quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Por uma Política de Imigração

Numa das primeiras aulas de economia, há uns anos atrás, ensinaram-me aquilo que está na base do estudo da economia: necessidades ilimitadas e recursos escassos. É importante reter esta ideia, como veremos mais adiante.

Sei também que poderiam estar a espera que dissesse algo sobre jantares no panteão ou o Orçamento de Estado, ou que a escrever desta forma sobre imigração, talvez fosse em 2015 quando fomos assolados com imagens (fotografias e vídeos) e notícias acerca dos refugiados e com histórias verdadeiramente preocupantes de pessoas que arriscam tudo pelo incerto, na tentativa de fuga à guerra ou simplesmente porque pretendem usufruir da liberdade individual e lutar por uma vida melhor noutro espaço.

Na semana passada, tive a oportunidade de assistir a um debate acerca da cidadania e das migrações, do qual fiquei a refletir. Numa das intervenções, a de Rui Pena Pires, foram abordados essencialmente 3 grandes tópicos, sendo eles o declínio da natalidade, o saldo migratório negativo e a sustentabilidade demográfica e políticas públicas, deixando também exemplos de medidas de política que poderiam ser adotadas, como veremos mais adiante.
Obviamente não irei aqui transcrever a intervenção, mas destacar o essencial que me parece pertinente um olhar mais atento e que pretendo, com este artigo, trazer para os mais jovens esta visão mais académica, com dados, para a importância de adoção de políticas de imigração, ou até, se ainda for esse o estágio da mente de quem esteja a ler, a eliminação de barreiras e das fronteiras migratórias que ainda existem. Mas para nós, jovens, é absolutamente dispensável que as mesmas ainda existam.

É, creio eu, do conhecimento geral que a natalidade e a fecundidade em Portugal estão em drástico decréscimo. Para termos uma ideia, estas taxas entre 1960 e 2016 passaram de 24.1 para 8.4 (por mil habitantes) e de 3,2 para 1,36 (por mulher em idade fértil), respetivamente. Este não é um desenvolvimento único de Portugal. Em nenhum dos países da União Europeia está assegurada a substituição das gerações. O problema é que em Portugal, a tendência é mais acentuada. Daí a nossa necessidade para olhar para este problema.

Com o alargamento da esperança média de vida e com a redução da fecundidade e natalidade, podemos observar que Portugal tem cada vez mais idosos e menos jovens, ou seja, menos ativos por inativos. E este é um problema sério para Portugal e para o seu desenvolvimento económico e para a saudável substituição de gerações que, todos, deveríamos ambicionar.

A curto prazo, a tendência relativa aos dados apresentados não se irá inverter, e por isso, é necessário olhar para outros instrumentos e dados para que possamos aumentar a nossa população em idade ativa.

É importante nesta fase desfazer alguns mitos. Todos, creio, temos a ideia de que a população está a diminuir, mas não. Segundo a ONU, em 2050 teremos no mundo cerca de 9 mil milhões de habitantes. Dito assim pode até não parecer um aumento significativo, mas vejamos que entre 2010 e 2050 o aumento será igual ao total de habitantes em 1950, e por aqui, acho que já todos percebemos a dimensão.

Não é grave haver menos população, em Portugal ou noutro país qualquer, o grave é a forma como a transição está a decorrer. Para a sustentabilidade da substituição de gerações e na ótica de menos população, teríamos de ter menos jovens, mas menos idosos também. O que não está a acontecer e tal situação faz-nos incorrer em sérios problemas, nomeadamente económicos e sociais.

A questão aqui é que o aumento da população se tem verificado nos países em desenvolvimento, e não nos desenvolvidos. Ora, os países desenvolvidos e o crescimento das suas populações dependem dos movimentos migratórios. E aqui, o cenário português não melhora, antes pelo contrário. Praticamente todos os portugueses encontram na sua família casos de emigração, seja pela geração mais idosa que certamente encontrou na emigração uma saída para a melhoria de condições de vida nos anos 60, ou pelas gerações mais novas que nos últimos anos tem vindo a procurar lá fora oportunidades melhores. Os dados da emigração são idênticos nos dois períodos, sendo que as características e perfil dos emigrantes é diferente, mas isso seria uma discussão para outro artigo.

E aqui aparece-me o primeiro argumento claro de promoção de políticas de imigração. Ora, se temos tradicionalmente uma cultura emigratória, porque não aceitamos ter imigrantes em Portugal? Parece-me uma questão até de justiça social e até um dever promover tais políticas. 

Nesta fase temos já importantes elementos para formar opinião quanto à necessidade de aumento da população ativa, pela via da imigração, mas vejamos agora quando é que ela acontece de uma forma mais acentuada.


Correlações entre taxa de emprego e desemprego e os movimentos migratórios


Imigração
Emigração
Taxa de emprego
0.70
- 0.77
Taxa de desemprego
- 0.79
0.78
Elaboração própria; Fonte: Observatório da Emigração, Pordata/INE

(Nota: a escala de intensidade da correlação está compreendida entre -1 e 1, sendo estes polos os de maior intensidade, uma vez que 0 é de relação nula)

Ora, por aqui podemos ver que os movimentos migratórios estão altamente relacionados com as condições económicas, nomeadamente a oferta de emprego. Isto é, quando há emprego, tende a haver menos emigração e mais imigração e quando este escasseia, tende a haver mais emigração e menos imigração. Parece ser óbvio, mas é importante analisar o quão óbvio afinal é, e aqui ficam os dados.

Dizer, por isso, que os imigrantes vêm para tirar postos de trabalho em tempos de crise e que fazem baixar o preço de mão-de-obra quando este já é baixo, é absolutamente falso.

Recordando o conceito com que iniciei este texto, da escassez de recursos, e todos percebemos que o planeta tem os seus recursos escassos como o mais elementar de todos, a água,  por exemplo. Não podemos todos ambicionar altas taxas de natalidade e fecundidade, quando está prevista um aumento populacional mundial. E como foi também demonstrado, é o indicador emprego que serve de promoção da atratividade do nosso país para os movimentos migratórios. É com esta ideia que gostaria de terminar, pela defesa de políticas de imigração e de adaptação à realidade, deixando ainda alguns exemplos de políticas que poderiam ser desenvolvidas ou aprofundadas.

Uma vez que a imigração pode ajudar a reduzir os custos de transição, devemos por isso ter uma postura de ação e não de reação, reduzir a irregularidade que se verifica nos imigrantes, reduzir burocracia que se verifica quando um imigrante se tenta nacionalizar português, criar um visto de procura de emprego ou mesmo aperfeiçoar e adaptar aos novos tempos a lei da nacionalidade.


quarta-feira, 18 de outubro de 2017

De Pedrógão ao Orçamento de Estado, Marcelo e Constança no caminho.

Bem, na verdade nem sei bem por onde começar!

Portugal vive dias difíceis. Muito difíceis. Mas é, mais uma vez, a prova que nem tudo é economia (alguns dirão que sim, que há interesses económicos instalados... mas não é esse o ponto).

Uma coisa é para mim clara neste momento. Finalmente, António Costa cometeu um erro grave. Sim, porque quem governa, a qualquer nível, comete erros, e Costa foi cometendo os seus, mas nenhum desta dimensão.

Ele tem razão quando diz que não há varinhas mágicas, mas... a sério que foi dizer que não as há numa hora daquelas? Naquele tom? Com aquela postura? Com o que estava, naquela hora, a acontecer? Nunca o poderia ter feito, mas fez. Deve, a esta hora, dois pedidos de desculpa: 1) pelo Estado ter falhado (já chega com delay, depois de Marcelo [já lá vamos]) na mais elementar das suas funções de soberania; 2) por ter cometido um erro de inabilidade política, e sim, estamos a falar de António Costa que é muito hábil politicamente.

(Adenda: António Costa já pediu desculpa no Parlamento, enquanto o artigo estava a ser publicado. O que não invalida a opinião continuar a ser expressa para vosso conhecimento, mas fica a nota de que Costa já o fez)

Já no seguimento da catástrofe em Pedrógão, achei que a Ministra não teria condições políticas para continuar, apesar de tecnicamente ser muito boa, também é preciso habilidade e condições políticas (veja-se o exemplo de Centeno, que foi ganhando de dia para dia até ser o Ministro que é hoje), e a Ministra, claramente, a perdeu em Pedrógão. Eu concordo que a demissão fosse o caminho mais fácil e que não fosse esse o que Costa quisesse seguir, mas tinha de ser, quando ainda nem a fase supostamente mais complicada dos fogos tinha chegado (e não, eu não me junto aos especialistas florestais, de combate a incêndios e de proteção civil que de repente brotaram como cogumelos em Portugal este verão de 2017) e talvez fosse esse o motivo para a segurar, até ao fim do verão e até ser conhecido o relatório (já repararam que todos os partidos se entenderam e foi produzido um relatório transparente, independente e muito bom?) sobre esse incêndio e fossem adotadas medidas, mas este fim-de-semana retirou qualquer timming, e fez cair por terra todas as estratégias que pudessem haver.

Sejamos honestos, ninguém estava à espera que estes incêndios, desta dimensão, acontecessem! Quem é que se lembra de tal em pleno outono? Eu sei que estava bom tempo e que estava vento e que estas duas variáveis são por si só propensas a incêndios, mas também sei que já estamos a meio de outubro e que já se pode fazer as chamadas queimadas e que o "perigo já passou". A estratégia de Costa estava até bem montada, mas, tal como aconteceu no passado com Vítor Gaspar que queria sair do Governo e Passos Coelho o fez esperar, volto a criticar a "espera" face a Constança Urbano de Sousa, e pelo mesmo argumento que, aliás, é um valor na minha vida: quem não quer estar, sai. Não se deve prender ninguém a uma relação (seja ela de que natureza for).

Ora, a Ministra sai com um pedido de demissão que, a meu ver, deixa-a ficar mal a ela, mas ao Primeiro-Ministro também, passando a ideia de que estavam à procura de alguém, o que não me parece que fosse necessário. E sai pela porta pequena. Pequenina. Infelizmente. Foi, em muitos momentos, o rosto da aflição, merecia melhor desfecho. Mas depois daquela intervenção, duríssima, de Marcelo, a Ministra não poderia ficar nem mais 24 horas no Governo. 

Por falar em Marcelo, eu acabo de dizer que ele foi duríssimo, mas foi não só com a Ministra, foi também com Costa, dando a ideia de que está a dar uma última oportunidade, mas também a todo o Parlamento e à sociedade civil como um todo.
Vejamos. Quanto ao que toca à então Ministra, acho que não é necessário dissecar muito, ele basicamente lhe passou um atestado de incompetência política em direto quase a demitindo pela própria boca. Mas como foi Marcelo a falar, no seu melhor, deixou portas abertas a diferentes interpretações. Claro que foi isso que aconteceu!

(Nota prévia: não estou a criticar a intervenção de Marcelo, porque quem o conhece e quem o elegeu sabia que ele ia meter a "colherada" mal tivesse oportunidade, e a intervenção foi um mea culpa que o Governo deveria também ter feito e não o fez, o que aumentou ainda mais a pertinência da sua intervenção e que retirou, com isso, qualquer margem de manobra a este Governo)

Ora, e que interpretações são essas? É fácil de ver, a que Passos Coelho já veio materializar, a reboque de Assunção Cristas, e a de que o Orçamento de Estado tem de ser bem ponderado.

Quando o Presidente diz que o Parlamento tem de refletir bem sobre a moção de censura ao Governo apresentada pelo CDS para depois não haver equivocos, está a dizer em português corrente: vejam lá o que vão fazer, se os tiram de lá, quem é que para lá vai? E ao mesmo tempo pede reformas, caso este Governo se aguente, e só com ele pode haver no imediato. Mais uma vez, a economia não é tudo, muito menos o défice, e aqui acompanho, de mão dada, o Presidente. O défice está a ser um sucesso deste Governo, indiscutivelmente, mas eu preferia ter mais uns 0,5% de défice e ter essa margem em mais investimento no país, nomeadamente em matéria de atratividade do interior e de prevenção contra causas naturais (incêndios, cheias e afins).

Já agora, e se o Governo cair? Quem vai a eleições pelo PSD? Será que esta pode ter sido vista como a janela de oportunidade para a sua sobrevivência, por parte de Passos Coelho? Próximo artigo, brevemente.

Não posso terminar sem deixar uma palavra, sentida, a todos os afetados pelos incêndios, que deflagraram em Portugal, que deve ser já um fenómeno quase comparável ao da emigração na medida em que todos já devemos conhecer alguém que tenha relações, mais ou menos diretas com pessoas ou localidades afetadas pelos incêndios. Aos bombeiros, mas também aos polícias municipais e PSP, assim como GNR e "heróis" que foram surgindo, o meu muito obrigado.


quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Autárquicas Mindelo

Ora, já há muito que andava para publicar este texto acerca das eleições autárquicas na minha freguesia, Mindelo.

Primeiro, estava à espera da apresentação dos candidatos, uma vez que sou também candidato, mas depois fui percebendo que haveriam outros pontos a abordar. Curiosamente, este texto será sobre esses pontos.

Em primeiro, e porque acredito que a política é feita de valorização sempre em primeira instância, falar da candidatura do Partido Socialista à freguesia de Mindelo, encabeçada pelo Domingos Duarte. Em segundo, dar resposta a quem possa duvidar da minha condição de mindelense. Por fim, deixar a minha visão acerca de 3 das 5 outras candidaturas ao mesmo órgão autárquico.

Em ciência política, estas eleições seriam naturalmente ganhas pelo Domingos. O Domingos é um homem da terra. Conhece os Mindelenses e os Mindelenses conhecem-no. Mas isto é só a ponta do icebergue. Todas as associações Mindelenses que pediram colaboração ao Domingos, ele disse sim. Quando a junta de freguesia lhe pediu ajuda pelas diversas vezes, ele disse sempre sim, e a zero, sem receber qualquer honorário. Ele é um candidato que conhece todos os dossiers que dizem respeito a Mindelo. Fala deles todos, sem problemas (mas escusam de o chamar sem qualquer critério só por fachada, para isso o Domingos não está disponível, creio). E não, não é só passado, o Domingos quer fazer parte do futuro de Mindelo. Por isso ele candidata-se com um projeto para 4 anos, pelo menos. Para quem acha que ele se vai demitir, como aconteceu com os dois últimos presidentes eleitos pelo Partido Socialista em Mindelo, esqueça, não vai acontecer.

O próprio PS está de parabéns. É poder há mais de 10 anos e ainda assim consegue apresentar-se a eleições com uma lista renovada, onde os primeiros lugares foram confiados a novos elementos, que não faziam parte da lista de há 4 anos e têm uma média de idade bastante jovem para o habitual.

Quanto a minha condição de mindelense, não preciso de ir muito longe. Vejamos a sede de campanha do PS (já agora, as outras candidaturas têm sede de campanha?), fica mesmo ao lado da casa onde cresci, a uns 150metros da escola primária que frequentei, da padaria onde ia buscar pão todos os dias, a beira do café do avô do meu amigo de infância onde passei tardes a jogar PSP (playstation portable), o supermercado onde fazia compras e o restaurante com diária onde comia frequentemente, e a piscina mesmo ali ao lado, onde passei tardes de verão nos míticos e saudosos anos 90 e início do novo milénio! Do outro lado da rua da sede, fica o restaurante que me sinto em casa e que ia frequentemente buscar takeaway... É preciso mais? Calculo que não mas ainda assim, há Mindelenses que se lembram de me ver com uma mochila de campismo maior que eu na estação de comboio (muitos anos atrás certo?) quando arrancava para mais um acampamento do agrupamento de escuteiros 572, joguei (não muito bem, mas enfim) no interfreguesias pela ACDM. Já agora, por falar em ACDM, fiz parte dos per'curtir nos seus primeiros anos e fiz parte da direção antes da atual tomar posse.
Naturalmente que a vida da voltas e por vezes gostaria de estar presente de uma forma ainda mais ativa mas, ainda há dúvidas de alguma coisa?

As outras 3 candidaturas que me vou sucintamente expressar, a NAU, PVC e PSD /CDS.

NAU apresenta como candidato o Cláudio Matos, andou comigo na escola mas, a sério que é preciso juntar os candidatos pela NAU em Vila Chã para as ações de campanha? Estão a pensar unir as freguesias em caso de vitória?

PVC apresenta a Ermelinda Dourado como candidata. Mora na minha rua e já muito se envolveu na freguesia. Admiro bastante essa postura pró-cidadania. Admiro de tal forma que tenho até pena de ela ter deixado de ser a candidata de Mindelo pelo Partido Socialista à Assembleia Municipal, uma vez que ao longo dos últimos 4 anos nos representou como tal. Mas enfim, a independência falou mais alto e a democracia fica a ganhar mais uma candidatura.

PSD /CDS apresenta Carlos Maia, que para mim não é Carlos Maia mas sim o chefe Maia. Foi meu chefe de escuteiros e continuei sempre a cumprimenta-lo como escuteiro, e os escuteiros sabem como é. Respeito-o e admiro-o bastante, mas não posso concordar com a sua grande bandeira nesta segunda tentativa, consecutiva, de conquistar a junta. Colocar Mindelo no mapa é o objetivo de todos os Mindelenses, mas ambos sabemos que não depende da junta de freguesia mas sim do processo judicial que se arrasta já há demasiado tempo. Consequências de uma justiça morosa como a que Portugal tem...

Com tantas opções, os Mindelenses têm o dever redobrado de votar. A abstenção não pode ganhar, uma vez mais, na nossa democracia. Mindelo é e será dos Mindelenses, cabe-nos a nós decidir o futuro da nossa terra.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O défice continua a não ser tudo



Não é por causa do Governo agora ser do Partido Socialista ou pela minha admiração por António Costa, nem tão pouco do défice ter, em 2016, registado o valor mais baixo de sempre em democracia que me vão ver a defender que o défice é de primordial importância na vida dos portugueses, ou até de qualquer outro povo.

Porém, é de inegável discussão a sua importância para a economia, pelo simples facto de que é um dos principais indicadores e que reflete o estado das contas de um país, mas não é tudo, refiro uma vez mais.

Esta obsessão que tem havido em torno dos números do défice ao longo dos últimos anos, e que consequentemente nos atira para a selva dos mercados, não pode continuar, nem mesmo quando os números são melhores, ou no caso, menos maus.

O défice, segundo António Costa, atingiu em 2016 o mínimo histórico do Portugal democrático, 2,3%, sim, dois vírgula três pontos percentuais em relação ao PIB. Ou seja, ou andamos a gastar menos ou a produzir mais, mas a verdade é que esta relação despesa pública e produção interna bruta está melhor de que nunca!

São bons sinais, sim, mas não é tudo. Muito falta a fazer, e a começar pelo défice, que se possível, não deve existir. Depois no emprego, a taxa de desemprego ainda tem dois dígitos, a do desemprego jovem é ainda muito elevada, o emprego que temos em Portugal é ainda muito precário, enfim, muitas outras coisas que temos um caminho, longo a percorrer.

Não obstante, o que estes dados nos mostram são, essencialmente duas coisas: primeiro que havia alternativa, que havia outro caminho, em segundo lugar, mostra que esse caminho, sendo que longo, está a ser percorrido.
Estas são para mim, as duas principais evidências que podemos retirar, mas temos outras, como por exemplo, o facto de o virar da página à austeridade ser uma realidade, o acordo das esquerdas afinal consegue ser cumprido, que existia e existe um espaço, mesmo que do tamanho do buraco de uma agulha, entre o acordo parlamentar que suporta o Governo e as instituições europeias. Por fim, salientar apenas que, a meu ver, só é possível porque é o António Costa a chefiar este Governo, um homem paciente, de consensos e dialogante.

É por esse Portugal que nos temos que bater e que, naturalmente, se expressará em indicadores económicos numa perspetiva de resultados das políticas adotadas e não como base das mesmas.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Quarta temporada de TSU



Há quem diga que a sorte dá trabalho, que não acontece por acaso, mas de facto, este Governo está a gozar de uma sucessão de facto muito conveniente.

É a economia que melhora, é um acordo que foi celebrado entre partidos que negam a pretensão de estar na União Europeia e o partido que  fez com que essa entrada fosse possível, são Orçamentos de Estado aprovados em Portugal e sem contestação na Comissão Europeia, são as sanções que afinal não se aplicam... Enfim, acho que já perceberam.

Isto vem a propósito da mais recente novela da TSU protagonizada pelo PSD que tem Passos Coelho no papel principal.
Atenção que está novela não vai na primeira temporada! Passos Coelho já se bateu com a TSU três vezes, e as três vezes saiu derrotado. Em 2010 contra Sócrates, 2012 contra os portugueses e a terceira contra os pensionistas, ah, e Paulo Portas também, claro.

O partido que sempre esteve a favor destas medidas, sim porque é habitual associar uma subida do salário mínimo nacional à redução da TSU, e o PSD no Governo fê-lo, parece estar agora, por pura estratégia política, estar contra.

O problema para o PSD é que há estratégias que saem furadas, e está parece ser a mais recente.
Vejamos porquê. Se o PSD votar favoravelmente, vai de encontro com a sua posição de sempre, e apesar de ser hoje oposição, mantém coerência, mas para tal, Passos Coelho terá de voltar atrás com a palavra uma vez que já disse que iria votar contra e que quando a geringonça precisasse o PSD não iria aí estar. Mas porque é que é preciso o PSD? Simples, porque o BE e o PCP vão ser fiéis à sua ideologia e vão votar contra.
Mas então, o que acontecerá se o PSD votar contra? Passos Coelho fica-se a rir? Não, e o motivo é simples também, está a ir contra a ideologia politica do partido por mera estratégia, e faz com que o acordo de concertação social caia por terra, o que ficará sempre com esse ónus.

Resumindo, Passos Coelho está cada vez mais só na liderança do PSD, depois do imbróglio com as autárquicas, nomeadamente em Lisboa, o ex-Primeiro Ministro parece ter encontrado outra pedra no sapato. A esta hora, deve estar Paulo Portas a rir e a dizer: bem fiz eu que saí de cena.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Mário Soares, o legado da liberdade



Hoje é dia 9 de Janeiro, uma segunda-feira. Portugal está de luto, inicia-se hoje 3 dias de luto nacional. Mário Soares faleceu no sábado, dia 7. Portugal não será mais o mesmo.

Mas para a família socialista, Mário Soares não foi a única perda deste fim-de-semana. Guilherme Pinto, Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos partiu domingo de madrugada.

Pessoalmente, não tenho qualquer episódio para contar que tenha vivido com qualquer um deles. Não me lembro de travar conversas com ambos. Mas lembro-me de ser educado, de crescer e aprender e de me guiar com ideais e com posturas que destaco de cada um deles. A principal? Liberdade.
A minha mãe educou-me com um valor sempre presente, como com um pilar inalienável. Liberdade. Esse é o maior legado que tentarei transmitir um dia a geração futura do meu nome. Mário Soares deixa um legado que fez dele o maior de todos, maior do que ele mesmo, deixou Portugal como ele é hoje, um país livre.

Neste preciso momento estou no comboio a viajar para Lisboa, como tem sido hábito nas últimas segundas-feiras, mas desta vez, a tarde será diferente. Farei questão de estar presente no Mosteiro dos Jerónimos para prestar a minha mais singela homenagem. Acho que é daquelas coisas que se não o fizer, um dia vou olhar para trás e me vou arrepender amargamente. Sei que se a minha mãe estivesse em condições de ir, iria também, por isso, é também por ela, pela educação que ela me deu, pelos valores que me transmitiu que eu hoje lá estarei presente.

Numa das primeiras semanas em Lisboa, fui à sede do Partido Socialista preencher a minha ficha de militante e depois desci a rua de São Bento e só parei na Fundação Mário Soares. Mostrei a minha admiração pelo pai da democracia e fiz uma pergunta: como é que é possível ter um livro autografado pelo ex-Presidente da República? A senhora com quem eu estava a falar disse-me que não seria possível uma vez que ele já não ia com regularidade à Fundação por motivos de saúde. Já estava perto de completar os 92 anos que ditaram a sua ida. Contudo, a simpática senhora com quem falei, ligou à secretária de Mário Soares e tive a felicidade de receber um exemplar do livro que tem pautado a minha postura nos últimos anos: Um político assume-se. Mas não é um mero exemplar, este tem uma chancela. Talvez aquela minha visita, pelo significado de ter sido das primeiras coisas que fiz em Lisboa, a par de ter sido imediatamente após a minha inscrição no partido que ele fundou tenha sido a maior homenagem que eu possa ter prestado. A única satisfação neste momento, é tê-lo feito em vida.

Deus que foi Deus, não agradou a todos. Mário Soares, republicano, europeísta, democrata, socialista e laico, não o iria fazer certamente. Este é o momento de recordar o melhor que ele nos deixou, Portugal tal como ele é hoje.

Guilherme Pinto era um autarca que deixa uma obra marcante no concelho de Matosinhos, mas deixa muito mais do que essa obra, deixa uma postura e uma atitude de referência a qualquer um de nós. Um socialista de longa data, um homem que sabe o que defende e porque defende, desfiliou-se do Partido Socialista em 2013 para se candidatar à câmara municipal como independente, uma vez que não se revia na estrutura do partido para aquela concelhia. Mostrou independência e atitude. Nas eleições, venceu. Lembro-me da última vez que estive com ele, foi no Porto, numa iniciativa promovida por António Costa no conservatório em abril de 2015. Claro, o Tiago Maia, camarada e amigo de longa data estava lá. Mas foi essa independência e liberdade que mostrou, que fizeram dele a referência que será, tal como ontem, amanhã também. Felizmente, uns escassos dias antes de falecer, voltou a filiar-se no Partido Socialista, o seu partido de sempre. Fê-lo no dia seguinte a renunciar ao cargo de Presidente precisamente por motivos de saúde.


São, sem dúvida alguma, duas grandes perdas para o Partido Socialista, mas essencialmente, para o norte e para Portugal. Fica a obra de ambos.