quarta-feira, 13 de abril de 2016

Guterres, o grande candidato.

"Sejamos claros, temos demasiadas reuniões, com demasiadas pessoas a discutir demasiados assuntos para tão poucas decisões."

Foram estas as palavras que António Guterres proferiu ontem no sua entrevista como candidato a Secretário-Geral da ONU, e que motivaram este artigo.

O ex-Primeiro-Ministro de Portugal, o Eng.º António Guterres foi direto ao ponto. Disse aquilo que estamos fartos de pensar mas que poucos, dentro das próprias instituições o dizem, ou o dizem quando pode ser incómodo. Porque ser-se como Marinho e Pinho que critica as instituições, nomeadamente o Parlamento Europeu, enquanto eurodeputado, e que nelas continua sem mexer uma palha, faz mesmo lembrar, como disse uma jornalista ao próprio numa entrevista, aquelas crianças que atiram a pedra e depois escondem a mão. Ou então, na cimeira para o ambiente, recentemente em Paris, vimos Obama fazer um discurso consciente dos problemas climáticos e a assumir a sua quota responsabilidade enquanto Presidente dos EUA e até o vimos a pedir desculpa ao mundo, mas dizê-lo no final de dois mandatos, não é, notoriamente, suficiente.

António Guterres foi mais longe, criticou as instituições, e portanto, todos os que nelas participam, por causa das excessivas reuniões com excessivas pessoas que, basicamente, nada ou pouco decidem. E fê-lo no dia em que tentava convencer essas mesmas pessoas a aprovar e a levar mais longe a sua candidatura. Quantas vezes, por causa dos resgates na Grécia, ou mesmo o de Portugal, ou até por causa do Brexit temos ouvido a expressão dia decisivo? Quantas vezes, ainda era José Sócrates Primeiro-Ministro, e as cimeiras decisivas ocorriam umas atrás de outras? Era quase dia-sim-dia-sim?

Na casa do leitor não sei, mas na minha, as imagens que entravam pela sala adentro mais pareciam as de um desfile de vaidades do que imagens de pessoas que representam outras pessoas, que estão entaladas de problemas até ao pescoço, e que os "modelos" iriam resolver os seus problemas. Ver, vezes sem conta, a Srª Merkel a receber líderes europeus sempre me fez alguma espécie, não por ser mulher, claro, (até porque acho muito simpático ser uma mulher a receber os líderes, fica bem na fotografia) mas porque a Srª Merkel é líder sim da Alemanha, e não da Europa, em que a Alemanha deveria ter um peso igual ao da França, Inglaterra, Portugal, Espanha ou qualquer outro da globalidade dos 28 países.

Se Guterres vai conseguir ou não ser eleito, não sei, mas que só por alertar para esta questão, que vai saturando as pessoas que sustentam todo o sistema, já valeu a pena. É das tais coisas, não mata, mas mói.

terça-feira, 5 de abril de 2016

Abordagens distintas

Por motivos pessoais, o PNP não tem tido, nas últimas semanas, artigos novos e mesmo na página do Facebook não tem sido lançado o Excerto do Dia, assim que tiver oportunidade, voltarei a editar diariamente essa rubrica, mas não queria escrever um novo artigo sem deixar aqui uma palavra de apreço aos leitores seguidores.

Hoje escrevo baseando-me no Jornal de Notícias do dia 4 de abril, uma edição que conta essencialmente com 3 artigos de opinião que valem bem o valor que se paga pelo jornal, ainda cobre o dos dias em que a edição não é assim tão rica em conteúdo e o melhor ainda é que, os três artigos que eu me refiro, são de livre acesso na internet.

Para começar, o artigo de José Sócrates que reage ao facto de a Procuradoria Geral da República determinar que até dia 15 de setembro tem de ser feita acusação ao processo que envolve o ex-Primeiro-Ministro. Como sabem, eu não tenho por hábito comentar casos judiciais que estejam em curso, bem antes pelo contrário, mas o artigo que Sócrates escreve faz-nos, ou pelo menos deveria fazer pensar. E coloco aqui um excerto do artigo: "por que é que estamos a discutir prazos? Neste momento não deveríamos estar a discutir a substância, isto é, as provas? Um ano e meio depois de deterem, de prenderem; ". A verdade é que, sendo culpado ou não, a acusação já deveria estar feita, mas parece que este será mais um caso onde a celeridade não constará no dicionário da Administração Pública. Quanto a este artigo, não me alongarei mais, recomendando apenas a leitura no link deixado acima, vale a pena ler, concorde-se ou não.

Na mesma página, e permitam-me que vos diga, foi para mim uma grande satisfação ver um artigo de João Torres, amigo e camarada da juventude partidária à qual pertenço, a JS, e que partilha a página com um político que tem características que eu admiro, como sabem, Sócrates. Mas mais, muito mais importante do que saber com quem partilha a página, é fulcral saber o que diz o líder da Juventude Socialista, e para o caso, o tema escolhido é a "Propina Zero", João Torres faz neste artigo, um ponta pé de saída para uma discussão que tem de ser feita quanto ao valor da propina, mas reivindica essa mesma discussão com os pés bem assentes na terra: "Assumindo a "Propina Zero" como uma causa justa, reconheço a dificuldade de abolir as propinas num horizonte próximo". Parece-me ser um excelente início de debate, no qual farei tudo o que puder para nele participar. Até já João.

Por fim, um artigo de Rui Rio, no qual responde ao que foi dito em relação à sua ausência do congresso do PSD, no próprio congresso. Neste artigo no JN no day after, Rio explica desde logo, no primeiro parágrafo o porquê de ter dado uma entrevista à TSF na semana passada (dias antes do Congresso) e o porquê das suas palavras em relação à possibilidade de ofuscar o líder com a sua presença, que seria aliás, uma gestão de interpretação do que pudesse dizer ou não, e para que não hajam entrelinhas, o melhor, achou, foi nem sequer haver linhas. Mas como na política muitas vezes o que interessa não é o que se faz, mas o que parece que se faz, a sua ausência foi em si mesma um tema de debate no congresso, e realmente, assim não. Porém, não concordo na totalidade com o artigo pelo simples facto de na minha opinião, a postura de ausência por não ter qualquer cargo no partido justificar a própria ausência no espaço de debate, ser um erro... Eu acho que é nos congressos que se fazem as criticas em si, e se contribui para uma melhor preparação das ideias, mas uma coisa é certa, teve mais ouvintes, isto é, leitores com este artigo do que com um discurso no palanque e também posturas contrárias à de Rui Rio (idas a congresso de quem não está assim tão satisfeito) poderá justificar os 80% em eleições de lista única. Para colocar aqui também um excerto do artigo, escolho as palavras nas quais me debrucei para expressar esta minha opinião: "O facto de não ter ido a este Congresso do PSD está, aliás, na linha do que sempre aconteceu; fui a todos os congressos em que tinha um qualquer cargo partidário, e, portanto, a obrigação de lá estar, e, por acaso, até nunca fui a nenhum congresso quando era simples militante de base como agora acontece desde 2010."