Ao longo do último mês, a TAP foi, sem dúvida, o tema dominante, principalmente para quem vive no distrito do Porto.
Nenhum nortenho poderá ficar indiferente à decisão tomada pela TAP de retirar rotas para grandes cidades, a partir do aeroporto Francisco Sá Carneiro. Este aeroporto, que sofreu significativas melhorias na última década, e é tido como um dos melhores a nível de prestação de serviços em toda a europa e mesmo uma referência mundial, não poderá ser tratado desta forma, ou descartado por qualquer companhia aérea supranacional que se preze. Todas as companhias têm interesse em ter voos de e para o Porto. Turisticamente, o Porto tem sido diversas vezes destacado, por diversos motivos e revistas da especialidade, como destino turistico a visitar, estando até em muitas sugestões de entre 5 a 10 destinos para visitar em 2016 nos mais diferentes países europeus. Hoje, a prova disto mesmo é que provavelmente, circulam nas ruas do Porto tantos portugueses como estrangeiros. No campo empresarial, o Porto, e o aeroporto que o serve, são pedras fulcrais na distribuição do tecido empresarial, principalmente móveis, texteis e calçado.
Quando numa semana se celebra a manutenção de metade do capital da empresa referência na aviação, em mãos públicas, na semana seguinte assistimos ao anúncio da retirada dos voos que geraram uma enorme polémica e controvérsia.
Todos esses voos têm uma taxa de ocupação superior aos 80%.
Não se percebe a decisão, muito menos depois de o Estado ficar com a "parte estratégica" da empresa. Mas a grande questão para mim é: Onde é que começa a "estratégia" que fica a cabo do Estado e onde é que acaba a "gestão" que fica a cargo do privado?
O rosto da indignação foi Rui Moreira, que com todas as declarações públicas que fez, as reuniões que agendou e posições que tomou, deu o pontapé de saída para as autárquicas de 2017 e levará destacadíssima vantagem. Não só por ser poder hoje em dia, mas porque mostrou realmente estar preocupado com os interesses dos portuenses e principalmente afirmou-se como uma voz do norte. Essa voz foi tão ou mais alta ao ponto de provocar uma profunda cisão com a cidade de Vigo. Claro está que, quando falamos em vozes do norte, Pinto da Costa tem tido também, ao longo dos últimos anos, um especial relevo nessa matéria. A TAP não foi exceção e preferiu viajar pela SATA para a Alemanha com a equipa do Futebol Clube do Porto. Acontece que, uma vez que a SATA tem também participação da TAP, vai retirar voos a partir do Porto.
Mas, se as taxas de ocupação são tão elevadas, como se percebe o desinteresse das companhias aéreas nacionais neste aeroporto? Será que são todas as companhias que estão a desistir da base de Pedras Rubras? Vejamos os números:
Companhia
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Origem
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Nº Voos
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TAP
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Portugal
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8000
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SATA
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Portugal
|
1200
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TOTAL RETIRADOS
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9200
|
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Transavia
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Holanda
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4000
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Aigle Azul
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França
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2000
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British Airways
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Inglaterra
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2500
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Easyjet
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Inglaterra
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10000
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Ryanair
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Irlanda
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4000
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Lufthansa
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Alemanha
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2800
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Brussels Airlines
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Bélgica
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1600
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Turkish Airlines
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Turquia
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2000
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Vueling
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Espanha
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6000
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Ibéria
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Espanha
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1200
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Czech Airlines
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República Checa
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600
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TOTAL CRIADOS
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36700
|
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BALANÇO
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27500
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Como podemos ver, e estes dados (Companhia e nº de voos foram retirados do Jornal de Notícias), existe uma grande procura em aumentar a oferta neste aeroporto por muitas companhias, e eis que surge uma outra questão: Então porque é que só as companhias estrangeiras é que estão interessadas, e as nacionais não? Porque é que para umas é lucrativo, e para outras têm de retirar por não o serem?
As 3 nacionalidades que vão mais significativamente aumentar a sua oferta serão a Inglaterra (12.500), Espanha (7.200) e ainda com o mesmo número de voos a mais, a Holanda e Irlanda (4000 cada).
Daqui a pouco estamos a fazer o mesmo que fizemos com a EDP, a privatizar, ou seja, nacionalizar a favor de outros Estados. O dado menos negativo é que desta vez, quem mais vai beneficiar não é a Alemanha (como as construções de autoestradas) nem é a China ou Angola (como EDP, banca e construção civil) mas sim um país europeu, isto é, por enquanto!
A retirada dos voos provoca ainda mais tráfego na Portela, num aeroporto que tem sido largamente debatido quanto à sua insuficiência de operacionalidade e necessidade de construção de um novo em Lisboa. Ou seja, daqui a poucos anos veremos o anúncio de construção de um novo aeroporto em Lisboa, e já agora, uma nova travessia sobre o Tejo para ficar mais bonito. Resumindo e indo direto ao ponto, beneficio da capital em detrimento do Porto, do norte. (Atenção que eu sou a favor de obras públicas, como incentivo económico, porém tem de haver condições para tal (sociais) e têm de ser assumidas, sem rodeios)
Já para não falar no aumento de turismo que provocará na capital, por causa das inúmeras dormidas que esta retirada acarreta, o que fará com que percentualmente, ainda vamos ver alguém celebrar o crescimento e evolução do turismo naquela região, principalmente suportado pelo decréscimo que inevitavelmente provocará na cidade do Porto.
Mas existe um outro ponto que queria aqui expressar e que, para mim, é o mais importante de todos, a coesão territorial. Não é de hoje nem de ontem que se tem falado na centralização e na necessidade de acabar com a mesma, nem tão pouco das desigualdades que existem entre Lisboa e o resto do país, e a situação económica no norte também tem sido alvo de escrutínio público e não é pelas melhores razões. E agora a TAP, que é tanto pública como privada, alinha em acentuar essas assimetrias? Questão final: Para que é que o Estado ficou com a TAP, se não é para ter participação na tomada de decisões desta natureza?
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