sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A arrogância de quem vive bem


Faz já algum tempo que não escrevo, eu sei, mas desta vez tinha mesmo de ser.

Apesar de andar atarefado, a capa do jornal i não merece que nos fiquemos calados. Temos, todos, de comentar, opinar, agir, fazer o que for.

Eu sei que ao fazê-lo, estou a dar atenção e a contribuir para a difusão deste tipo de pensamento, retrógrado, pobre e inútil. Prejudicial e que não beneficia ninguém, nem mesmo quem teve a coragem de fazer tal afirmação.

Quando digo coragem, não é um elogio, antes pelo contrário. É tal a coragem, que chega a ser decadente.
(Enquanto estou a escrever, no meu Spotify vai passando uma musica que não conhecia, mas que se adequa na perfeição - O Charlatão, de Sérgio Godinho).

A sede por likes, aprovação social e por notoriedade, a custa de tudo e de todos, é cada vez mais um problema na nossa sociedade, mundial, e que nos faz, a todos os que cedemos, de uma forma ou de outra, cair num superficialismo desmesurável, numa figura de fachada e num narcisismo sem escrúpulos. 

Pedro Marques Lopes, tem uma intervenção belíssima no seu Facebook acerca da manchete hoje do jornal i, que já teve eco nos restantes jornais.
Parece que o líder do Fórum para a Competitividade defende que não estamos a crescer a 4% - ao invés dos 2,7% de 2017 - porque não queremos. Em manchete, o destaque é para a afirmação "As empresas não conseguem contratar porque as pessoas não querem trabalhar", Ferraz da Costa vai ainda mais longe e diz que é preciso gente nova, porque senão daqui a pouco as empresas serão lares da terceira idade!

Ora, até pode ser que a justificação seja eu ser jovem, mas logo que li esta manchete, lembrei-me dos milhares de jovens que, todos os anos, saem do ensino superior e procuram uma oportunidade, digna, de trabalho e muitas vezes esbarram na precariedade, nos estágios de 9 meses que se seguem de desemprego. Aqui, não me parece que seja culpa das pessoas.
E aqueles que estão na chamada meia idade? Que foram despedidos, fruto da crise, e que querem trabalhar e são velhos para trabalhar e novos para a reforma? A culpa é das pessoas? E o que dizer daqueles que recebem menos de 600€? Conseguem planear um futuro? A culpa é destas pessoas?

E vejamos. As empresas não são feitas de pessoas? Não são as pessoas que as lideram? Que definem as suas visões, missões e valores? Será que Ferraz da Costa consegue desassociar totalmente as pessoas das empresas como Passos Coelho desassociou Portugal dos portugueses?

Termino como Pedro Marques Lopes terminou, com um recado a Ferraz da Costa, e mesmo aos que como ele pensam ou atuam: "faz lá o recorte do jornal, vai mostrar aos amigos e no caminho vai à merda".