terça-feira, 5 de junho de 2018

Sinais do tempo


Há coisas que não mudam, principalmente na política.
Eleições são eleições, e quando as mesmas se aproximam, seja qual for o quadro pintado para se chegar ao poder, são uns contra os outros. Ponto.

Digo isto porque estamos a pouco mais de um ano de eleições legislativas em Portugal, e o Governo, sendo constituído apenas por um partido, depende na Assembleia da República de outros partidos, os tais da geringonça. Até aqui nenhuma novidade, eu sei, mas a verdade é que nos últimos meses temos assistido a várias, umas mais camufladas do que outras, ameaças por parte dos partidos que formam a dita geringonça. PCP e Bloco de Esquerda irão querer reclamar avanços sociais e económicos que Portugal registou ao longo dos últimos anos, mas a verdade é que o poder executivo ficou a cargo exclusivamente do PS, quando lá atrás, ainda não se sabia se ia correr bem ou mal, ou se iria passar de um Orçamento de Estado ou todos até ao final da legislatura.

Hoje, parece certo que este Governo chegará ao final da legislatura, até porque nenhum dos partidos quer ficar com o ónus da responsabilidade de provocar eleições, mas a verdade é que os partidos que viabilizaram este Governo pouco têm a perder, porque das medidas acordadas - sim, porque foi em medidas que os acordos se basearam - foram já todas, logo em dois anos, concretizadas, faltando apenas o salário mínimo nacional chegar aos 600€, mas está a ter a evolução esperada.

Ora, depois de se ter falado nos primeiros 3 meses do ano do OE do ano seguinte - já aqui soa a estranho, mas tudo bem - agora é a questão dos professores e as sucessivas greves nos transportes que têm sido as armas de arremesso contra o atual Governo. E vejamos, não é difícil perceber porquê. São setores onde os sindicatos têm, por norma, uma maior força de atuação e de influência.

A pressão para melhorias nos dois setores tem sido intensa, e são setores onde facilmente se reclamam melhorias, mas a verdade é que o país não goza, neste momento, de folga orçamental para fazer tudo a todos. No entanto, e este ponto é importante, não quer isto dizer que se possa fazer tudo a uns e nada a outros, terá, necessariamente, de se encontrar um equilíbrio.
Equilíbrio é, porventura, a chave de uma negociação bem sucedida. Segundo as notícias dos últimos dias, não tem havido a capacidade, por parte do Governo ou dos sindicatos da educação, em encontrar esse equilíbrio. Os sindicatos reclamam que o Governo tem dito que é como o Governo quer - em relação à contagem do tempo de serviço - ou não é nada. Achei estranha esta posição do Governo, muito menos em ano anterior ao das eleições. Mas logo logo, no seguimento do jornal televisivo, falou o Ministro Tiago Brandão Rodrigues, e o que ele disse foi que não havia capacidade para se avançar nas negociações uma vez que os sindicatos exigem apenas e só a contagem, integral do tempo de serviço. Ora, hoje mesmo, o Primeiro-Ministro disse no debate quinzenal e assumiu que não há capacidade financeira para cumprir com a contagem integral. A ideia que fica, pelo menos na minha cabeça, é que se conseguiria encontrar um tempo intermédio entre os anos de contagem que o Governo apresentou em sede pré-negocial e o tempo que os sindicatos reclamam. O Governo já fez avanços em relação a aumentar o tempo de serviço, estando já na metade do tempo que os sindicatos reclamam, sendo que os sindicatos não cederam ainda sequer um mês nessa contagem.
Eu percebo que os professores queiram todo o tempo contado e valorizado, até porque o exerceram, mas a verdade é que foram exigidos, a todos os portugueses, sacrifícios nos anos de intervenção, e o que está a ser discutido não é nada mais nada menos do que reposições, e não se está a discutir quanto tirar ou cortar. E só por este ponto, eu correria para a mesa das negociações.

Resta-me uma pergunta: quem é que afinal anda com uma postura de ou isto ou nada?

A mim parece-me claro, e seria benéfico, para todos, que se encontrasse um equilíbrio. Mas Mário Nogueira, sindicalista de há vários anos, uma vez que é expert na matéria, nomeadamente negociações com vários Governos uma vez que é sindicalista há mais de 25 anos, anos esses em que não deu aulas e, ao que parece até pelos anos que são por ele representados, os professores devem estar satisfeitos.
Equilíbrio, compreensão e tolerância devem ser as chaves para um final feliz, mas quem sou eu?