terça-feira, 11 de maio de 2021

Odemirados?

Só está surpreendido com o que tem sido tornado público o que se passa em Odemira quem não anda atento a muita coisa, para não dizer a nada.
Já há muito se tem falado da falta de condições de trabalho de quem está no Alentejo na agricultura.

Na verdade, desde que a Uber e fenómenos do género floresceram que as relações laborais se estão a deteriorar.
Mas este é apenas um dos lados visíveis do capitalismo. No entanto, este capitalismo desmesurado tem-nos a todos como álibi.

Quantas daquelas explorações onde estes trabalhadores são explorados receberam fundos comunitários? Se receberam, quanto foi? Em que condições? Com que fiscalização? São questões que eu gostaria de ver respondidas, porque os fundos comunitários, muitas vezes designados por "dinheiro da europa" é dinheiro de todos nós, e eu não estou disponível para financiar projetos que se baseiem em exploração e quase escravidão. E não, não é por estes migrantes terem cá melhores condições do que tinham de onde vieram que se pode permitir que sejam assim tratados.

Todos nós gostamos de adicionar frutos vermelhos nos iogurtes, acredito, e nem estamos preocupados em saber como é que aqueles frutos nos vieram parar às mãos. Faz lembrar alguns preços que grandes cadeias comerciais praticam, como aquela loja de roupa que faz enormes filas no shopping aos domingos e na época natalícia, por exemplo. E será apenas economia de escala? Na será que para se praticarem determinados preços é ao produtor que tiram ou ao funcionário que é mal pago e tem um vínculo precário?

O crescimento económico, que é o que se procura naquelas terras a todo o custo, tem um preço subjacente, por norma ou é nas precárias relações laborais, muitas vezes através de empresas de trabalho temporário, ou no ambiente. Vejamos a China, que todos sabemos que tem consideráveis taxas de crescimento económico nos últimos anos, mas também sabemos que o "céu é amarelo".

Está na hora de nos preocuparmos com os outros. De não aceitaremos tudo só porque sim. De percebermos que as nossas ações têm um forte impacto na vida dos outros e nós estamos muito irritados e ofendidos, mas acredito piamente que muitos são os que estão a ler isto enquanto esperam que o estafeta lhes venha entregar a comida a casa. Estafeta esse que não tem vínculo laboral com nenhuma entidade, provavelmente anda numa bicicleta alugada, com uma mochila de uma empresa de entrega de comida, com comida vinda de um qualquer restaurante ou grande grupo económico... sobra-lhe o esforço e a gorjeta.

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