terça-feira, 8 de junho de 2021

Ranking das Escolas e a Escola de Lustosa

Na passada semana, ficamos a conhecer o Ranking das Escolas 2020, que este ano tem contornos especiais. Se já era um instrumento contestável, tornou-se ainda mais dúbia a sua utilidade.

O ranking das escolas, que este ano conheceu a sua 20ª edição, não é mais do que uma ordenação de todas as escolas com base na média dos exames realizados nesse ano letivo em causa.

Este ano, com a pandemia e com as alterações a que se assistiu, como a inédita escolha por parte dos estudantes de quais os exames que iriam fazer, caso o entendessem fazer, isto é, apenas aqueles que contariam para o ingresso no ensino superior. Façamos agora aqui uma pausa. Quem é que se iria dispor a fazer um exame? Os alunos que esperam entrar na faculdade, que abdicaram de fazer algum exame para se dedicar a outro e que sabem que a sua vida depende daquele momento. E esta é a razão pela qual as médias subiram de forma geral.

Eu sou um produto da escola pública, no meu caso concreto, de várias escolas públicas. Não passei pela privada. Apenas conheço relatos e leio várias coisas, mas não passa disso. O sistema de ensino no privado, tanto quanto sei, é muito focado nos resultados nos exames, já a escola pública tem outra missão. Os pais ao inscreverem um filho na escola pública, perto de casa ou do posto de trabalho, por conveniência, não espera que daquele ato resulte uma excelente nota nos exames, mas sim um nivelamento das oportunidades, esperam que os seus filhos estejam inseridos numa comunidade escolar que privilegie a diferença, a integração social e a igualdade de oportunidades. Esperam que o mérito seja o fator distintivo e que o elevador social funcione.

Não há nenhuma medida de política pública adotada com base neste ranking, este ranking não tem qualquer utilidade, a não ser o de servir de instrumento de investigação social, ser um precário retrato das escolas, onde se nota, cada vez mais, a desigualdade e o fosso que existe entre a escola pública e privada.

Dito isto, e tendo em conta que este ranking é a ordenação das escolas com base nas médias dos exames, interessa saber por onde anda a “nossa” escola. Por curiosidade, vejo sempre o lugar das escolas onde estudei. Nesta edição, tive escolas no topo 300, 400 e 500. E isto, por si só, nada diz sobre as diferenças existentes entre elas.

Todos gostamos de olhar para os números redondos neste tipo de exercícios. Qual o pódio? O top 5? O top 10? Top 50? Top 100? E voilá, a 100ª escola é a de Lousada Norte, em Lustosa.

Apesar de nada dizer sobre a liderança da escola, do agrupamento, da importância que os pais dão à escola, do contexto socioeconómico e demográfico, da escolaridade dos pais, do desempenho dos professores nem das infraestruturas, é bom saber que os nossos alunos, mesmo em contexto complicado como o que vivemos, se empenharam para, naquelas horas de exame, terem um resultado que permitiu estar num top 100, quando das primeiras 50, 47 são privadas. Os nossos alunos estão de parabéns.

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