segunda-feira, 13 de julho de 2015

Por acaso foi ideia minha


Quando vi esta imagem, publicada no The Guardian, a propósito da posição que os diferentes países da eurozona adotaram em relação à possibilidade da Grexit, ainda não tinha ouvido o nosso Primeiro-Ministro dizer que foi através de uma ideia sua que o último bloqueio que prendia o terceiro resgate à Grécia foi efetivamente desbloqueado, e já torcia o nariz. Então agora, bem, nem se fala!

Preferia ter visto o nosso Governo alinhar com a Espanha, Luxemburgo, Itália e França numa postura de evitar a saída da Grécia a todo o custo. Mas não, parece que, segundo este gráfico, fica num meio termo, e segundo muitos relatos, inclusive de Varoufakis, Portugal foi dos que fez mais pressão para que a Grécia não tivesse mais "regalias".
É importante hoje não nos esquecermos que, logo em Janeiro, quando Varoufakis e Tsipras ainda nem tinham aquecido a cadeira, Maria Luis Albuquerque foi então ter com o ministro das finanças alemão e pediu que fosse muito duro para com estes.
É também importante relembrar que internamente, fomos nas medidas adotadas, bem além da troika, o que espelha bem aquilo que este Governo pretende fazer das finanças públicas do nosso país, imaginemos então o que prefere em relação às dos outros!
Outro facto importante, é ter em conta que estamos em ano eleitoral, e que por isso, convém passar uma imagem de inclusão, mas na realidade, o que pretendem é um acordo mau para os gregos, para terem a bandeira de "olhem para a Grécia e vejam que não há caminho senão o da austeridade".
Porém, a resposta do Governo grego foi superior e não aceitou essa austeridade chantagista e perguntou ao povo, e o povo disse que não.
Agora, a imprensa internacional e portuguesa fazem passar a imagem de que o que foi aceite pelos gregos é ainda pior do que referendado. Eu não me acredito nisso, mas mesmo que assim fosse, sabem o que me faz lembrar? Aquele PEC IV que foi chumbado e depois veio o memorando... Exatamente igual!
É incrível o aproveitamento político, ridiculo até, que o nosso Governo faz desta situação toda.

Para finalizar, e para grande satisfação de todos nós, e mesmo para salvação do euro e da europa, existe um Pedro, que não eu, espécie de D. Sebastião que 17 horas depois de longas negociações, e 6 meses de dias decisivos e cimeiras importantes, teve a ideia e resolveu tudo.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

O papel dos media na democracia também passa por aqui

Existem dois temas que eu gostaria de escrever hoje, são eles as recentes sondagens (intercampos e eurosondagem, tornadas publicas ontem e hoje respetivamente) e também a entrevista que António Costa deu ontem na TVI/TVI24.

Porém, debruçar-me-ei apenas no segundo tema, uma vez que, como todos sabem, sou muito cético em relação ao resultados das sondagens, isto é, serão elas encomendas ou são genuínas? Depois do que se passou em Inglaterra, que credibilidade têm as sondagens? Depois do que se passou na Grécia com o referendo, que credibilidade têm as sondagens? E mesmo estas duas que acima referi, que dão resultados diferentes e o período de realização das mesmas é muito similar. Enfim, como todos sabemos, a verdadeira sondagem é na urna, através da contagem dos votos efetivos.

Não sei se tiveram a oportunidade de ver, mas se não tiveram, puxem a emissão para trás ou então procurem no site da TVI ou até no Youtube, mas vale mesmo a pena ver a entrevista que António Costa deu na TVI ontem. É longa, é certo, até porque se divide em duas partes, sendo que só a primeira tem cerca de uma hora. Eu não vou discutir aqui o conteúdo, apenas e só. Para sintetizar  o que acho em relação ao conteúdo, foi muito bom ver o candidato a primeiro-ministro pelo Partido Socialista a, em mais do que um momento, assumir pessoalmente compromissos sociais, pelos quais se tem batido até hoje. Mas melhor ainda foi ter ouvido António Costa a disponibilizar-se para fazer um programa daquele género anualmente, para comparar aquilo que disse ontem e aquilo que, periodicamente for ou não fazendo, para ser ir avaliando o grau de cumprimento do programa do PS.
Uma vez mais, António Costa demonstrou que valeu a pena ter avançado com a disponibilidade de liderar o partido do largo do rato.

O que é certo é que, com o formato desta entrevista, a nossa democracia e proximidade entre eleitor e eleito aumenta de forma substancial, e mesmo a participação cívica e principalmente, a prestação de contas, sendo esta última, a meu ver, essencial para o bom funcionamento da democracia.
Basicamente, António Costa esteve numa primeira fase frente-a-frente com Judite de Sousa que tinha sentada atrás de si alguns espectadores que foram fazendo perguntas ao longo do programa a António Costa. A pergunta poderia demorar 1 minuto a ser colocada e a resposta tinha de durar 3 minutos no máximo.
No mínimo, um sistema inovador em Portugal e que, a meu ver, aumenta o nível de profundidade da nossa democracia. É também nisto que os media têm um papel essencial a desenvolver, promover momentos de qualidade.
Numa segunda fase, já com José Alberto Carvalho, num formato mais tradicional, respondeu a algumas perguntas.

Depois de se ter iniciado este caminho, não vejo razão plausível para que não se continue.
Depois de a nossa democracia sofrer avanços como tem sofrido desde as primárias no PS até ao sistema de eleição de candidatos a deputados do LIVRE/Tempo de Avançar, vejo com ainda piores olhos os nossos níveis de abstenção.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Afinal, nem o país está melhor!

Aquela incrível premissa de que o país estaria melhor mas os portugueses não, como se fosse possível desassorear os portugueses de Portugal, uma vez que Portugal se faz dos portugueses, mas adiante... Parece ter caído por terra.

Segundo a TVI 24, em notícia rodapé, seguem os seguintes dados económicos, noticiados como notícia de última hora:

  • Importações crescem 3,2%
  • Exportações crescem 1,8%
  • Balança Comercial Portuguesa agrave-se 967 Milhões de euros em 2014
Ora, cai assim por terra uma das grandes bandeiras deste Governo. Aquilo que era um grande esforço e tudo por causa das políticas deste Governo, que as exportações estariam melhor do que nunca e que a nossa balança comercial encontrava assim o equilíbrio desejado.

Não é com júbilo, antes pelo contrário, que escrevo este artigo.
Não é por ser o PSD e CDS que lideram o Governo que eu rezo para que a economia piore, antes pelo contrário, quero sempre que as nossas condições se melhorem, mas não podemos deixar cair em falácias.

Como poderão ver pelos dados acima, as importações cresceram mais do que as exportações. E importa tentar perceber porque, e não apenas explanar os números.
As exportações crescem quando produzimos mais do que o que consumimos, e assim, exportamos o excedente. Ou então, exportamos aquilo que não consumimos, quer seja em excedente ou não, de forma mais simples. 
Já as importações crescem quando consumimos mais do que produzimos, ou consumimos o que não produzimos e temos de procurar noutros países e importar.
Ou seja, quer nas importações como nas exportações, o consumo nacional está presente, assim como a nossa produção. Se no total existe um gap de 1,4% negativos, quer dizer o seguinte:
  1. Ou estamos com mais dinheiro para consumir e a nossa economia não produz aquilo que é necessário, ou seja, a nossa economia produtiva não acompanha aquilo que o mercado pede, e aí, importamos;
  2. Ou então continuamos a consumir o mesmo, ou até menos, mas a nossa produção baixou de tal forma que nos obrigou a procurar importar para satisfazer o mercado.
Agora, cabe a cada um de nós, olharmos à nossa volta e tentar perceber qual das hipóteses que coloquei acima se enquadra melhor com a realidade.

domingo, 5 de julho de 2015

Grécia. E agora?

Pelos vistos, ainda está por confirmar, mas o não deverá ter ganho o referendo na Grécia.

Se eu fosse grego, teria votado não. Por isso, estou feliz com o resultado.
Mas é ao mesmo tempo, uma sensação estranha. Sim, porque muita coisa agora está em aberto, inclusive a saída da Grécia da zona euro, que poderá até ser o mais provável, e é precisamente aquilo que eu não quero que aconteça.
Então, eu queria que ganhasse o não, e que a Grécia não saia da zona euro? Exatamente. O que eu quero, é que seja caminhado aquele caminho estreito entre a saída da zona euro, e a autonomia de um país, de uma nação, para poderem tomar as suas próprias medidas e políticas económicas.

O tempo não é de celebrações, mas sim de trabalho e consensos. E o ministro das finanças grego percebeu isso, ao ponto de ainda hoje, se reunir com os banqueiros e amanhã já estar sentado, novamente, na mesa das negociações.

Este resultado, e tendo em consideração o que foi sendo dito ao longo da semana pelos principais membros do Governo grego, apenas reforça a posição deste Governo, que agora não representa apenas as suas vontades (mais pessoais) mas sim a vontade de um povo.

Nunca ouvi Varoufakis dizer que não quer a Grécia na zona euro. Antes pelo contrário. Ouvi até, e foi curioso porque em Portugal a forma de fazer política é bem distinta, o ministro das finanças grego dizer que prefere cortar o braço a assinar um acordo que não fosse bom para os gregos! Apenas aqueles que têm um lugar na história, no lado certo junto dos heróis é que dizem isto. Por sua vez, e porque é importante não esquecer, ouvimos o nosso Presidente da República dizer que se a Grécia sair do euro, como somos 19, passam a 18. 

O que é certo é que venceu a resposta que coloca a Grécia mais perto da saída do euro. Se o sim tivesse vencido (é importante relembrar que ainda não sabemos o resultado final) teríamos amanhã um Governo demitido na Grécia e as instituições europeias a poderem continuar a controlar por completo o povo grego.

Agora, teremos duas grandes saídas:

  1. Ou os responsáveis europeus perceberam e sabem ler o resultado, e cedem nas negociações;
  2. Ou teremos um governo que não tem outra saída senão respeitar o que o povo quer, e romper com a zona euro.
A minha opinião sobre aquilo que vai acontecer é que, como na verdade ninguém com dois dedos de testa quer a saída de nenhum país da zona euro, as instituições europeias vão ceder no pouco que falta. Na verdade, não têm outra saída senão esta. Ninguém quer ficar com a batata quente na mão.

Ao contrário do que Passos Coelho tem dito, é óbvio que haverão ilações para Portugal. A começar pela possibilidade de o nosso Primeiro-Ministro vir a ser reeleito ou não. Caso as negociações entre a Grécia e as instituições europeias não cheguem a bom porto, ninguém calará Passos Coelho e Paulo Portas a dizer que não existe o caminho que António Costa defende. Caso se chegue a acordo, ouvirão, certamente, António Costa utilizar a Grécia como exemplo.

Os próximos dias sim, vão ser decisivos.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Não podemos ter os olhos tapados!

Enquanto andamos todos a discutir as questões gregas, que obviamente são do interesse de todos nós, e todos devemos defender aquilo que acreditamos em relação à continuidade, ou não, da Grécia na zona euro e mesmo na UE, outros assuntos devem ser igualmente esclarecidos dentro do nosso país. 
Falo das privatizações da REN e EDP, que ao que parece, não foram assim tão transparentes e claras como deveria ter acontecido.
Mas podemos também falar do BES, que afinal (como era óbvio à data), terá encargos para os contribuintes.

Mas vamos por partes.

Segundo o Tribunal de Contas, após uma auditoria feita à privatização da REN e EDP, detetou envolvimento de empresas consultoras, de amigos de Vitor Gaspar, que auferiram mais de 10 Milhões de euros em honorários (relembro que o Estado recebeu, na altura, cerca de 40 Milhões de euros pela venda da EDP). Outro facto importante, foi o facto de o Estado português não ter acautelado os interesses nacionais quando privatizou estas duas companhias (estranho não é?).

Enfim. Como se não fosse já suficiente, o que na altura foi uma grande bandeira deste Primeiro-Ministro, isto é, que a resolução do BES não teria encargos para os contribuintes, mesmo depois de a Caixa Geral de Depósitos ter injetado dinheiro no banco do regime, afinal agora não passa de uma falácia, ou até poderá a curto prazo, passar a mito urbano. O que é certo é que já se fala num encargo na ordem dos 9 Mil Milhões para os contribuintes. Bem mais do que custou a nacionalização do BPN, dos erros dos amigos deste Presidente da República e que José Sócrates, e o seu Governo decidiram nacionalizar para evitar o colapso bancário que poderia despoletar a falência do BPN.

Todos nós reconhecemos a importância de discutir o que se passa na Grécia, mas não podemos fechar os olhos aos enormes erros que este Governo tem cometido e que vão custar caro ao país.