quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Existem dois silêncios que não deviam existir...

Por estes dias, existem dois silêncios significativos. Duas vozes que faziam falta a todos nós ouvir.
Um não fala porque, infelizmente, já não está entre nós. O outro, não fala porque, talvez, não lhe convém.

Falo de Miguel Portas e Marcelo Rebelo de Sousa.

Esteja onde estiver, Miguel Portas há-de estar contente com o que se está a passar no nosso país. Um dos seus sonhos, ver a esquerda unida, está agora a ganhar um formato que talvez até o próprio o tivesse numa gaveta rotulado de “utopia”, ou na melhor das hipóteses, rotulado como “longínquo”. Miguel, que foi um dos fundadores do Bloco, daquele Bloco que sabia o que queria, ao que vinha e que caminho não queria seguir. Era um daqueles intelectuais que hoje faz falta, e muita falta fará amanhã. Depois de um período menos feliz do Bloco de Esquerda, em que perdeu metade dos seus deputados e teve uma liderança sem liderança, ao longo da passada legislatura (perdão, da XIX legislatura, porque entretanto houve outra), esteja onde estiver, Miguel vê o seu partido reencontrar-se e tornar-se um partido de apoio ao Governo, e não apenas um partido de protesto, como foi o PCP ao longo de 40 anos. Aconteça o que acontecer, esse mérito ninguém tira a Catarina Martins, foi capaz de, com o mesmo número de deputados que anos a fio o PCP contou, fez muito mais do que o PCP durante anos fez. É certo também que, sem a postura do PCP, Catarina não faria nada disto, nem tão pouco António Costa, mas estou aqui para relembrar o Homem que, esteja onde estiver, está orgulhoso, certamente.

O outro silêncio que, a todos nós nos diz respeito e devia já ter tomado uma postura, é o de Marcelo Rebelo de Sousa. Sim, estou a falar daquele indivíduo que, semanalmente, falava para mais de 1 milhão de pessoas sobre tudo e mais alguma coisa, do desporto, especialmente futebol aos livros, de promover atividades associativas à política, Marcelo tinha sempre uma palavra a dizer. Fosse essa palavra a favor ou contra o seu próprio partido. Fosse essa palavra a favor ou contra o Presidente da República, de quem é conselheiro. Fosse essa palavra a favor ou contra o Primeiro-Ministro, por quem nunca morreu de amores (e vice-versa). Lá estava, domingo à noite, ano após ano, o seu comentário, as suas audiências, a sua popularidade. Li por estes dias num artigo de opinião e concordo plenamente: é certo que Marcelo não é hoje comentador mas sim candidato, mas também é certo que foi a atividade de comentador que o colocou na posição favorável que hoje se encontra como candidato a Presidente.


Pelo menos eu, gostava de ouvir qualquer coisa, quer de Miguel como de Marcelo. São dois silêncios que não deviam existir.

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