sexta-feira, 30 de outubro de 2015

E o povo?

Nos últimos dias, tem-se discutido tudo e mais alguma coisa. Primeiro foi a derrota do PS e de António Costa, depois, foi a possibilidade de Governo e acordo à esquerda, depois foi quem iria Cavaco Silva indigitar para Primeiro-Ministro, depois foi o seu discurso, depois foi o que fará depois deste Governo cair, agora é os ministros escolhidos... Onde irá acabar estas grandes dissecações filosóficas?

Mas uma coisa eu não tenho ouvido discutir, que é porém, o essencial?
E o povo?
Sim, como fica o povo no meio disto tudo?

António Costa, por força da disponibilidade demonstrada pelo PCP e BE, entende, legitimamente, que tem condições para formar Governo, desde com um acordo que mostrou já ser possível.
Passos Coelho reclama a vitória como líder da força política mais votada, o direito a governar.
Os deputados é que vão decidir, porque nós, eleitores, votamos nos deputados, e serão estes que decidiram o nosso futuro, obviamente. Para aqueles que não votam, ou que utilizam o voto de forma infundada e desinformada, fica aqui uma lição destas eleições legislativas.

Mas não temos discutido o futuro da segurança social, não temos discutido o que poderá ser o OE para 2016, andam a entreter o povo com este impasse político, e a culpa tem um e só um nome, Cavaco Silva. Pode não ter sido dele a ideia de atrasar tanto, mas foi ele quem deu o aval. A ideia de marcar as eleições para depois do verão, serviu para o atual Governo ir ganhando uns meses, e poder maquilhar as contas públicas de forma a vencer. Objetivo: Ganhar as eleições. Check. Depois, um outro efeito era precisamente este, o que está a acontecer. Já repararam que, de um mês para o outro, todos os indicadores relevantes, aqueles que serviram de moleta retórica na hora de pedir esforços ao povo, voltaram aos níveis de 2011 ou pior? Ou seja, então para que serviu todo o aperto, sufoco e asfixia financeira, por via da austeridade que implementaram? Ou melhor dizendo, que povo é os nossos governantes beneficiaram? Não foi o português de certeza...

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

PortugalCoup, Cavaco no seu melhor

Ainda estou para tentar perceber o que se passou! Estou de ressaca, como se diz na giria popular.

No seu discurso em que indigitou Pedro Passos Coelho, o Presidente da República acabou por se enredar nas suas exigências e próprio discurso que tem vindo a adotar. Mas prefiro destacar 2 pontos.


  1. Minutos antes do discurso, era expectável que Cavaco Silva indigitasse Passos Coelho, como tal acabou por acontecer. Em condições normais, o que iria entreter os comentadores e as hostes públicas, era o facto de não ter indigitado António Costa como Primeiro-Ministro, não dando assim ouvidos ao acordo que o líder do Partido Socialista apresentou ter, com garantias de estabilidade e condições de governabilidade. Acontece que não, o que acabou por ser notícia foi o conteúdo e principalmente o tom com que Cavaco Silva anunciou, não o facto de indigitar Passos Coelho, mas sim ter excluído de um acordo parlamentar a possibilidade de PCP e BE apoiarem um Governo do Partido Socialista. Ora, estamos a falar de cerca de 1 Milhão de votos que o nosso Presidente da República ignorou. Isto, por si só é gravíssimo. Tanto mais quando tinha, dias antes, pedido um entendimento. Quer isto dizer que se esqueceu de referir que esse acordo teria de ser obrigatoriamente com os partidos da coligação. Já para não falar da questão que se permanecerá com a expressão arco da governação, que é horrível em democracia.
  2. Um dos argumentos que Cavaco Silva utilizou foi a questão de tradição. O que aconteceu no passado dia 4, não se prende com tradição mas com inovação. Aconteceu algo que nunca tinha acontecido, isto é, a força mais votada não foi a que tinha a sua ala (esquerda ou direita) consigo, isto é, a força mais votada nas últimas eleições foi a coligação (de direita) mas foi a esquerda quem reuniu maior número de votos. Este facto dá azo a uma ampla leitura dos resultados, tal como temos visto nos últimos dias.



Neste fim de semana, e como rescaldo do discurso de Cavaco Silva, por esta europa fora, foram muitos os que opinaram acerca do que se está a passar em Portugal. Com a hastag #PortugalCoup , o nosso país andou nas redes sociais, e por aquilo que se pode ler, são muitos os que acham golpe de Estado Cavaco Silva ter ignorado o acordo à esquerda.

NOTA: Já que gostamos tanto de referenciar os países nórdicos, olhemos para a Dinamarca, que é governada por forças que não venceram as eleições. E era escusado terem tirado a série Borgen da RTP 2, onde o poder deste país é lá retratado.

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Estamos a viver o início de uma nova era política

Por estes dias, e com recurso à nova tecnologia, tenho tido a possibilidade de "puxar" para trás a programação e ver, na RTP memória, a série Conta-me como foi. Começou a dar do primeiro episódio, novamente.

Esta série portuguesa, retrata Portugal no ano de 1968, narrada por um rapaz de 8 anos à época.
Já quando passou na RTP, era fascinado pela série, e confesso, tenho uma certa inveja positiva em relação aos que nasceram no início da década de 60, mais propriamente da minha mãe, que nasceu por esses anos.

Segundo o jovem ator, em 1968 nascia um novo tempo em Portugal, e poucos eram os que davam conta disso. A sua irmã já usava saias, para inveja positiva da mãe, o irmão no caminho para casa, cruzava-se com manifestações improvisadas e clandestinas, ele e os amigos trocavam cromos do coluna e outras figuras proeminentes do futebol de então, num descampado onde um camião abandonado era o cenário de tardes sem fim. O pai, acabara de comprar um televisor na noite de mais um festival da canção. Era então o início de uma nova era. A política estava a mudar, estava a nascer em Portugal, novos contornos e cenários até então colocados completamente de parte, ou mesmo proibidos.

Ainda bem que temos um serviço público de televisão que nos recorda, ou muitas vezes mostra pela primeira vez, como se vivia em Portugal antes de 1974.

E a esta hora já deverão estar a perguntar porque é que estou a escrever sobre este tema, que pouco mais poderá ter a ver com a minha atividade de zapping ou então com as horas de lazer frente ao televisor.
É que, em condições de cumprir com a sua palavra, Cavaco Silva indigitará António Costa como Primeiro-Ministro de Portugal, uma vez que este conseguiu reunir consenso e maioria parlamentar que garanta estabilidade e condições de governabilidade.
Ora, a ser assim, e mesmo que o Presidente da República não o faça, uma coisa é certa, esta é uma nova era na nossa política nacional.
Quero com isto dizer que, daqui a 40 anos, a RTP memória passará um novo conta-me como foi, a mostrar este mês de outubro de 2015.

terça-feira, 20 de outubro de 2015

António Costa apresentou uma solução de Governo.

Hoje parece claro que Cavaco, em condições normais, terá de indigitar António Costa para ser o próximo Primeiro-Ministro de Portugal.

Dirão que esta é uma constatação nada surpreendente, tendo em conta o partido que tenho vindo a defender e o meu público apoio a António Costa, mas existem mais razões:


  1. Em qualquer país, é espectável que sejam empossados de Governo, aqueles que ofereçam mais e melhores condições de governar. Ora, parece-me claro. Principalmente quando em jogo podem estar o chamados "nervos de mercado", que como todos sabem, não sou nada de acordo em governar ou escolher quem se governa a pensar nos mercados e nas taxas de juro. Parece que, segundo o que António Costa disse e também Catarina Martins, existe da esquerda portuguesa condições de governabilidade;
  2. Tendo em conta que o nosso Presidente da República é Cavaco Silva, e que Cavaco tem pedido, desde 2013, acordos alargados e estabilidade entre os partidos, uma vez que se juntaram PS, PCP e BE, esse acordo e estabilidade está assegurado. Se olharmos para aquilo que foi a reação de Cavaco Silva às eleições, e o convite que fez a Passos Coelho para procurar acordos alargados e este ter falhado, parece ainda mais evidente que o mesmo não está em condições de formar Governo.
Veremos o que fará Cavaco Silva, mas uma coisa parece ser certa, ou indigita já António Costa para liderar um Governo de esquerda, ou então Portugal perderá tempo e arrisca-se a não ter um Orçamento de Estado a tempo do novo ano, o que seria gravíssimo para os portugueses.

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Não, não o vejo como traidor!



É incrível como na política, aos olhos da opinião pública se passa de bestial a besta.

É o que aparentemente se passa agora com António Costa. A meu ver, injustamente.
Nestes últimos dias tem havido uma forte contestação ao líder socialista. Sobretudo nos artigos de opinião.

Muitos falam de sucessivas traições. Primeiro a António José Seguro, depois aos militantes do PS, agora traição à democracia... Enfim.
Para deixar claro, hoje, e com todas as consequências que isso pode ter no futuro, digo que não o vejo como um traidor.

Quanto ao suposto "assalto ao poder" no PS, vejo a disponibilidade de assumir a liderança naquela altura como resposta a sucessivos apelos para que António Costa fosse, efetivamente o líder. Esse "assalto" traduziu-se em primárias no Partido Socialista, em abertura a simpatizantes para escolher o candidato a Primeiro-Ministro e ainda numa clara vitória de cerca de 70% dos votos.
E quanto ao que se está a passar agora, o nosso Presidente da República continua a ter o poder de atuar, isto é, convidar alguém (Passos ou Costa) a formar Governo. Estas reuniões que António Costa tem mantido não são uma traição à democracia, basta para tal ler-mos a constituição ou sermos um eleitor informado para sabermos o que fizemos no dia 4 de outubro. Vejo estas reuniões como uma resposta ao que o PCP e BE iniciaram, vontade de dar resposta aos 62% dos votos.

E uma coisa sabemos, que afinal, existem condições para melhorar a vida dos portugueses e que o programa da PàF não é o único caminho.

sábado, 10 de outubro de 2015

Quando a direita mete medo e a esquerda se une.

Acerca da semana que passou, parece claro uma coisa: Costa quer, mesmo, fazer diferente.

Foi com muito agrado que vi Costa ter saído da reunião com a coligação e dizer que foi uma reunião pouco produtiva. Principalmente depois de 2 dias antes ter dito, após falar com Jerónimo de Sousa, que há espaço para fazer trabalho sério.

Esta é a maior prova de que, o partido charneira, está empenhado em dar resposta aos mais de 60% de eleitores que votaram numa política que não a dos últimos 4 anos.

Mas ao longo desta semana, tanto foi escrito. A direita, com medo da força do povo, está a continuar a fazer aquilo que fez na campanha, tentar assustar e meter medo aos cidadãos, dizendo que não há alternativa. O problema da direita, o seu verdadeiro problema, é que essa alternativa que dizem não existir, está mesmo a ser construída. E vai dar frutos, podem crer.

Quando lia, ao longo desta semana, comentadores escrever algo como: quem ganha tem de governar, ou que o PS uma vez vencido, tem de deixar outros governar ou ainda o mais espetacular, algo como se os portugueses quisessem que fosse António Costa a chefiar um Governo, teriam votado no PS. Eu relembro a todos estes, por essa ordem de ideias, que há 4 anos os portugueses deram vitória ao PSD, e que queriam que este partido governasse em diálogo com os outros partidos e com a sociedade, mas o que aconteceu no pós-eleições de 2011, foi que o PSD e CDS se coligaram, legitimamente, e governaram como quiseram, mesmo tendo perdido a legitimidade por força das políticas em vários momentos do mandato.
Por isso, a mensagem que quero transmitir é exatamente esta: deixem os partidos fazer o seu trabalho, e se desse trabalho resultar uma coligação à esquerda com condições de governabilidade, que seja. Escusam de ter medo, o povo é soberano.

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Pós-eleições

Quero começar este artigo por felicitar a coligação Portugal à Frente, uma vez que foi a força política que recolheu mais votos.

Porém, este resultado não confere ao PSD e ao CDS uma vitória inequívoca. Isto porque perdeu a maioria absoluta que tinha no parlamento. E após 4 anos sem qualquer diálogo, será muito complicado agora para estes dois partidos ver qualquer proposta ser aprovada. A começar pelo próprio programa de Governo.
Logo, está tudo nas mão do segundo partido mais votado, o Partido Socialista.
Este, tem várias opções em cima da mesa. Pode juntar-se à esquerda para apresentar uma alternativa de Governo, pode aliar-se à direita para formar um Governo, tal como Cavaco Silva pretende e pode por fim, não optar por nenhum dos anteriores e apenas fazer oposição, viabilizando algumas propostas do Governo e juntando-se ao Bloco e ao PCP para bloquear outras.

No meio disto tudo, António Costa encontra a intenção da ala segurista em voltar a liderar o partido.
Mas esta questão será clarificada em congresso após as presidenciais, até lá, o foco está na formação de um novo Governo e na elaboração do Orçamento de Estado.

Voltando ao tema principal, a formação de um novo Governo.
A meu ver, não me parece nada viável que o PS forme Governo com a direita. De todas as hipóteses, esta é a que eu rejeito já neste momento. Para além de achar que se António Costa optar por esta via, perderá metade do seu eleitorado.

Porém, a opção de alargar o chamado arco de governação ao Bloco de Esquerda e à coligação CDU traz muitos riscos. O primeiro dos quais é não se saber a postura que estes partidos têm quando são Governo. Na oposição, têm muitas vezes a postura de se ficar a parte da mesa das negociações, tal como aconteceu com a Troika, e ainda existe outro fator relevante, que é a postura destes países perante o projeto europeu e o euro.

O importante, como eu tenho dito nos últimos meses e anos, numa coligação não é importante apenas e só quem a constitui, mas sim o seu conteúdo ou intenção. E não teria problema nenhum de conviver com uma coligação PS, CDU e BE, mas o propósito teria de ser criar emprego, dignificar as condições de trabalho e combater a austeridade. Esses são os ponto que unem estes partidos, e a coligarem-se, terão de se potenciar. 
António Costa foi bem claro, e tem todo o meu apoio quando diz que qualquer projeto que vá contra os 4 propósitos a que o PS se propôs, isto é, aumento do rendimento, dignificar o trabalho, uma postura ativa e forte na europa e apostar na educação, inovação e ciência. O PS, pela sua história e pela sua capacidade de diálogo, pelo seu líder e pelos votos que obteve, não deve sujeitar-se a pressões dos partidos à sua esquerda. A acontecer negociações com estes, deve ser o PS a liderar, e não a ser liderado.

Vejamos o que as próximas horas nos trazem, mas serão decisivas, certamente.

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Final de campanha

Muito sucintamente, no domingo votarei no PS porque não aceito que um Governo que tratou os portugueses como tratou, possa vencer as eleições. Ou se acontecer, nao será com o meu voto.
Mas vou mais longe. Os jovens emigraram como não acontecia desde os anos 60. A austeridade foi aplicada em dose inacreditavelmente desumana, em nome de um defice e divida pública, que aumentaram ambos. O desemprego subiu e o emprego baixou. Mas não só baixou, como ficou mais precário. Os reformados que trabalharam uma vida a descontar, viram as suas reformas e pensões cortadas.
Mas não é só de motivos para não votar na coligação que falo. Existem razões pela qual voto PS, essencialmente porque acredito no modelo econômico que previligia o consumo como fator de dinamização, de criação de emprego. Só assim, poderemos melhorar a vida das pessoas. E em termos reais, nao estatísticos.
acredito tambem na saúde pública e na escola pública. Assim como na sustentabilidade da segurança social.
Outro fator relevante, e que deveria ser alvo de reflexão de todos, é o facto de termos um Primeiro - Ministro e seu vice recandidatarem-se, e sem teres a coragem de mostrar a cara nem apresentar um programa.
Por tudo isto, é que acredito que o voto útil faz sentido no Partido Socialista. Até porque, seria um desperdício não eleger António Costa.