terça-feira, 1 de março de 2016

TAP, TAP e mais TAP!

Ao longo do último mês, a TAP foi, sem dúvida, o tema dominante, principalmente para quem vive no distrito do Porto.

Nenhum nortenho poderá ficar indiferente à decisão tomada pela TAP de retirar rotas para grandes cidades, a partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro. Este aeroporto, que sofreu significativas melhorias na última década, e é tido como um dos melhores a nível de prestação de serviços em toda a europa e mesmo uma referência mundial, não poderá ser tratado desta forma, ou descartado por qualquer companhia aérea supranacional que se preze. Todas as companhias têm interesse em ter voos de e para o Porto. Turisticamente, o Porto tem sido diversas vezes destacado, por diversos motivos e revistas da especialidade, como destino turistico a visitar, estando até em muitas sugestões de entre 5 a 10 destinos para visitar em 2016 nos mais diferentes países europeus. Hoje, a prova disto mesmo é que provavelmente, circulam nas ruas do Porto tantos portugueses como estrangeiros. No campo empresarial, o Porto, e o aeroporto que o serve, são pedras fulcrais na distribuição do tecido empresarial, principalmente móveis, texteis e calçado.

Quando numa semana se celebra a manutenção de metade do capital da empresa referência na aviação, em mãos públicas, na semana seguinte assistimos ao anúncio da retirada dos voos que geraram uma enorme polémica e controvérsia.
Todos esses voos têm uma taxa de ocupação superior aos 80%.
Não se percebe a decisão, muito menos depois de o Estado ficar com a "parte estratégica" da empresa. Mas a grande questão para mim é: Onde é que começa a "estratégia" que fica a cabo do Estado e onde é que acaba a "gestão" que fica a cargo do privado?

O rosto da indignação foi Rui Moreira, que com todas as declarações públicas que fez, as reuniões que agendou e posições que tomou, deu o pontapé de saída para as autárquicas de 2017 e levará destacadíssima vantagem. Não só por ser poder hoje em dia, mas porque mostrou realmente estar preocupado com os interesses dos portuenses e principalmente afirmou-se como uma voz do norte. Essa voz foi tão ou mais alta ao ponto de provocar uma profunda cisão com a cidade de Vigo. Claro está que, quando falamos em vozes do norte, Pinto da Costa tem tido também, ao longo dos últimos anos, um especial relevo nessa matéria. A TAP não foi exceção e preferiu viajar pela SATA para a Alemanha com a equipa do Futebol Clube do Porto. Acontece que, uma vez que a SATA tem também participação da TAP, vai retirar voos a partir do Porto.

Mas, se as taxas de ocupação são tão elevadas, como se percebe o desinteresse das companhias aéreas nacionais neste aeroporto? Será que são todas as companhias que estão a desistir da base de Pedras Rubras? Vejamos os números:

Companhia
Origem
Nº Voos
TAP
Portugal
8000
SATA
Portugal
1200
TOTAL RETIRADOS

9200
Transavia
Holanda
4000
Aigle Azul
França
2000
British Airways
Inglaterra
2500
Easyjet
Inglaterra
10000
Ryanair
Irlanda
4000
Lufthansa
Alemanha
2800
Brussels Airlines
Bélgica
1600
Turkish Airlines
Turquia
2000
Vueling
Espanha
6000
Ibéria
Espanha
1200
Czech Airlines
República Checa
600
TOTAL CRIADOS

36700
BALANÇO

27500

Como podemos ver, e estes dados (Companhia e nº de voos foram retirados do Jornal de Notícias), existe uma grande procura em aumentar a oferta neste aeroporto por muitas companhias, e eis que surge uma outra questão: Então porque é que só as companhias estrangeiras é que estão interessadas, e as nacionais não? Porque é que para umas é lucrativo, e para outras têm de retirar por não o serem?
As 3 nacionalidades que vão mais significativamente aumentar a sua oferta serão a Inglaterra (12.500), Espanha (7.200) e ainda com o mesmo número de voos a mais, a Holanda e Irlanda (4000 cada). 

Daqui a pouco estamos a fazer o mesmo que fizemos com a EDP, a privatizar, ou seja, nacionalizar a favor de outros Estados. O dado menos negativo é que desta vez, quem mais vai beneficiar não é a Alemanha (como as construções de autoestradas) nem é a China ou Angola (como EDP, banca e construção civil) mas sim um país europeu, isto é, por enquanto!

A retirada dos voos provoca ainda mais tráfego na Portela, num aeroporto que tem sido largamente debatido quanto à sua insuficiência de operacionalidade e necessidade de construção de um novo em Lisboa. Ou seja, daqui a poucos anos veremos o anúncio de construção de um novo aeroporto em Lisboa, e  já agora, uma nova travessia sobre o Tejo para ficar mais bonito. Resumindo e indo direto ao ponto, beneficio da capital em detrimento do Porto, do norte. (Atenção que eu sou a favor de obras públicas, como incentivo económico, porém tem de haver condições para tal (sociais) e têm de ser assumidas, sem rodeios)
Já para não falar no aumento de turismo que provocará na capital, por causa das inúmeras dormidas que esta retirada acarreta, o que fará com que percentualmente, ainda vamos ver alguém celebrar o crescimento e evolução do turismo naquela região, principalmente suportado pelo decréscimo que inevitavelmente provocará na cidade do Porto. 

Mas existe um outro ponto que queria aqui expressar e que, para mim, é o mais importante de todos, a coesão territorial. Não é de hoje nem de ontem que se tem falado na centralização e na necessidade de acabar com a mesma, nem tão pouco das desigualdades que existem entre Lisboa e o resto do país, e a situação económica no norte também tem sido alvo de escrutínio público e não é pelas melhores razões. E agora a TAP, que é tanto pública como privada, alinha em acentuar essas assimetrias? Questão final: Para que é que o Estado ficou com a TAP, se não é para ter participação na tomada de decisões desta natureza?

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