terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sobre o novo Governo

Tal como escrevi ontem ao final do dia, hoje seria de esperar que Cavaco Silva indigitasse António Costa como Primeiro-Ministro de Portugal. Ora, aconteceu mesmo, e ainda hoje ficamos a conhecer o novo elenco governativo.

Para o novo Governo, temos o regresso do Ministério da Cultura (sim, eu sei que o Governo que não o chegou a ser na prática de Passos Coelho também tinha novamente este ministério, no entanto, todos sabemos que foi promessa do PS o regresso desta pasta) e também o regresso do Ministério do Ensino Superior, que teve como figura Mariano Gago.

Outro ponto positivo que vejo neste Governo é o surgimento de alguns outsiders da política, pessoas vindas das universidades e grandes instituições, como por exemplo Tiago Brandão Rodrigues e Mário Centeno.
Mas este último Governo, aquele que perdeu as eleições dia 4 de Outubro, mostrou-nos que nem sempre estas surpresas são eficazes e eficientes, mas vamos acreditar que foi uma exceção apenas.

Eventualmente, poderão dizer que temos agora como ministros caras que eram já de outros Governos e que soam a nomes de sempre, nomeadamente dos Governos de Sócrates e das fileiras mais vincadas do PS, como por exemplo Augusto Santos Silva e João Soares. Porém, são duas pessoas que deram provas que são capazes de assumir responsabilidades desafiantes e fazer um bom trabalho.

Para finalizar, duas notas. Primeira é que temos no Governo uma ministra com origens Vilacondenses, falo de Constança Urbano de Sousa com a pasta da Administração Interna e a segunda nota é que tenho uma meia dúzia de nomes nos quais deposito muita esperança, e obviamente expectativa para ver o seu desempenho nas novas funções pela minha admiração por eles, nomeadamente: António Costa, Augusto Santos Silva, Mário Centeno, Pedro Nuno Santos, Manuel Caldeira Cabral e Tiago Brandão Rodrigues.

De Cavaco Silva até ao Novo Banco. Uma viagem curta

Para mim, hoje foram duas as noticias que marcaram o dia.

Primeiro, e logo pela a manhã, Cavaco chamou Costa a Belém, não para o indigitar, mas para lhe pedir mais esclarecimentos. Ora, vistos os esclarecimentos que pediu, mais não era do que o pedido de formalização e responsabilização da postura do PS e nomeadamente de António Costa perante aqueles 6 pontos, que estavam, diga-se, quer no programa do Partido Socialista, como também tem sido largamente explicado pelo líder socialista, e outros responsáveis deste partido em entrevistas e declarações.
Porém, e tendo em conta que estamos a falar do ainda Presidente da República Cavaco Silva, até que entendo o que fez e pediu. Sim, a mim não me escandaliza nada que o tenha feito. A partir do momento em que indigitou Passos Coelho, já sabendo que este seria chumbado, se sabe que Cavaco Silva tentaria, até à 25ª hora evitar aquilo que é inevitável, que António Costa venha a ser Primeiro-Ministro. E este pedido de esclarecimentos, para mim, não é mais do que uma pré-indigitação, mas também um pedido de uma folha que mais tarde seja utilizada como escudo contra qualquer acusação que a direita possa fazer ao PR de ter empossado a esquerda.
Certo é que Cavaco Silva tem ainda uma veia imprevisível, mas penso que amanhã, dia 24 de Novembro, tenhamos a indigitação de António Costa.

A outra notícia é o despedimento de 1200 funcionários do Novo Banco. Desde o dia em que esta solução, muito pouco clara, diga-se, para o BES foi encontrada, que eu desconfio da sua eficácia e eficiência. Senão vejamos. Primeiro, temos uma solução que não iria ter qualquer custo para os contribuintes. Ora, nos dias de hoje, e no nosso sistema bancário, dar uma garantia destas, é demagogia, mas quando existe uma capitalização por parte da Caixa Geral de Depósitos (maioritariamente estatal) no Novo Banco, este risco para os contribuintes torna-se inevitável. Depois, mais tarde, já seria preciso mais capitalização, e aí já seria possível prever alguns encargos para os contribuintes, ou seja, foi fazer o primeiro passo novamente, mas sem mentir, totalmente, aos portugueses. E agora, um despedimento coletivo de mais de 1000 funcionários.
O mais engraçado de tudo, é que os media, ao darem a notícia, mostram o exemplo do BBVA, que despediu no ano passado cerca de 150 funcionários (reparem na diferença) e obteve um lucro de 1M de euros com essa "manobra laboral". Ou seja, a noticiar como algo positivo. E enquanto forem pessoas despedidas para colmatar erros de gestão, o país não pode avançar. Seja ele qual for.

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A semana de Cavaco Silva

É extraordinário o que o nosso Presidente da República, que é só o chefe de Estado, está a fazer esta semana.

Lembram-se de no passado dia 5 de outubro não ter participado nas comemorações por causa do momento que exigia reflexão? Então e esta segunda e terça? Não exigiam reflexão também? 
A não ser que tenha ido até à madeira para refletir, fazendo dessa viagem um retiro espiritual, não vejo motivo algum para ter lá ido num momento em que a celeridade deveria primar.

Depois tivemos uma primeira declaração que foi no mínimo, incendiária. Recordar que teve 5 meses como Governo de gestão enquanto Primeiro-Ministro é quase tão bom como chamar piegas aos portugueses. E o que é que uma coisa tem a ver com a outra? O mesmo, o ignorar da situação que os portugueses se encontram e as consequências das medidas e decisões tomadas.

Mas o copo de água enche quando diz, num momento em que os portugueses ainda não viram os resultados da melhoria do estado das contas publicas, porque na verdade, essas não melhoraram. que existe uma almofada financeira substancialmente melhor que em 2011, e que nem diz o quanto tinham os nossos cofres por tão pouca que era a quantia. Ora, primeiro ponto, se não fosse uma quantia baixa, não teria sido necessário pedir auxílio externo. Ponto número dois, é suposto ser o nosso chefe de Estado a alarmar? A gerar desconfiança? A lançar o medo? A lançar a preocupação? E por fim, terceiro e último ponto, o Primeiro-Ministro de então não se reunia semanalmente com o Presidente da República? Não havia uma prestação de contas constante? Todas as leis não foram aprovadas pelo crivo do Presidente? Ora, o Presidente não tem aqui responsabilidades? 

Agora, o copo transborda quando coloca a audição de banqueiros e economistas (segundo a capa do jornal i de hoje, são todos contra um Governo PS, ou seja, em Belém prima a pluralidade) à frente da audição dos partidos com assento parlamentar, ou seja, os eleitos e quem representa o povo.

Mas este artigo termina com uma boa notícia. Dia 24 de Janeiro, ficou hoje a saber-se, iremos ter as eleições para eleger aquele que terá a espinhosa tarefa de voltar a dignificar o mais alto cargo da nossa democracia.

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Existem dois silêncios que não deviam existir...

Por estes dias, existem dois silêncios significativos. Duas vozes que faziam falta a todos nós ouvir.
Um não fala porque, infelizmente, já não está entre nós. O outro, não fala porque, talvez, não lhe convém.

Falo de Miguel Portas e Marcelo Rebelo de Sousa.

Esteja onde estiver, Miguel Portas há-de estar contente com o que se está a passar no nosso país. Um dos seus sonhos, ver a esquerda unida, está agora a ganhar um formato que talvez até o próprio o tivesse numa gaveta rotulado de “utopia”, ou na melhor das hipóteses, rotulado como “longínquo”. Miguel, que foi um dos fundadores do Bloco, daquele Bloco que sabia o que queria, ao que vinha e que caminho não queria seguir. Era um daqueles intelectuais que hoje faz falta, e muita falta fará amanhã. Depois de um período menos feliz do Bloco de Esquerda, em que perdeu metade dos seus deputados e teve uma liderança sem liderança, ao longo da passada legislatura (perdão, da XIX legislatura, porque entretanto houve outra), esteja onde estiver, Miguel vê o seu partido reencontrar-se e tornar-se um partido de apoio ao Governo, e não apenas um partido de protesto, como foi o PCP ao longo de 40 anos. Aconteça o que acontecer, esse mérito ninguém tira a Catarina Martins, foi capaz de, com o mesmo número de deputados que anos a fio o PCP contou, fez muito mais do que o PCP durante anos fez. É certo também que, sem a postura do PCP, Catarina não faria nada disto, nem tão pouco António Costa, mas estou aqui para relembrar o Homem que, esteja onde estiver, está orgulhoso, certamente.

O outro silêncio que, a todos nós nos diz respeito e devia já ter tomado uma postura, é o de Marcelo Rebelo de Sousa. Sim, estou a falar daquele indivíduo que, semanalmente, falava para mais de 1 milhão de pessoas sobre tudo e mais alguma coisa, do desporto, especialmente futebol aos livros, de promover atividades associativas à política, Marcelo tinha sempre uma palavra a dizer. Fosse essa palavra a favor ou contra o seu próprio partido. Fosse essa palavra a favor ou contra o Presidente da República, de quem é conselheiro. Fosse essa palavra a favor ou contra o Primeiro-Ministro, por quem nunca morreu de amores (e vice-versa). Lá estava, domingo à noite, ano após ano, o seu comentário, as suas audiências, a sua popularidade. Li por estes dias num artigo de opinião e concordo plenamente: é certo que Marcelo não é hoje comentador mas sim candidato, mas também é certo que foi a atividade de comentador que o colocou na posição favorável que hoje se encontra como candidato a Presidente.


Pelo menos eu, gostava de ouvir qualquer coisa, quer de Miguel como de Marcelo. São dois silêncios que não deviam existir.

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

A TINA não mora em Portugal

Ao ler o Expresso Curto de hoje, senti uma enorme satisfação por ter votado numa das forças que ontem derrubou o Governo de direita. Segunda esta newsletter, a imprensa internacional destaca o facto de a esquerda se ter unido para por termo à austeridade.
Que melhor expressão para noticiar o que ontem se passou?

Claro que, muitos meios de comunicação social portugueses tentam vender a ideia de que poderemos tornar numa Grécia com crise política profunda, tentam não olhar tanto para exemplos de países europeus onde quem governa não é quem venceu as eleições. A Dinamarca por exemplo, que todos idolatram o seu estilo de vida, é um desses países!

António Costa afirmou logo, no seu discurso de derrota, sim, porque o PS perdeu as eleições, não as venceu, não foi capaz de capitalizar os votos de desagrado dos eleitores descontentes, que não contribuiria para uma maioria negativa, ou seja, só não faria passar o programa de Governo se tivesse consigo uma alternativa. Ora, acontece que essa alternativa foi, finalmente, construída. Não foi o PS quem venceu as eleições, não nos iludamos, mas foi sim a esquerda, e a esquerda soube ler esse resultado. Quem votou no BE e no PCP, para além dos seus votos mais fieis, são eleitores que não viram no PS, por si só, a capacidade de capitalizar o seu agrado. Ora, a haver um acordo entre os partidos de esquerda, o PS sabe que tem de com estes negociar, chegar a consenso, mas... quem não teria?

Creio que muito políticos e pseudo-políticos e aspirantes políticos ainda não perceberam uma coisa. A política hoje já não se faz como nos anos 90. Já não é uma t-shirt e uma caneta que influenciam um voto. As pessoas querem políticas reais, querem qualidade de vida, querem futuro para os filhos, querem estabilidade para as suas reformas, querem políticas sociais, querem um sistema de educação eficiente, querem um acesso à saúde sem olhar a carteira, querem uma justiça justa e imparcial. Aquele político que ainda pensa que basta aparecer nos 6 meses antes das eleições, pode bem tirar o cavalinho da chuva.
Ao fim e ao cabo, este Governo, com a ajuda de Cavaco Silva, fez prolongar as eleições para depois do verão na expectativa de obter um bom resultado com propaganda e populismo de chinelo no pé, mas a verdade é que 700 mil eleitores não se esqueceram de retirar a confiança que tinham depositado em 2011, e esse foi o verdadeiro fator decisivo no dia 4 de Outubro.

Hoje, em todo o mundo, Portugal é notícia porque a esquerda se uniu para derrotar a austeridade, e isso é que é factual.
Existe uma alternativa, e resta a Cavaco Silva permitir que ela seja posta em prática.
A TINA (There Is No Alternative) não mora em Portugal.


Chegou ao fim a aventura da austeridade.

Já estava anunciado o fim a um Governo de Passos e Porta, mesmo antes das eleições.
Uma vez consumado o resultado eleitoral, a sua vitória como força mais votada apresentada a eleições, verificou-se que o inédito estava a acontecer. Nunca na nossa história um partido venceu as eleições sem que a sua "ala ideológica" a vencesse também, isto é, os governos com maioria relativa tiveram sempre do seu lado (esquerda ou direita) a maioria dos votos. 2015 mudou este paradigma. Pela primeira vez, a coligação de direita venceu mas foi a esquerda que mais votos obteve. 

Esta foi e é a grande e significante diferença que até agora, muitos continuam sem perceber.

Hoje, na Assembleia da República, foi rejeitado e posto fim aquele que ficará na nossa história, como o Governo mais curto da nossa democracia. 11 dias apenas. Sim, 11 dias.

Restará agora a Cavaco Silva tomar uma decisão, sendo que não deverá adotar outro caminho que não a indigitação de António Costa  para Primeiro-Ministro.
O desafio é grande. A expectativa é enorme. Será um Governo que ficará, mais do que os outros, debaixo de fogo.

Houve um acordo assinado, histórico e que deixa a direita sem saber o que fazer ou dizer. O medo de que corra bem tem assombrado Passos e Portas.

Eu quero acreditar que correrá bem. Acredito em António Costa e nesta geração que o tem rodeado. Sem bem que o PS tem bons deputados. O PS prestará um bom serviço ao país. Essa é a minha crença.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Para aqueles que comparam os portugueses aos refugiados

Ando a ficar chocado e seriamente preocupado com o que tenho visto no Facebook e em muitas conversas de café e transportes públicos.
Não me refiro à possibilidade de um Governo de Esquerda, nem mesmo ao ignorar de 1 milhão de votos de Cavaco nem tão pouco por já ter passado quase 20 dias e Portugal não ter ainda apresentado um esboço do próximo Orçamento de Estado à Comissão Europeia, falo de algo muito maior, um problema que nos assombra a todos e cada um de nós, mas, por mero egoísmo ou pura e simplesmente xenofobia não vemos, ou não queremos ver e ficamos quietos, no nosso canto.
Pior, por qualquer um dos motivos acima referidos, temos atitudes desumanas, e publicamos com muito orgulho, através de post's, imagens comparativas ou outras, nas redes sociais, à espera de likes e partilhas. Que não passam de uma transformação de vergonha pessoal para vergonha coletiva por parte daqueles que alinham e alimentam estes comportamentos. Mas eu digo, desde já, comigo não contarão para essa causa de desumanização da nossa sociedade. E quando digo nossa sociedade, não falo apenas de Portugal, porque a verdade, a boa verdade, é que o mundo é muito pequeno, e a sociedade é global, e o problema de uns, são o problema de todos, quer queiramos ou não.

Acerca dos refugiados, para aqueles que não tinham ainda percebido o tema, é com muita pena minha que vejo e oiço pessoas a comparar a situação de portugueses à dos refugiados, que comparam a nossa cobrança de impostos para alimentar o nosso sistema de segurança social e Estado Social (RSI, reformas, SNS, Educação, ...) à de outros, que vivem em guerra, ditadura, desespero e fome. Sim, porque está é que é a verdade.

Muitos dos que hoje partilham essas imagens, procuram apoio social nas suas declarações populares e populistas, são os mesmos que em Setembro partilharam a imagem de um bebé, que sem culpa nenhuma foi privado de viver neste mundo.

Outro aspeto interessante, é pensar que vivemos na União Europeia. Quero com isto dizer que vivemos uma união de base solidária. Hoje, por força de alguns líderes que procuram asfixiar países mais vulneráveis para fazer esquecer a história, essa base solidária parece escondida em muitos aspetos, mas cabe à Europa dar resposta a esta crise humanitária, em centenas de milhares de pessoas arriscam a própria vida para terem a sua oportunidade de melhorar a vida neste continente, que nós, muitas vez desprezamos.

É importante ainda lembrar que, quando comparamos os portugueses a estes, estamos a comparar entre duas classes de sortudos, sim sortudos. Os portugueses porque vivem num país maravilhoso, que apesar de viver uma crise económico-financeira, tem todas as condições para se viver com paz, não se mete em conflitos maiores, não somos chamados a intervir em missões de guerra... Temos os nossos problemas claro, temos pessoas a passar mal, temos assimetrias que urgem em ser colmatadas, mas não somos a Síria. E os refugiados que os portugueses se comparam hoje em dia, são os sortudos que conseguiram entrar na Europa, atravessar o mar com vida, resistiram ao bombardeamento que houve à porta de sua casa, à perda dos que mais amavam, à fome... Enfim, a tantas outras calamidades.

Por favor, tenham noção do ridículo.