segunda-feira, 12 de março de 2018

Na casa do vizinho... dois quarteirões ao lado

Falar do congresso do CDS-PP é, para mim, como falar da casa do vizinho.
Mas a verdade é que nem eu sou porta voz do PS e nem o PS e o CDS-PP estão assim tão próximos para serem verdadeiramente vizinhos.

Este congresso demonstra uma de duas coisas:
- Ou há de facto falta de conteúdo jornalístico em Portugal;
- Ou estamos perante uma operação de maquilhagem, com branding à mistura, como já não se via há muito tempo, creio.

Vamos por partes. Primeira coisa. Paulo Portas? Onde? Exato, lado nenhum a não ser, claro, num vídeo. Paulo Portas, até agora o sempre disponível para o CDS, não pôde comparecer no congresso do CDS-PP (estão a sentir a diferença? Já lá vamos).

Mas adiante. Não é propriamente Paulo Portas que quero falar. Dele, falaremos daqui a uns 8 anos. Veremos.

Se Assunção Cristas soube lidar e aproveitar bem o espaço deixado pela não oposição de Passos Coelho ao Governo e essencialmente, o desaire das autárquicas, principalmente em Lisboa, muito melhor está agora a fazer com Rui Rio.

Rui Rio, de quem ainda não falei aqui no blog depois de ser eleito líder da oposição (existe?), tem tardado em se afirmar, e os passos que tem dado são de completa rutura com o PSD que estava instalado, confortavelmente. Há um senão. A sua vitória não foi assim tão expressiva para tal rutura. Mas isso é outro artigo, daqui a uns dias, até porque o quarteirão a que o PSD fica do PS não é assim tão distinto do CDS-PP.

Vamos já esclarecer esta questão do CDS e do CDS-PP. É que com a vitória de Rui Rio sobre Santana, o PSD deslocou-se ligeiramente para o centro uma vez que ficou mais longe do PPD-PSD de Santana Lopes. Ora, criou-se assim um espaço que pode ser aproveitado pelo CDS-PP e não pelo CDS. Qual a diferença? É que o CDS, de Paulo Portas, era a moleta de quem fosse preciso para chegar ao poder, era o centro direita, mas tal como "Chicão" (como Francisco Rodrigues do Santos é conhecido) fez questão de levar a congresso na sua intervenção, explorou bem o lado mais conservador do CDS (-agora PP).
Adolfo Mesquita Nunes, que há bem pouco tempo foi notícia e virou político de direita trendy, quer também ganhar espaço e há mesmo quem diga que os dois se vão defrontar no futuro (sim, já estamos no campo da futurologia em política), prometeu a Francisco um lugar na Assembleia da República como deputado. Portanto, no futuro, será visto como o Júlio Isidro do CDS-PP? A verdade é uma, se for para se defrontarem, esta promessa, pública, será como uma pedrinha no sapato de Chicão.

É importante, agora a terminar, falar de 3 coisas. A Assunção Cristas, que quer ser Primeira-Ministra, do militante que não passou na TV à hora do jantar, mas que é de Viana do Castelo e esperou o dia todo para falar, olhos-nos-olhos com a líder aclamada e ainda do CDS (PP ou não) que Governou Portugal.
Assunção Cristas, que também governou Portugal entre 2011-2015, diz que se vê como Primeira-Ministra, e tem já a solução na manga. Pela intervenção dela, em que reconhece que para governar não é preciso ganhar eleições, mas sim contar com 116 deputados e quer ser a primeira escolha. Ora, ou o CDS-PP tem mais deputados que o PSD, ou então o PSD de Rui Rio, que parece não querer saber de 2019 terá de ceder o cargo de Primeira-Ministra para uma coligação pós-eleitoral. A esta altura, e estamos muito longe, parece certo que vão a votos separadamente. Por aqui já se vê, falta um quê que estratégia, mas tudo bem. Ser Primeira-Ministra quando se lidera um partido que tem menos de 7% das intenções de voto, parece de facto ser megalomania como diz Marques Mendes.
Entretanto, um militante de Viana do Castelo foi ao congresso reclamar a Assunção Cristas o pouco tempo que passou na concelhia dele e denunciou que o líder da sua distrital desrespeitou o partido ao lá ir apenas negocial lugares... Enfim, não sei bem o que dizer, fico-me entre o "bom dia meu caro" e o "falta mais pessoas assim nos congressos (plural)". Prefiro, obviamente, a segundo. Porque a primeira hipótese revela o óbvio, a podridão nos partidos (plural, outra vez).
Por último, não podemos esquecer o mais importante, o CDS-PP participou no Governo de Durão Barroso, que ficou a meio, e no Governo de Passos Coelho, que apesar de ter cumprido um momento difícil da nossa democracia, quis ser mais troikista do que a troika, e foi aqui que eu entendo que errou essencialmente. Podemos ainda relembrar que Assunção Cristas permitiu, na sua governação, a plantação de vários hectares de eucaliptos. Eu sei que se não tivessem sido os incêndios do ano passado, ninguém queria saber. Mas se não tivessem sido essas tragédias, teríamos tido o melhor ano da nossa democracia (dito pelo Marcelo).

CDS e CDS-PP, essa operação de maquilhagem não nos engana, e não precisamos de pensar muito, muito, muito, como Assunção Cristas em relação à pena que possa ter dos touros das touradas.

Sem comentários:

Enviar um comentário