quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Pobreza: conhecer para erradicar



Num mundo ideal (ele existe?) não haveriam pobres, todos teriam acesso aos bens que desejassem, ninguém morreria por falta de água, todos teriam a possibilidade de se alimentar de forma nutritiva e de qualidade, todos andariam na escola até decidirem, por eles próprios, sair, todos teriam emprego e casa, … enfim, acho que já todos perceberam. 
Não sabendo se todos desejamos isso, e como seria o mundo se tal assim fosse, a verdade é que gosto de consultar com frequência a designada Agenda 2030. Nesta agenda, para um futuro sustentável, foram definidos 17 objetivos. O objetivo 1 é precisamente erradicar a pobreza. Se cada um se der ao trabalho de ir consultar o site, este por exemplo, poderá ver que no primeiro ponto, as primeiras palavras, são as seguintes: “até 2030, erradicar a pobreza extrema em todos os lugares”. Parece-me um objetivo excelente, não só no conteúdo como na forma. Logo a seguir, define o que é pobreza extrema (pessoas que vivem com menos de 1,25 dólares por dia), só para que não restem dúvidas. E tem também um elemento essencial para que um objetivo seja concretizado: data. Veremos, em 2030, se foi concretizado.
Mas não é só no plano internacional que o tema tem sido abordado, em Portugal há muito trabalho de diagnóstico e de análise das desigualdades, e naturalmente dos índices de pobreza em diversas formas, que tem sido desenvolvido pelo Observatório das Desigualdades
O problema da pobreza, nas suas diversas formas, precisa de ser entendida, estudada e analisada cuidadosamente, para que se percebam as suas origens e para que se possa, eficazmente, combater. Nos dias de hoje, não é aceitável que uns tenham tanto e outros tão pouco, nem o essencial. Enquanto existirem crianças a não ter acesso a água, a alimentos, a educação, a cuidados de saúde, por falta de meios, temos, todos, enquanto sociedade, trabalho a fazer.
Todos temos trabalho a fazer, mas o primeiro passo é este, o de perceber que há um problema, que tem de ser resolvido e que podemos todos contribuir para o resolver. Não é necessariamente uma utopia, depende de nós ser realidade. Está nas nossas mãos e o nosso tempo é agora.
Muito é dito sobre o fim da pobreza, e supostamente todos queremos que se concretize, mas poucos fazem algo em concreto. Consciencializar é essencial. Termino recomendando a música de NTS – Contra Lição. Sobre atitudes a refletir.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O legado de Soares

Aparentemente, Mário Soares e as recentes eleições, quer as dos EUA como as do Brasil, não têm nada em comum. Mas eu acho que sim.

Vamos começar pelo fundador do Partido Socialista, falecido no início de 2016.
Mário Soares não deixou apenas um partido charneira fundado. Deixou um legado. Um legado da democracia, um legado da participação cívica, uma história de vida verdadeiramente inspiradora para as próximas (e porque não para as atuais) gerações, políticas e não só.
Mas o maior dos legados, e talvez aquele que fez com que Portugal hoje seja o paraíso social em que vivemos e que muitas vezes desprezamos, foi o legado da tolerância. Através dela, promoveram-se diálogos que dificilmente seriam mantidos, conquistaram-se valores que de outra forma não seriam implementados, e que hoje estão enraizados na nossa sociedade. Paz social, o principal.

Portugal teve a sorte de ter Mário Soares como português. O mundo, em geral, nem por isso. Nem mesmo os países CPLP.

Vamos agora aos atos eleitorais do outro lado do atlântico.
Trump nos EUA e Bolsonaro (primeira volta, ainda) no Brasil. Tolerância? O que é isso? Não tenho muito mais a dizer.

No entanto, deixo aqui um reparo a todos, principalmente aos europeus, aqueles que entendem que por serem europeus o mundo gira à volta deles. As coisas não são assim.
Viver em democracia é respeitar as escolhas, mesmo sabendo que a prazo, elas terão consequências para nós. Mas nós, europeus, não votamos nas eleições americanas nem brasileiras. Vamos deixar as coisas acontecerem como os americanos e os brasileiros escolhem que aconteçam. Ao mesmo tempo, podemos tomar atitudes que sirvam de exemplo, que inspirem e que não desiludam o eleitorado. Governantes, podem respeitar o voto e cumprir o que prometem? Podem ouvir os eleitores? Ou estaremos todos à espera que o descontentamento se transforme em figuras aberrantes para as sociedades?

terça-feira, 5 de junho de 2018

Sinais do tempo


Há coisas que não mudam, principalmente na política.
Eleições são eleições, e quando as mesmas se aproximam, seja qual for o quadro pintado para se chegar ao poder, são uns contra os outros. Ponto.

Digo isto porque estamos a pouco mais de um ano de eleições legislativas em Portugal, e o Governo, sendo constituído apenas por um partido, depende na Assembleia da República de outros partidos, os tais da geringonça. Até aqui nenhuma novidade, eu sei, mas a verdade é que nos últimos meses temos assistido a várias, umas mais camufladas do que outras, ameaças por parte dos partidos que formam a dita geringonça. PCP e Bloco de Esquerda irão querer reclamar avanços sociais e económicos que Portugal registou ao longo dos últimos anos, mas a verdade é que o poder executivo ficou a cargo exclusivamente do PS, quando lá atrás, ainda não se sabia se ia correr bem ou mal, ou se iria passar de um Orçamento de Estado ou todos até ao final da legislatura.

Hoje, parece certo que este Governo chegará ao final da legislatura, até porque nenhum dos partidos quer ficar com o ónus da responsabilidade de provocar eleições, mas a verdade é que os partidos que viabilizaram este Governo pouco têm a perder, porque das medidas acordadas - sim, porque foi em medidas que os acordos se basearam - foram já todas, logo em dois anos, concretizadas, faltando apenas o salário mínimo nacional chegar aos 600€, mas está a ter a evolução esperada.

Ora, depois de se ter falado nos primeiros 3 meses do ano do OE do ano seguinte - já aqui soa a estranho, mas tudo bem - agora é a questão dos professores e as sucessivas greves nos transportes que têm sido as armas de arremesso contra o atual Governo. E vejamos, não é difícil perceber porquê. São setores onde os sindicatos têm, por norma, uma maior força de atuação e de influência.

A pressão para melhorias nos dois setores tem sido intensa, e são setores onde facilmente se reclamam melhorias, mas a verdade é que o país não goza, neste momento, de folga orçamental para fazer tudo a todos. No entanto, e este ponto é importante, não quer isto dizer que se possa fazer tudo a uns e nada a outros, terá, necessariamente, de se encontrar um equilíbrio.
Equilíbrio é, porventura, a chave de uma negociação bem sucedida. Segundo as notícias dos últimos dias, não tem havido a capacidade, por parte do Governo ou dos sindicatos da educação, em encontrar esse equilíbrio. Os sindicatos reclamam que o Governo tem dito que é como o Governo quer - em relação à contagem do tempo de serviço - ou não é nada. Achei estranha esta posição do Governo, muito menos em ano anterior ao das eleições. Mas logo logo, no seguimento do jornal televisivo, falou o Ministro Tiago Brandão Rodrigues, e o que ele disse foi que não havia capacidade para se avançar nas negociações uma vez que os sindicatos exigem apenas e só a contagem, integral do tempo de serviço. Ora, hoje mesmo, o Primeiro-Ministro disse no debate quinzenal e assumiu que não há capacidade financeira para cumprir com a contagem integral. A ideia que fica, pelo menos na minha cabeça, é que se conseguiria encontrar um tempo intermédio entre os anos de contagem que o Governo apresentou em sede pré-negocial e o tempo que os sindicatos reclamam. O Governo já fez avanços em relação a aumentar o tempo de serviço, estando já na metade do tempo que os sindicatos reclamam, sendo que os sindicatos não cederam ainda sequer um mês nessa contagem.
Eu percebo que os professores queiram todo o tempo contado e valorizado, até porque o exerceram, mas a verdade é que foram exigidos, a todos os portugueses, sacrifícios nos anos de intervenção, e o que está a ser discutido não é nada mais nada menos do que reposições, e não se está a discutir quanto tirar ou cortar. E só por este ponto, eu correria para a mesa das negociações.

Resta-me uma pergunta: quem é que afinal anda com uma postura de ou isto ou nada?

A mim parece-me claro, e seria benéfico, para todos, que se encontrasse um equilíbrio. Mas Mário Nogueira, sindicalista de há vários anos, uma vez que é expert na matéria, nomeadamente negociações com vários Governos uma vez que é sindicalista há mais de 25 anos, anos esses em que não deu aulas e, ao que parece até pelos anos que são por ele representados, os professores devem estar satisfeitos.
Equilíbrio, compreensão e tolerância devem ser as chaves para um final feliz, mas quem sou eu?

quinta-feira, 15 de março de 2018

Estão em sintonia

https://goo.gl/images/a583lF


Depois dos incêndios, muitos foram os que apregoavam o fim da boa relação São Bento - Belém - o mesmo é dizer entre Costa e Marcelo.

Pois bem, a verdade é que os tempos têm sido muito mornos politicamente em Portugal. Ou melhor, nem tanto a nível político, porque entretanto a direita está a arrumar a casa, com os seus congressos mais ou menos pop star, com banhos de mais ou menos ética. A temperatura está, digo eu, morna politicamente porque entre as ações do Governo e a atividade presidencial, nada vai correndo mal. E claro, em Portugal, a notícia é o que corre mal, nem tanto o que corre bem... não convém.

Este sábado, o Expresso noticia que o Presidente da República está a ponderar apertar o cerco a Rui Rio caso este tarde em fazer oposição ao Governo. Primeira questão: é o Presidente que tem de fazer oposição? O argumento até que não é inválido, ora o Presidente quer um Governo forte e uma oposição também ela forte. Todos reconhecemos, creio, o quão importante isso é para uma democracia funcionar bem.
E eu lia a notícia e pensava: bem, de facto já houve melhores dias para aquelas bandas. Mas não passavam de notícias. Nada de concreto ainda. Lá está, está tudo morno.

Ontem, também o Expresso, tem duas notícias em que eu tenho até dificuldade em perceber as diferenças reais. Marcelo está na Grécia. A Grécia está de saída dos programas de ajustamento que recorreu. Marcelo foi a Atenas dizer que podem contar com Portugal nesta altura decisiva da sua governação, até porque Portugal também passou pelo mesmo há pouco tempo. Certo, Sr. Presidente, mas Tsipras não é Passos Coelho. Fala-se da uma saída limpa. E eu pergunto: já se esqueceram dos momentos em que a Grécia entrava nas casas de todos nós, com manifestações e índices de pobreza? Parece que sim. Continuemos então.

Costa, por sua vez, foi discursar ao Parlamento Europeu e dizer que podem contar com Portugal. António Costa foi a Estrasburgo reivindicar uma Europa mais unida, mais coesa e mais igualitária. Propos um aumento de receita e disse desde logo que Portugal está disposto a aumentar a sua contribuição.

Em comum, para além do título das notícias, Costa e Marcelo mostram Portugal como ele é: um país responsável, organizado, economicamente a recuperar, com visão, europeísta e solidário.

Apesar de haver o que os separe, continua a ser muito mais o que os une.


segunda-feira, 12 de março de 2018

Na casa do vizinho... dois quarteirões ao lado

Falar do congresso do CDS-PP é, para mim, como falar da casa do vizinho.
Mas a verdade é que nem eu sou porta voz do PS e nem o PS e o CDS-PP estão assim tão próximos para serem verdadeiramente vizinhos.

Este congresso demonstra uma de duas coisas:
- Ou há de facto falta de conteúdo jornalístico em Portugal;
- Ou estamos perante uma operação de maquilhagem, com branding à mistura, como já não se via há muito tempo, creio.

Vamos por partes. Primeira coisa. Paulo Portas? Onde? Exato, lado nenhum a não ser, claro, num vídeo. Paulo Portas, até agora o sempre disponível para o CDS, não pôde comparecer no congresso do CDS-PP (estão a sentir a diferença? Já lá vamos).

Mas adiante. Não é propriamente Paulo Portas que quero falar. Dele, falaremos daqui a uns 8 anos. Veremos.

Se Assunção Cristas soube lidar e aproveitar bem o espaço deixado pela não oposição de Passos Coelho ao Governo e essencialmente, o desaire das autárquicas, principalmente em Lisboa, muito melhor está agora a fazer com Rui Rio.

Rui Rio, de quem ainda não falei aqui no blog depois de ser eleito líder da oposição (existe?), tem tardado em se afirmar, e os passos que tem dado são de completa rutura com o PSD que estava instalado, confortavelmente. Há um senão. A sua vitória não foi assim tão expressiva para tal rutura. Mas isso é outro artigo, daqui a uns dias, até porque o quarteirão a que o PSD fica do PS não é assim tão distinto do CDS-PP.

Vamos já esclarecer esta questão do CDS e do CDS-PP. É que com a vitória de Rui Rio sobre Santana, o PSD deslocou-se ligeiramente para o centro uma vez que ficou mais longe do PPD-PSD de Santana Lopes. Ora, criou-se assim um espaço que pode ser aproveitado pelo CDS-PP e não pelo CDS. Qual a diferença? É que o CDS, de Paulo Portas, era a moleta de quem fosse preciso para chegar ao poder, era o centro direita, mas tal como "Chicão" (como Francisco Rodrigues do Santos é conhecido) fez questão de levar a congresso na sua intervenção, explorou bem o lado mais conservador do CDS (-agora PP).
Adolfo Mesquita Nunes, que há bem pouco tempo foi notícia e virou político de direita trendy, quer também ganhar espaço e há mesmo quem diga que os dois se vão defrontar no futuro (sim, já estamos no campo da futurologia em política), prometeu a Francisco um lugar na Assembleia da República como deputado. Portanto, no futuro, será visto como o Júlio Isidro do CDS-PP? A verdade é uma, se for para se defrontarem, esta promessa, pública, será como uma pedrinha no sapato de Chicão.

É importante, agora a terminar, falar de 3 coisas. A Assunção Cristas, que quer ser Primeira-Ministra, do militante que não passou na TV à hora do jantar, mas que é de Viana do Castelo e esperou o dia todo para falar, olhos-nos-olhos com a líder aclamada e ainda do CDS (PP ou não) que Governou Portugal.
Assunção Cristas, que também governou Portugal entre 2011-2015, diz que se vê como Primeira-Ministra, e tem já a solução na manga. Pela intervenção dela, em que reconhece que para governar não é preciso ganhar eleições, mas sim contar com 116 deputados e quer ser a primeira escolha. Ora, ou o CDS-PP tem mais deputados que o PSD, ou então o PSD de Rui Rio, que parece não querer saber de 2019 terá de ceder o cargo de Primeira-Ministra para uma coligação pós-eleitoral. A esta altura, e estamos muito longe, parece certo que vão a votos separadamente. Por aqui já se vê, falta um quê que estratégia, mas tudo bem. Ser Primeira-Ministra quando se lidera um partido que tem menos de 7% das intenções de voto, parece de facto ser megalomania como diz Marques Mendes.
Entretanto, um militante de Viana do Castelo foi ao congresso reclamar a Assunção Cristas o pouco tempo que passou na concelhia dele e denunciou que o líder da sua distrital desrespeitou o partido ao lá ir apenas negocial lugares... Enfim, não sei bem o que dizer, fico-me entre o "bom dia meu caro" e o "falta mais pessoas assim nos congressos (plural)". Prefiro, obviamente, a segundo. Porque a primeira hipótese revela o óbvio, a podridão nos partidos (plural, outra vez).
Por último, não podemos esquecer o mais importante, o CDS-PP participou no Governo de Durão Barroso, que ficou a meio, e no Governo de Passos Coelho, que apesar de ter cumprido um momento difícil da nossa democracia, quis ser mais troikista do que a troika, e foi aqui que eu entendo que errou essencialmente. Podemos ainda relembrar que Assunção Cristas permitiu, na sua governação, a plantação de vários hectares de eucaliptos. Eu sei que se não tivessem sido os incêndios do ano passado, ninguém queria saber. Mas se não tivessem sido essas tragédias, teríamos tido o melhor ano da nossa democracia (dito pelo Marcelo).

CDS e CDS-PP, essa operação de maquilhagem não nos engana, e não precisamos de pensar muito, muito, muito, como Assunção Cristas em relação à pena que possa ter dos touros das touradas.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Itália, as boas notícias não chegaram

https://www.sapo.pt/noticias/economia/italia-esta-preocupada-enquanto-a-europa-se_5a9d096e882043261847b085

De Itália não vieram as melhores notícias este fim de semana.

Domingo acordamos com a notícia que o lendário capitão da Fiorentina, equipa a jogar no primeiro campeonato italiano tinha falecido, de morte súbita, durante a noite em estágio. Todos os jogos foram cancelados e houve umas sapatilhas que tinham ficado esquecidas e que ficaram sem dono
Esta é daquelas histórias que não gostamos que nos façam chegar, por sabermos que são reais e, como tal, pode acontecer a qualquer um de nós. Por outro lado, se houver alguma morte santa, como no quotidianos todos usamos essa expressão, deverá andar muito perto desta definição.

Mas em Itália, o dia era também de eleições. Por esta hora, ainda não se sabe qual será o derradeiro desfecho destas eleições. E para sermos honestos, depois do que aconteceu em Portugal em 2015, bom é esperar sempre até tomadas de posse, e mesmo assim, em Portugal o XX Governo Constitucional teve apenas dias de vida...

Não sendo eu um perito em política internacional, mas naturalmente por esta me interessando, principalmente se for um país da União Europeia e da Zona Euro, mais ainda. Pelo menos, por enquanto. Sim, já lá eremos.

Liga, Forza Itália (FI), Irmãos Itália, Movimento 5 Estrelas (M5S), Partido Democrático. Ou então, Salvini, Berlusconi, Di Maio, Renzi, Beppe Grillo e Lou Reed... Todos foram protagonistas. Primeiro, partidos, depois, pessoas. Mas o que é que Ex-Primeiros-Ministros, humoristas e cantores aparecem no mesmo segmento e foram todos protagonistas ou chamados há história do dia das eleições? É o que passo a explicar.

Surpresas acontecem em eleições. Certo? Aprendemos com o Brexit, a mais não seja. Salvini, líder do partido Liga, reclama que deve formar Governo, mas acontece que Di Maio também. Soa a familiar? Estamos a ir bem então. O primeiro lidera o partido mais votado de uma coligação de direita e extrema direita, o outro, lidera o partido que isoladamente obteve mais votos. Complicado? Este artigo deve ajudar.
A diferença entre o partido mais votado e a coligação (que ao contrário do que aconteceu em Portugal com o PSD e CDS a disputarem as eleições juntos, em Itália os 3 partidos coligados foram a votos separadamente) é de 5%. M5S obteve 32% e a coligação 37%. Ao que parece, no acordo de coligação estava previsto que o partido mais votado seria o que iria formar Governo, e foi aqui que Berlusconi saiu surpreendido.
Mas faltam ainda nomes e partidos. Cá vamos. Partido Democrático, de Renzi, foi o grande derrotado. Já se demitiu, inclusive.

E o que defendem os dois candidatos que defendem que devem formar Governo? Uma política eurocética, contra o projeto do euro. Aliás, na sua génese, o Movimento 5 Estrelas até é contra o sistema e contra os partidos. Vai-se a ver e ganha umas eleições... Lições? Vária. A começar nos partidos, que devem fazer uma profunda reflexão se estão a ir de encontro com o eleitorado ou se estão apenas a dar azo a que partidos contra o sistema se instalem no poder, e se tornem eles partidos de poder. Como em Itália está a acontecer.

Para a Europa, ou para uma visão europeísta, como a minha, dentro do resultado, o que ainda seria menos mau era que Di Maio conversasse com Berlusconi, porque o primeiro, apesar de populista, foi acalmando os ânimos antissistema nas últimas semanas, já Berlusconi, é raposa conhecida pelas instituições europeias e não parece querer mudar de ideais nesta matéria. Por sua vez, Salvini coloca em perigo os esforços que a UE tem vindo a encetar no sentido de acolher refugiados e tem em mente um encerramento das fronteiras, com a insignia de os "italianos primeiro". E não sei, mas esta parece-me ser uma ideia bastante perigosa para aquilo que temos como dado adquirido, e talvez não seja assim tão certo, como a sociedade europeia como a conhecemos.

Por fim, os italianos fizeram o que, indiretamente, o fundador do M5S, e humorista Beppe Grillo recomendou. Depois de votar, e com os jornalistas junto ao seu carro, o humorista colocou em alto e bom som a musica "Walk on the wild side", de Lou Reed. E assim aconteceu, veremos o resultado. Mas Augusto Santos Silva parece estar cauteloso... Não é caso para menos.

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A arrogância de quem vive bem


Faz já algum tempo que não escrevo, eu sei, mas desta vez tinha mesmo de ser.

Apesar de andar atarefado, a capa do jornal i não merece que nos fiquemos calados. Temos, todos, de comentar, opinar, agir, fazer o que for.

Eu sei que ao fazê-lo, estou a dar atenção e a contribuir para a difusão deste tipo de pensamento, retrógrado, pobre e inútil. Prejudicial e que não beneficia ninguém, nem mesmo quem teve a coragem de fazer tal afirmação.

Quando digo coragem, não é um elogio, antes pelo contrário. É tal a coragem, que chega a ser decadente.
(Enquanto estou a escrever, no meu Spotify vai passando uma musica que não conhecia, mas que se adequa na perfeição - O Charlatão, de Sérgio Godinho).

A sede por likes, aprovação social e por notoriedade, a custa de tudo e de todos, é cada vez mais um problema na nossa sociedade, mundial, e que nos faz, a todos os que cedemos, de uma forma ou de outra, cair num superficialismo desmesurável, numa figura de fachada e num narcisismo sem escrúpulos. 

Pedro Marques Lopes, tem uma intervenção belíssima no seu Facebook acerca da manchete hoje do jornal i, que já teve eco nos restantes jornais.
Parece que o líder do Fórum para a Competitividade defende que não estamos a crescer a 4% - ao invés dos 2,7% de 2017 - porque não queremos. Em manchete, o destaque é para a afirmação "As empresas não conseguem contratar porque as pessoas não querem trabalhar", Ferraz da Costa vai ainda mais longe e diz que é preciso gente nova, porque senão daqui a pouco as empresas serão lares da terceira idade!

Ora, até pode ser que a justificação seja eu ser jovem, mas logo que li esta manchete, lembrei-me dos milhares de jovens que, todos os anos, saem do ensino superior e procuram uma oportunidade, digna, de trabalho e muitas vezes esbarram na precariedade, nos estágios de 9 meses que se seguem de desemprego. Aqui, não me parece que seja culpa das pessoas.
E aqueles que estão na chamada meia idade? Que foram despedidos, fruto da crise, e que querem trabalhar e são velhos para trabalhar e novos para a reforma? A culpa é das pessoas? E o que dizer daqueles que recebem menos de 600€? Conseguem planear um futuro? A culpa é destas pessoas?

E vejamos. As empresas não são feitas de pessoas? Não são as pessoas que as lideram? Que definem as suas visões, missões e valores? Será que Ferraz da Costa consegue desassociar totalmente as pessoas das empresas como Passos Coelho desassociou Portugal dos portugueses?

Termino como Pedro Marques Lopes terminou, com um recado a Ferraz da Costa, e mesmo aos que como ele pensam ou atuam: "faz lá o recorte do jornal, vai mostrar aos amigos e no caminho vai à merda".