

Vamos por partes. Primeira coisa. Paulo Portas? Onde? Exato, lado nenhum a não ser, claro, num vídeo. Paulo Portas, até agora o sempre disponível para o CDS, não pôde comparecer no congresso do CDS-PP (estão a sentir a diferença? Já lá vamos).

Mas adiante. Não é propriamente Paulo Portas que quero falar. Dele, falaremos daqui a uns 8 anos. Veremos.

Se Assunção Cristas soube lidar e aproveitar bem o espaço deixado pela não oposição de Passos Coelho ao Governo e essencialmente, o desaire das autárquicas, principalmente em Lisboa, muito melhor está agora a fazer com Rui Rio.

Rui Rio, de quem ainda não falei aqui no blog depois de ser eleito líder da oposição (existe?), tem tardado em se afirmar, e os passos que tem dado são de completa rutura com o PSD que estava instalado, confortavelmente. Há um senão. A sua vitória não foi assim tão expressiva para tal rutura. Mas isso é outro artigo, daqui a uns dias, até porque o quarteirão a que o PSD fica do PS não é assim tão distinto do CDS-PP.

Vamos já esclarecer esta questão do CDS e do CDS-PP. É que com a vitória de Rui Rio sobre Santana, o PSD deslocou-se ligeiramente para o centro uma vez que ficou mais longe do PPD-PSD de Santana Lopes. Ora, criou-se assim um espaço que pode ser aproveitado pelo CDS-PP e não pelo CDS. Qual a diferença? É que o CDS, de Paulo Portas, era a moleta de quem fosse preciso para chegar ao poder, era o centro direita, mas tal como "Chicão" (como Francisco Rodrigues do Santos é conhecido) fez questão de levar a congresso na sua intervenção, explorou bem o lado mais conservador do CDS (-agora PP).
Adolfo Mesquita Nunes, que há bem pouco tempo foi notícia e virou político de direita trendy, quer também ganhar espaço e há mesmo quem diga que os dois se vão defrontar no futuro (sim, já estamos no campo da futurologia em política), prometeu a Francisco um lugar na Assembleia da República como deputado. Portanto, no futuro, será visto como o Júlio Isidro do CDS-PP? A verdade é uma, se for para se defrontarem, esta promessa, pública, será como uma pedrinha no sapato de Chicão.

É importante, agora a terminar, falar de 3 coisas. A Assunção Cristas, que quer ser Primeira-Ministra, do militante que não passou na TV à hora do jantar, mas que é de Viana do Castelo e esperou o dia todo para falar, olhos-nos-olhos com a líder aclamada e ainda do CDS (PP ou não) que Governou Portugal.
Assunção Cristas, que também governou Portugal entre 2011-2015, diz que se vê como Primeira-Ministra, e tem já a solução na manga. Pela intervenção dela, em que reconhece que para governar não é preciso ganhar eleições, mas sim contar com 116 deputados e quer ser a primeira escolha. Ora, ou o CDS-PP tem mais deputados que o PSD, ou então o PSD de Rui Rio, que parece não querer saber de 2019 terá de ceder o cargo de Primeira-Ministra para uma coligação pós-eleitoral. A esta altura, e estamos muito longe, parece certo que vão a votos separadamente. Por aqui já se vê, falta um quê que estratégia, mas tudo bem. Ser Primeira-Ministra quando se lidera um partido que tem menos de 7% das intenções de voto, parece de facto ser megalomania como diz Marques Mendes.
Entretanto, um militante de Viana do Castelo foi ao congresso reclamar a Assunção Cristas o pouco tempo que passou na concelhia dele e denunciou que o líder da sua distrital desrespeitou o partido ao lá ir apenas negocial lugares... Enfim, não sei bem o que dizer, fico-me entre o "bom dia meu caro" e o "falta mais pessoas assim nos congressos (plural)". Prefiro, obviamente, a segundo. Porque a primeira hipótese revela o óbvio, a podridão nos partidos (plural, outra vez).
Por último, não podemos esquecer o mais importante, o CDS-PP participou no Governo de Durão Barroso, que ficou a meio, e no Governo de Passos Coelho, que apesar de ter cumprido um momento difícil da nossa democracia, quis ser mais troikista do que a troika, e foi aqui que eu entendo que errou essencialmente. Podemos ainda relembrar que Assunção Cristas permitiu, na sua governação, a plantação de vários hectares de eucaliptos. Eu sei que se não tivessem sido os incêndios do ano passado, ninguém queria saber. Mas se não tivessem sido essas tragédias, teríamos tido o melhor ano da nossa democracia (dito pelo Marcelo).

CDS e CDS-PP, essa operação de maquilhagem não nos engana, e não precisamos de pensar muito, muito, muito, como Assunção Cristas em relação à pena que possa ter dos touros das touradas.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Itália, as boas notícias não chegaram

https://www.sapo.pt/noticias/economia/italia-esta-preocupada-enquanto-a-europa-se_5a9d096e882043261847b085

De Itália não vieram as melhores notícias este fim de semana.

Domingo acordamos com a notícia que o lendário capitão da Fiorentina, equipa a jogar no primeiro campeonato italiano tinha falecido, de morte súbita, durante a noite em estágio. Todos os jogos foram cancelados e houve umas sapatilhas que tinham ficado esquecidas e que ficaram sem dono
Esta é daquelas histórias que não gostamos que nos façam chegar, por sabermos que são reais e, como tal, pode acontecer a qualquer um de nós. Por outro lado, se houver alguma morte santa, como no quotidianos todos usamos essa expressão, deverá andar muito perto desta definição.

Mas em Itália, o dia era também de eleições. Por esta hora, ainda não se sabe qual será o derradeiro desfecho destas eleições. E para sermos honestos, depois do que aconteceu em Portugal em 2015, bom é esperar sempre até tomadas de posse, e mesmo assim, em Portugal o XX Governo Constitucional teve apenas dias de vida...

Não sendo eu um perito em política internacional, mas naturalmente por esta me interessando, principalmente se for um país da União Europeia e da Zona Euro, mais ainda. Pelo menos, por enquanto. Sim, já lá eremos.

Liga, Forza Itália (FI), Irmãos Itália, Movimento 5 Estrelas (M5S), Partido Democrático. Ou então, Salvini, Berlusconi, Di Maio, Renzi, Beppe Grillo e Lou Reed... Todos foram protagonistas. Primeiro, partidos, depois, pessoas. Mas o que é que Ex-Primeiros-Ministros, humoristas e cantores aparecem no mesmo segmento e foram todos protagonistas ou chamados há história do dia das eleições? É o que passo a explicar.

Surpresas acontecem em eleições. Certo? Aprendemos com o Brexit, a mais não seja. Salvini, líder do partido Liga, reclama que deve formar Governo, mas acontece que Di Maio também. Soa a familiar? Estamos a ir bem então. O primeiro lidera o partido mais votado de uma coligação de direita e extrema direita, o outro, lidera o partido que isoladamente obteve mais votos. Complicado? Este artigo deve ajudar.
A diferença entre o partido mais votado e a coligação (que ao contrário do que aconteceu em Portugal com o PSD e CDS a disputarem as eleições juntos, em Itália os 3 partidos coligados foram a votos separadamente) é de 5%. M5S obteve 32% e a coligação 37%. Ao que parece, no acordo de coligação estava previsto que o partido mais votado seria o que iria formar Governo, e foi aqui que Berlusconi saiu surpreendido.
Mas faltam ainda nomes e partidos. Cá vamos. Partido Democrático, de Renzi, foi o grande derrotado. Já se demitiu, inclusive.

E o que defendem os dois candidatos que defendem que devem formar Governo? Uma política eurocética, contra o projeto do euro. Aliás, na sua génese, o Movimento 5 Estrelas até é contra o sistema e contra os partidos. Vai-se a ver e ganha umas eleições... Lições? Vária. A começar nos partidos, que devem fazer uma profunda reflexão se estão a ir de encontro com o eleitorado ou se estão apenas a dar azo a que partidos contra o sistema se instalem no poder, e se tornem eles partidos de poder. Como em Itália está a acontecer.

Para a Europa, ou para uma visão europeísta, como a minha, dentro do resultado, o que ainda seria menos mau era que Di Maio conversasse com Berlusconi, porque o primeiro, apesar de populista, foi acalmando os ânimos antissistema nas últimas semanas, já Berlusconi, é raposa conhecida pelas instituições europeias e não parece querer mudar de ideais nesta matéria. Por sua vez, Salvini coloca em perigo os esforços que a UE tem vindo a encetar no sentido de acolher refugiados e tem em mente um encerramento das fronteiras, com a insignia de os "italianos primeiro". E não sei, mas esta parece-me ser uma ideia bastante perigosa para aquilo que temos como dado adquirido, e talvez não seja assim tão certo, como a sociedade europeia como a conhecemos.

Por fim, os italianos fizeram o que, indiretamente, o fundador do M5S, e humorista Beppe Grillo recomendou. Depois de votar, e com os jornalistas junto ao seu carro, o humorista colocou em alto e bom som a musica "Walk on the wild side", de Lou Reed. E assim aconteceu, veremos o resultado. Mas Augusto Santos Silva parece estar cauteloso... Não é caso para menos.