quarta-feira, 18 de outubro de 2017

De Pedrógão ao Orçamento de Estado, Marcelo e Constança no caminho.

Bem, na verdade nem sei bem por onde começar!

Portugal vive dias difíceis. Muito difíceis. Mas é, mais uma vez, a prova que nem tudo é economia (alguns dirão que sim, que há interesses económicos instalados... mas não é esse o ponto).

Uma coisa é para mim clara neste momento. Finalmente, António Costa cometeu um erro grave. Sim, porque quem governa, a qualquer nível, comete erros, e Costa foi cometendo os seus, mas nenhum desta dimensão.

Ele tem razão quando diz que não há varinhas mágicas, mas... a sério que foi dizer que não as há numa hora daquelas? Naquele tom? Com aquela postura? Com o que estava, naquela hora, a acontecer? Nunca o poderia ter feito, mas fez. Deve, a esta hora, dois pedidos de desculpa: 1) pelo Estado ter falhado (já chega com delay, depois de Marcelo [já lá vamos]) na mais elementar das suas funções de soberania; 2) por ter cometido um erro de inabilidade política, e sim, estamos a falar de António Costa que é muito hábil politicamente.

(Adenda: António Costa já pediu desculpa no Parlamento, enquanto o artigo estava a ser publicado. O que não invalida a opinião continuar a ser expressa para vosso conhecimento, mas fica a nota de que Costa já o fez)

Já no seguimento da catástrofe em Pedrógão, achei que a Ministra não teria condições políticas para continuar, apesar de tecnicamente ser muito boa, também é preciso habilidade e condições políticas (veja-se o exemplo de Centeno, que foi ganhando de dia para dia até ser o Ministro que é hoje), e a Ministra, claramente, a perdeu em Pedrógão. Eu concordo que a demissão fosse o caminho mais fácil e que não fosse esse o que Costa quisesse seguir, mas tinha de ser, quando ainda nem a fase supostamente mais complicada dos fogos tinha chegado (e não, eu não me junto aos especialistas florestais, de combate a incêndios e de proteção civil que de repente brotaram como cogumelos em Portugal este verão de 2017) e talvez fosse esse o motivo para a segurar, até ao fim do verão e até ser conhecido o relatório (já repararam que todos os partidos se entenderam e foi produzido um relatório transparente, independente e muito bom?) sobre esse incêndio e fossem adotadas medidas, mas este fim-de-semana retirou qualquer timming, e fez cair por terra todas as estratégias que pudessem haver.

Sejamos honestos, ninguém estava à espera que estes incêndios, desta dimensão, acontecessem! Quem é que se lembra de tal em pleno outono? Eu sei que estava bom tempo e que estava vento e que estas duas variáveis são por si só propensas a incêndios, mas também sei que já estamos a meio de outubro e que já se pode fazer as chamadas queimadas e que o "perigo já passou". A estratégia de Costa estava até bem montada, mas, tal como aconteceu no passado com Vítor Gaspar que queria sair do Governo e Passos Coelho o fez esperar, volto a criticar a "espera" face a Constança Urbano de Sousa, e pelo mesmo argumento que, aliás, é um valor na minha vida: quem não quer estar, sai. Não se deve prender ninguém a uma relação (seja ela de que natureza for).

Ora, a Ministra sai com um pedido de demissão que, a meu ver, deixa-a ficar mal a ela, mas ao Primeiro-Ministro também, passando a ideia de que estavam à procura de alguém, o que não me parece que fosse necessário. E sai pela porta pequena. Pequenina. Infelizmente. Foi, em muitos momentos, o rosto da aflição, merecia melhor desfecho. Mas depois daquela intervenção, duríssima, de Marcelo, a Ministra não poderia ficar nem mais 24 horas no Governo. 

Por falar em Marcelo, eu acabo de dizer que ele foi duríssimo, mas foi não só com a Ministra, foi também com Costa, dando a ideia de que está a dar uma última oportunidade, mas também a todo o Parlamento e à sociedade civil como um todo.
Vejamos. Quanto ao que toca à então Ministra, acho que não é necessário dissecar muito, ele basicamente lhe passou um atestado de incompetência política em direto quase a demitindo pela própria boca. Mas como foi Marcelo a falar, no seu melhor, deixou portas abertas a diferentes interpretações. Claro que foi isso que aconteceu!

(Nota prévia: não estou a criticar a intervenção de Marcelo, porque quem o conhece e quem o elegeu sabia que ele ia meter a "colherada" mal tivesse oportunidade, e a intervenção foi um mea culpa que o Governo deveria também ter feito e não o fez, o que aumentou ainda mais a pertinência da sua intervenção e que retirou, com isso, qualquer margem de manobra a este Governo)

Ora, e que interpretações são essas? É fácil de ver, a que Passos Coelho já veio materializar, a reboque de Assunção Cristas, e a de que o Orçamento de Estado tem de ser bem ponderado.

Quando o Presidente diz que o Parlamento tem de refletir bem sobre a moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS para depois não haver equivocos, está a dizer em português corrente: vejam lá o que vão fazer, se os tiram de lá, quem é que para lá vai? E ao mesmo tempo pede reformas, caso este Governo se aguente, e só com ele pode haver no imediato. Mais uma vez, a economia não é tudo, muito menos o défice, e aqui acompanho, de mão dada, o Presidente. O défice está a ser um sucesso deste Governo, indiscutivelmente, mas eu preferia ter mais uns 0,5% de défice e ter essa margem em mais investimento no país, nomeadamente em matéria de atratividade do interior e de prevenção contra causas naturais (incêndios, cheias e afins).

Já agora, e se o Governo cair? Quem vai a eleições pelo PSD? Será que esta pode ter sido vista como a janela de oportunidade para a sua sobrevivência, por parte de Passos Coelho? Próximo artigo, brevemente.

Não posso terminar sem deixar uma palavra, sentida, a todos os afetados pelos incêndios, que deflagraram em Portugal, que deve ser já um fenómeno quase comparável ao da emigração na medida em que todos já devemos conhecer alguém que tenha relações, mais ou menos diretas com pessoas ou localidades afetadas pelos incêndios. Aos bombeiros, mas também aos polícias municipais e PSP, assim como GNR e "heróis" que foram surgindo, o meu muito obrigado.