Sobre as eleições europeias, muito já foi dito. Mas será que já se disse
tudo?
Hoje, passados alguns dias, podemos olhar com outros olhos para os
resultados, tendências eleitorais e discursos. Analisar vencedores e vencidos.
O grande vencedor, e o grande derrotado. A surpresa, positiva e negativa. A
abstenção… quer dizer, esqueçam esta parte da abstenção. Afinal de contas já
todos sabem tudo sobre a abstenção, já todos sabem quem não vota e em que
eleições o faz, todos têm algo a dizer. Todos vêm com enorme preocupação. Só me
resta dizer duas coisas e faço-o já para não vos maçar muito com este assunto:
1) quem se abstém, não está a respeitar todos aqueles que outrora lutaram para
que hoje o voto fosse universal e 2) estão a perder legitimidade para criticar
o que quer que seja.
A aparentemente o grande vencedor foi o Partido Socialista. Não creio. Foi
maior vencedor o António Costa do
que o Partido Socialista. António Costa fez questão de sufragar a governação.
Fê-lo através das intervenções na campanha (sim, houve campanha), através de
elementos da sua confiança política nos media, e mais relevante, abdicou de
dois ministros para o candidatar a eurodeputados. De um, o primeiro candidato,
Pedro Marques, fica a ideia de uma pessoa muito competente e rigorosa no
trabalho que desenvolveu, de outra, a Maria Manuel Leitão Marques, fica a ideia
de que haverão poucas pessoas, principalmente poucos políticos que tenham tanta
apetência para a nova era digital e para a modernização administrativa
(gritante urgência) como ela.
Foi arriscado. Muito ariscado para António Costa. Todos sabemos que quando
um partido está em funções governativas, geralmente é penalizado nas eleições
europeias porque o risco é muito menor do que nas legislativas e por isso as
pessoas tendem a votar mais em partidos alternativos e a dispersar o seu voto
(e desta vez, eram 19 opções que as pessoas que se enfrentaram com um papel e
uma caneta tinha). Ao fazer desta forma, António Costa estava a fazer uma espécie
de pré-época para as legislativas, ou um estágio, como queiram. E saiu-se bem.
Demonstra bem a sua habilidade política e reforça a confiança de que sairá
vencedor em outubro.
No entanto, o Partido Socialista não tem um resultado estrondoso.
Percentualmente, anda muito próximo de há 5 anos, e isso custou a liderança a
António José Seguro. Mas uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa (quem
nunca). Há 5 anos, o PS era oposição, não tinha o natural desgaste governativo,
quem governava, fazia-o de forma austera. A política tem muito de estratégia, e
nesse ponto, a direita falhou redondamente. Foram os vencidos.
Rui Rio voltou ao discurso do início da sua liderança, aquele discurso que
estávamos todos à espera que não tivesse perdido, mas aquela desavença interna
fez com que ele mudasse… viu-se o resultado. Na noite eleitoral, em que os
discursos parecem recitais, Rui Rio enfrentou tudo e todos, nomeadamente a
realidade, que é muitas vezes o maior desafio. Fê-lo. Mas aquele não podia ser
o seu candidato. Como é que é possível, desde que eu ando atento à política, e
me envolvo, nas europeias, PSD e CDS apresentam, sistematicamente, o mesmo
candidato? Rangel e Nuno Melo são a cara da continuação, e não da mudança.
Falharam, e falharam por muito. São os
grandes derrotados. Mas se tiver de eleger um, será Nuno Melo.
Nuno Melo perde as eleições, faz o discurso que tem de fazer, para salvar a
pele da líder, mas belisca aquilo que estava a ser a trajetória do CDS. Desde
que Paulo Portas saiu da liderança, o CDS parecia ter-se afirmado na direita
portuguesa, mas foi ilusão ou foi um acidente de percurso. Depois de se ter
saído muito bem nas autárquicas, principalmente em Lisboa, e de ter colocado
muitas vezes o PSD a seu reboque nesta legislatura, o CDS deu um passo em falso
nestas europeias. Veremos o preço em outubro, mas eleger metade dos
eurodeputados do que BE e do que PCP, que são aparentemente eurocéticos e o
mesmo número de eurodeputados do que um partido que surpreendeu, o PAN, não me
parece grande fotografia. Nuno Melo devia dar lugar ao segundo da lista. Mas
enfim, Cristas tem as suas heranças de Portas.
A surpresa, como já disse, foi o PAN.
NA verdade, eu não alinho nesta onda de euforia com o PAN. Preferia que a
surpresa tivesse sido o LIVRE, e se fosse, eu não ficaria surpreendido (quer
dizer, dependia do resultado efetivo, mas acho que perceberam a ideia). O PAN é
mais um movimento do que um partido. Tem coisas obscenas no seu programa. São
radicais. Eu não costumo compactuar com esta linha, desculpem.
Escrevi há pouco 19 opções para quem foi votar, lembram-se? Sim, 19=17+1+1.
17 listas, nulo e em branco. São tudo coisas distintas, e não me digam que das
17 não se identificam com nenhuma. Não posso com esse discurso corrosivo e
antissistema. Esse é o discurso do BASTA ou do CHEGA e na verdade o que chega é
essa mente pequenina e preguiçosa. Do BASTA ao PAN, passando pelo LIVRE e
Iniciativa Liberal, não esquecendo os habituais PS, PSD, CDS (os dois até foram
em separado porque não são a mesma coisa), a CDU (PCP+Verdes), o BE ou até o
Santana Lopes (sim, ainda aqui anda com o Aliança e a sua dimensão reduzida com
tanto mediatismo são a surpresa negativa)…
para todos os gostos e feitios. Não havia desculpa. Mesmo assim, podiam chegar
ao boletim de voto e escrever o que vos apetecesse, criar um novo quadradinho e
um nome, até o próprio nome ao lado e votar, só para terem a sensação de o
fazer, anulavam o próprio voto mas demonstravam que estavam ali para a luta, ou
então deixar em branco, como quem: eh pá, não gosto de nenhum, li todos, vi os
debates, mas não, não gosto de nenhum e mesmo assim vim aqui mostrar isso
mesmo.
Ainda assim a abstenção (desculpem, eu sei o que prometi, mas…) foi de 70%.
E a culpa, dizem, é dos políticos ou do sistema, ou da corrupção ou do sol, ou
da chuva, ah não, foi aquele jogo de futebol, ou foi a missa, na volta, foi
tudo isto junto (sim, já vivi dias em que choveu e esteve sol, por vezes ao
mesmo tempo, arco-íris, you know?). A culpa, quando falamos de 7 em 10, não é
de fator A ou B, de fulano ou sicrano, é de todos. Todos. Mesmo dos que votam.
E não é só por causa daquela lógica pedagógica de quem tem irmãos e ouviu em
casa: por causa da asneira de um, pagam os outros, ou na escola primária, para
os mais rebeldes (fomos todos não fomos?). A lógica da culpa ser também de quem
vota, é que quem vota é que dá a oportunidade de aqueles governarem. Existe uma
responsabilidade associada ao voto de cada um. Eu sei, muitos não estavam
preparados para isto, mas é isto que acontece.
Nota: O nome do artigo iria ser (Ainda) Sobre as eleições europeias, mas
este título surgiu numa troca de mensagens com um amigo a propósito de uma
publicação nas redes sociais da escrita do mesmo. O primeiro, uma gafe, o
segundo e o terceiro, sugestões dele. Ele demonstra bem o sentimento da muitos,
a ideia de que a participação, debate e tudo o que envolve a europa é pequeno…
poucochinho, talvez.
PS, PSD, PCP, CDS, BE é tudo pessoal da quadrilha cheque-em-branco.
ResponderEliminar.
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(manifesto em divulgação)
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URGE DIZER NÃO À QUADRILHA DE POLÍTICOS CHEQUE-EM-BRANCO.
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Leia-se, DEMOCRACIA SEMI-DIRECTA (o Direito ao veto de quem Paga):
- isto é, votar em políticos não é (não pode ser) passar um cheque em branco... isto é, ou seja, os políticos e os lobbys pró-despesa poderão discutir à vontade a utilização de dinheiros públicos... só que depois... a 'coisa' terá que passar pelo crivo de quem paga (vulgo contribuinte).
-» Explicando melhor, o contribuinte deve reivindicar que os políticos apresentem as suas mais variadas ideias de governação caso a caso, situação a situação, (e respectivas consequências)... de forma a que... o contribuinte/consumidor esteja dotado de um elevado poder negocial!!!
-» Dito de outra maneira: são necessários mais e melhores canais de transparência!
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Exemplo:
- Todos os gastos do Estado [despesas públicas superiores, por exemplo a 1 milhão (nota: para que o contribuinte não seja atafulhado com casos-bagatela)], e que não sejam considerados de «Prioridade Absoluta» [nota: a definir...], devem estar disponíveis para ser vetados durante 96 horas pelos contribuintes na internet num "Portal dos Referendos"... aonde qualquer cidadão maior de idade poderá entrar e participar.
-» Para vetar [ou reactivar] um gasto do Estado deverão ser necessários 100 mil votos [ou múltiplos: 200 mil, 300 mil, etc] de contribuintes.
{ver blog « http://fimcidadaniainfantil.blogspot.pt/ »}
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Uma nota: a Democracia Directa não tem interesse - serve é para atafulhar o contribuinte com casos-bagatela.
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Prédio Coutinho: 35 milhões para demolir um edifício (pois, uma negociata para pessoal amigo da construção civil)... etc, etc, etc... e depois não há dinheiro para salvar milhares de vidas comprando modernas máquinas para usar em medicina.
-» Urge dizer não à quadrilha de políticos cheque-em-branco.
-» Existem pessoas para trabalhar na actividade política sem que os contribuintes lhes passe um cheque-em-branco!...