quinta-feira, 14 de março de 2019

Obrigado RTP


A TVI e a SIC, nas mais recentes semanas têm protagonizado uma luta intensa pelas audiências. E nesta luta, parecem estar dispostas a tudo. Sim, aparentemente, a tudo.
Depois do sucesso em diversos formatos de reallity show, e quando já pensávamos que tínhamos visto tudo com Love on Top, surgiram programas como casar pessoas sem se conhecerem ou se conhecerem num jantar. Agora, são mães que apresentam e aprovam noras para os filhos ou mulheres dispostas a casar com agricultores. Receita para o sucesso? Não sei, mas o país está todo a falar disso. Ou fala disso, ou de foras de jogo não ou mal assinalados, ou penalties que existem sem existirem ou algo do género.

A mim não me causa urticária que estes programas existam, logo que, se me apetecer ver televisão num dos canais genéricos ao domingo à noite, exista outra programação. Mas a verdade é que estes canais são privados, passam aquilo que entendem, dentro das normas estabelecidas pela ERC e caso alguém tenha alguma coisa a dizer ou queixar, poderá sempre recorrer ao Provedor do Telespectador (lembram-se daquele programa da psicóloga para educar filhos? Resultou não foi?).
Isto é o mercado a funcionar: há espetadores, passa na TV. Esse é o verdadeiro barómetro e se as audiências registam visualizações, é porque há pessoas, muitas pessoas ao que parece, interessadas. Nada contra. Eu é que não estou disposto a gastar o meu tempo neste tipo de programas, mas há liberdade de escolha para quem o quer fazer. Prefiro ver as coisas assim: é um incentivo ótimo para que hajam mais subscritores de pacotes de ene canais, ou Netflix. Temos sempre o YouTube ou outras plataformas, para aqueles que têm smattv's. Há aqui uma questão. Nem todos têm a possibilidade de subscrever estes canais. E são muitos os que se limitam aos canais da TDT.

Vejamos aqui o essencial:
  • As pessoas que concorrem a estes programas, fazem-no de livre vontade;
  • Os canais passam o que entenderem e nós vemos se quisermos;
  • Se há público, é porque interessa a alguém.

O que me preocupa a mim, enquanto jovem cidadão é esta realidade: a temporada da Casa dos Segredos que menos inscrições no casting teve contou com cerca de 54 mil nomes, e o pico foram mais de 100 mil. Estes valores, por baixo, representam dois dos três maiores estádios do país cheios, ou então a população de capitais de distrito como Vila Real, Guarda, Portalegre ou Beja, ou, no limite e realmente preocupante, o número de alunos que tentam entrar no ensino superior. Dá para entender onde quero chegar? É a esta geração que pertencemos, todos.

Ainda estou para ver quando teremos o leilão de pessoas em direto na TV. Sim, porque esta ideia de colocar mães a escolher noras para os filhos, não só é um atestado de idiotice aos próprios filhos, como remonta aos antepassados em que os casamentos eram combinados e as mulheres estavam reservadas a determinado filho de fulano tal. Vou tentar, com o distanciamento habitual face a estes temas, perceber se vai ser utilizado o argumento de que impingir uma mulher a um agricultor desta maneira é valorizar o território, nomeadamente o interior ou se é uma valorização da atividade do agricultor.

Por tudo isto, tenho a agradecer à RTP por ser uma alternativa, pública.

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