Por estes dias, existem dois silêncios significativos. Duas
vozes que faziam falta a todos nós ouvir.
Um não fala porque, infelizmente, já não está entre nós. O
outro, não fala porque, talvez, não lhe convém.
Falo de Miguel Portas e Marcelo Rebelo de Sousa.
Esteja onde estiver, Miguel Portas há-de estar contente com
o que se está a passar no nosso país. Um dos seus sonhos, ver a esquerda unida,
está agora a ganhar um formato que talvez até o próprio o tivesse numa gaveta
rotulado de “utopia”, ou na melhor das hipóteses, rotulado como “longínquo”.
Miguel, que foi um dos fundadores do Bloco, daquele Bloco que sabia o que
queria, ao que vinha e que caminho não queria seguir. Era um daqueles
intelectuais que hoje faz falta, e muita falta fará amanhã. Depois de um
período menos feliz do Bloco de Esquerda, em que perdeu metade dos seus
deputados e teve uma liderança sem liderança, ao longo da passada legislatura
(perdão, da XIX legislatura, porque entretanto houve outra), esteja onde
estiver, Miguel vê o seu partido reencontrar-se e tornar-se um partido de apoio
ao Governo, e não apenas um partido de protesto, como foi o PCP ao longo de 40
anos. Aconteça o que acontecer, esse mérito ninguém tira a Catarina Martins,
foi capaz de, com o mesmo número de deputados que anos a fio o PCP contou, fez
muito mais do que o PCP durante anos fez. É certo também que, sem a postura do
PCP, Catarina não faria nada disto, nem tão pouco António Costa, mas estou aqui
para relembrar o Homem que, esteja onde estiver, está orgulhoso, certamente.
O outro silêncio que, a todos nós nos diz respeito e devia
já ter tomado uma postura, é o de Marcelo Rebelo de Sousa. Sim, estou a falar
daquele indivíduo que, semanalmente, falava para mais de 1 milhão de pessoas
sobre tudo e mais alguma coisa, do desporto, especialmente futebol aos livros,
de promover atividades associativas à política, Marcelo tinha sempre uma
palavra a dizer. Fosse essa palavra a favor ou contra o seu próprio partido.
Fosse essa palavra a favor ou contra o Presidente da República, de quem é
conselheiro. Fosse essa palavra a favor ou contra o Primeiro-Ministro, por quem
nunca morreu de amores (e vice-versa). Lá estava, domingo à noite, ano após
ano, o seu comentário, as suas audiências, a sua popularidade. Li por estes
dias num artigo de opinião e concordo plenamente: é certo que Marcelo não é
hoje comentador mas sim candidato, mas também é certo que foi a atividade de
comentador que o colocou na posição favorável que hoje se encontra como candidato
a Presidente.
Pelo menos eu, gostava de ouvir qualquer coisa, quer de
Miguel como de Marcelo. São dois silêncios que não deviam existir.
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