quarta-feira, 26 de março de 2014

Equivoco televisivo



No passado domingo aconteceu algo inédito na RTP, de facto foi inédito.
Não por ter sido uma entrevista a José Sócrates, não pelo mesmo estar em directo naquele horário, não por ver José Rodrigues dos Santos ao domingo na TV nem por ouvir o que ouvi de cada um.
Mas afinal, o que foi inédito? Inédito foi o facto de transformarem o espaço de opinião semanal do anterior PM se tornar numa agressiva entrevista em que se tentou levantar possíveis fantasmas dos arquivos.

Vejamos uma coisa, eu concordo com este tipo de entrevistas, completamente! Acho mesmo necessário que o entrevistador fique esclarecido e acima de tudo, que deixe quem está a ver também com uma ideia clara daquilo que é dito. Isto é, todo e qualquer espectador quando ouve uma entrevista, faz perguntas a si próprio quase como se fosse o jornalista, e portanto, acho por bem que o "verdadeiro" jornalista as faça, com a maior veemência possível. Quanto a isso, José Rodrigues dos Santos esteve a meu ver muito bem! Para além do mais, este tipo de cenários só permitem a José Sócrates a possibilidade de defender o seu legado e repor a verdade daquilo o que aconteceu. E hoje em dia, confere também a possibilidade de mostrar que as condições são outras e portanto, as posições quanto a certas decisões podem também mudar.

Mas há um facto de que alguém se esqueceu... É que aquele, é o espaço de comentário livre, ou seja, um tema é lançado e o comentador comenta. Quase como na escola, em que o professor de português lança um tema para a composição no teste e o aluno tenta desenvolver, livremente.
O que se verificou foi tudo menos comentário. A forma como Sócrates era, constantemente interrompido com dados de arquivo em que vão no sentido oposto ao que o ex-PM defendia então, nunca poderá ser intitulada de opinião de José Sócrates.

Neste sentido, gostaria de recomendar à RTP que, se necessário até, não faça o programa num domingo para que possa assistir em directo ao que o Marcelo faz na TVI e depois, seja normalizado um espaço de opinião como deve ser.

Nota final, fico muito contente por ver aqueles dois indivíduos de seu nome José ao mesmo tempo na mesma mesa, prezo imenso ambos. Reitero uma vez mais que cenários como aquele apenas dão oportunidade a José Sócrates de "passear" onde se sente mais confortável demonstrando a sua capacidade de retórica. Agora, não é isso que o telespectador espera. Quero acreditar que o que aconteceu, não passa de um equivoco televisivo...

terça-feira, 25 de março de 2014

Que pobreza...



Hoje ao ver o telejornal, na RTP, importante referir por não ter fama de ser muito sensacionalista, fiquei surpreendido por ter visto em números, aquilo que encontro muitas vezes nos transportes público e centros de cidade, isto é, sinais da crise. 
Mas até aqui, nada de especial... acontece que, o país está de facto, pior, e já não são apenas os portugueses.

Vou apenas salientar 4 pontos que registei (dados do INE)


  1. O abre e fecha de empresas, fez perder-se 95 000 empregos
  2. O novo tecido empresarial gera menos 4 200 Milhões de euros, voltando a valores de 2004
  3. Segundo o Índice de Gini, a diferença entre os muito ricos e muito pobres (10% de cada grupo) é cada vez maior
  4. O risco de pobreza é cada vez mais elevado, cerca de 2 Milhões de pessoas, valor que nos remonta a 2005

As conclusões que eu tiro têm tanto de simples como de triste.
Este país não oferece qualquer esperança aos jovens, aqueles que ainda sonham, que ainda têm capacidade de produzir, de fazer algo, de dar a volta a situação. Por isso, estes estão a sair do país, e quem sabe, felizmente, não fazer parte destas estatísticas.

As nossas crianças, já não têm sequer condições de brincar uns com os outros, por falta de condições dos pais. A questão é, não está o nosso país a ser conduzido para a criação de infelicidade e privação daquilo que é básico para um ser que, não tem culpa nenhuma dos mercados, da dívida, dos salários baixos, de tudo o que faz manchete nos jornais todos os dias?

E para concluir, apenas reflectir mais um ponto, não estará o nosso país a comemorar os 40 anos de democracia com o regresso ao passado? Aos tempos em que as pessoas não tinham condições para alimentar as respectivas famílias, ao tempo em que andar na escola era um luxo. Mas mais preocupante, ao tempo em que a brincadeira das crianças, era trabalhar... e não brincar.

terça-feira, 18 de março de 2014

É essencial falar do essencial



Muito se tem falado no consenso que é necessário, muito se tem falado em renegociação, muito se fala da forma como vai ser o pós-Troika, mas muito pouco se tem falado do essencial... 
É importante lembrar, principalmente aos principais líderes dos partidos que têm assento parlamentar, que em democracia, o diálogo e o consenso são vitais, isto é, se não houver discussão e acordos, não pode, nunca, haver democracia!
Neste ponto, não posso estar mais de acordo com o Presidente da República, que tem insistido em que haja um acordo central. Chegou mesmo a exigir que fosse feito. Achei muito bem, mesmo que aparentemente tivesse sido para "entalar" o PS. Mas a verdade é que, por qualquer razão que não conhecemos a verdade toda porque não tivemos na mesa da negociação, esse acordo central não foi feito, quer isto dizer, ficou tudo na mesma e a vontade do PR não foi respeitada. Que consequências isso teve? Nenhuma. Pois bem, aqui já não posso concordar com o chefe de Estado, deveria ter feito algo mais do que um discurso de "pronto, eu tentei".

Ainda quando Louça era líder do Bloco de Esquerda, insistia na renegociação. É certo que perdeu legitimidade para falar porque não aceitou fazer parte da negociação inicial, mas a verdade é que sempre discordou da forma como o memorando foi celebrado. Acontece que, a dois meses de o memorando chegar ao fim, o tema da renegociação volta à baila pela mão dos "70 notáveis".
Em parte, concordo com o que foi proposto. Mas não quero que seja passada a imagem de que o meu país não paga o que deve e é caloteiro. No entanto, acho fulcral, termos mais tempo para repor o défice (que em momento algum do memorando, chegamos ao pretendido em cada uma das etapas) e mesmo para pagar a dívida. Precisamos mesmo de mais tempo. É insuportável o que está a ser importo! Mas o pior ainda está para vir quando tivermos de começar a pagar caro pelo que pedimos, e aí, vamos todos perceber que é impossível fazê-lo nestes moldes.
Quanto ao juro hoje em dia praticado, penso que continua excessivamente alto, por isso, um programa cautelar não seria má ideia, para além de que, a principal vantagem a meu ver, seria não ficarmos totalmente entregues a este Governo.

Para uma decisão pós-Troika, esta terá de passar por uma acordo tripartido, porque caso não se verifique, o falhanço pertencerá a ambos os partidos. Se os líderes, nomeadamente Passos Coelho e Seguro não forem capazes de se entender naquilo que é essencial para Portugal e para os portugueses, então nenhum será merecedor do cargo de Primeiro-Ministro.

É essencial que discutam e cheguem a acordo sobre aquilo que vão fazer com os portugueses, se vão continuar a impor cortes nos salários aos funcionários públicos, se vão reduzir mais o poder de compra dos reformados, ou se vão, finalmente, lutar por um futuro melhor dos vossos compatriotas!

terça-feira, 11 de março de 2014

De besta a bestial



Não é com surpresa que vejo Mário Soares ser homenageado... Tem feito por isso, tem sido interventivo, controverso mas ao mesmo tempo, realista.
Sim, Mário Soares tem sido realista, mesmo quando é uma realidade que nós não queremos ver ou que tentamos esconder, mas a verdade é que Soares, tem sido o mais lúcido dos portugueses!

Quem me conhece, e fala comigo nos dias em que Soares é muito criticado pela imprensa nacional e por muitos portugueses e essencialmente, comentadores políticos que o acusam de incentivar a violência (a um dos pais da democracia em Portugal) e de não ter nexo no que diz por estar já com uma idade avançada, sabe que eu tento sempre ver as coisas da perspectiva que o mesmo apresenta, e sempre reconheci, tal como o próprio, que os portugueses estavam a sofrer em silêncio e a revolta está sempre por um fio... Os polícias têm mostrado isso, tem sido um óptimo avisa.

Mas o ponto onde quero chegar é este: uma vez mais, os nossos compatriotas apenas dão valor a algo que é nosso ou a algum português, depois de os estrangeiros o fazerem. Soa a familiar não é?

Hoje, no jornal "Público", Soares é o único que tem a seta verde na última página, vêm rasgados elogios ao ex-presidente no artigo da cerimónia da homenagem. Nomeadamente, a justificação da Associação de Imprensa Estrangeira em Portugal para a eleição de personalidade do ano foi "ser uma das vozes mais activas no seu país, com grande repercussão no estrangeiro. Ante a dificuldade dos portugueses, Soares não se tem calado". é isto que o caracteriza, é isto que faz de Mário Soares, a pessoa que é!

sexta-feira, 7 de março de 2014

Inacreditavelmente absurdo!



Sinceramente, não sei o que é que é mais inacreditável e absurdo! Se estar prestes a acontecer ou até mesmo, a intenção do Governo pura e simplesmente...

Ao que parece, e foi publicado no "Público", este Governo vai apresentar à troika, na próxima avaliação, a possibilidade de os despedimentos ilegais passarem a ter uma indemnização de 15 a 45 dias de salário por cada ano trabalhado, se o tribunal decidir que o despedimento foi feito de forma ilícita. Já é mau que chegue só este facto, mas não nos ficamos por aqui... Até porque, em nome da flexibilidade laboral, tudo!

Acontece que, se um trabalhador for despedido por justa causa, este recebe 12 dias por cada ano.
Soa a estranho? Não! É a flexibilidade meus amigos.

Existirá então, um gap entre aquilo que é correcto (dentro do possível) e não é. Assim, há um desincentivo ao trabalhador despedido para que seja averiguada a justiça quanto ao despedimento. Para o trabalhador, economicamente, e partindo do principio que vai ser despedido, é preferível que seja de forma ilícita! Isto é, no imediato, porque no médio longo prazo, não sei.

O ridículo da situação, é que até os patrões, que assim poderão fazer o que quiserem do dia para a noite, com uma possível "concordância" do trabalhador, acham que a medida não é prioritária e que será um erro que o executivo entrar por esse caminho.

Sr. Primeiro-Ministro, está a tentar agradar quem? É que assim, nem gregos, nem troianos.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Políticos assim, sim!



Acredito que vá viver muitos dias como o de hoje, em que tenha muitos motivos para ficar contente e continuar a acreditar que, na política, ainda há muita gente que vale a pena acreditar e que, ao fim ao cabo, me inspiram na medida em que marcam a diferença pela positiva. O que nem sempre se verifica.
E hoje, foi uma vez mais, João Torres que despoletou em mim este sentimento!

Em entrevista ao "i" (que me fez deslocar, quase a hora de fecho do shopping, comprar o último exemplar), o líder da JS defende muitas coisas que são merecedoras de nota. Aqui, irei apenas relembrar algumas, que são aquelas com que me identifico plenamente e tenho vindo a defender. Tentando contudo não transcrever a entrevista.

Nesta, João Torres critica de forma elegante algumas posições do PS e da sua liderança, este Governo e fala da Europa. Mas acima de tudo, distingue de forma clara aquilo que muitos dizem ser igual... O PS do Governo.

Quanto à direcção do PS, o líder da JS defende que esta se deveria posicionar um pouco mais à esquerda daquilo que se encontra, assume que tem errado como por exemplo no tratado orçamental e ao não falar da anterior liderança e governação por parte do Partido Socialista. Mas tem a capacidade de o fazer de forma tão elegante, ao ponto de dizer que Seguro tem "uma forma muito própria de levar a água ao seu moinho". Não são todos que o fazem! Com isto, diz basicamente que não o faria desta forma, mas respeita. Tal como um bom democrata...

Mas partilho particularmente da sua visão para a Europa, bem como a postura de Portugal em relação aos demais membros da UE. Portugal não pode "estar de cócoras" como tem feito! Nós temos valor, nós temos capacidades, nós somos capazes de nós próprios. É isto que se espera que um Primeiro-Ministro diga em Bruxelas. É necessário que a Europa seja justa e solidária, seja uma só, tal como referi no anterior artigo.

Para terminar, apenas salientar que este senhor, foi capaz de distinguir o PS do actual Governo, como por exemplo mutualizar a dívida, renegociar o juro, eurobonds e emissão conjunta de dívida dos países da zona euro... 
Criticar apenas não basta. É preciso dizer o que realmente é diferente.

Para quem diz que a classe política é toda igual e que não têm conteúdo, aconselho, vivamente, a lerem esta entrevista e a seguirem este político, que é uma pessoa igual a nós, povo.