A TVI e a SIC, nas mais recentes
semanas têm protagonizado uma luta intensa pelas audiências. E
nesta luta, parecem estar dispostas a tudo. Sim, aparentemente, a
tudo.
Depois do sucesso em diversos formatos
de reallity show, e quando já pensávamos que tínhamos visto tudo
com Love on Top, surgiram programas como casar pessoas sem se
conhecerem ou se conhecerem num jantar. Agora, são mães que
apresentam e aprovam noras para os filhos ou mulheres dispostas a
casar com agricultores. Receita para o sucesso? Não sei, mas o país
está todo a falar disso. Ou fala disso, ou de foras de jogo não ou
mal assinalados, ou penalties que existem sem existirem ou algo do
género.
A mim não me causa urticária que
estes programas existam, logo que, se me apetecer ver televisão num
dos canais genéricos ao domingo à noite, exista outra programação.
Mas a verdade é que estes canais são privados, passam aquilo que
entendem, dentro das normas estabelecidas pela ERC e caso alguém
tenha alguma coisa a dizer ou queixar, poderá sempre recorrer ao
Provedor do Telespectador (lembram-se daquele programa da psicóloga
para educar filhos? Resultou não foi?).
Isto é o mercado a funcionar: há
espetadores, passa na TV. Esse é o verdadeiro barómetro e se as
audiências registam visualizações, é porque há pessoas, muitas
pessoas ao que parece, interessadas. Nada contra. Eu é que não
estou disposto a gastar o meu tempo neste tipo de programas, mas há
liberdade de escolha para quem o quer fazer. Prefiro ver as coisas
assim: é um incentivo ótimo para que hajam mais subscritores de
pacotes de ene canais, ou Netflix. Temos sempre o YouTube ou outras
plataformas, para aqueles que têm smattv's. Há aqui uma questão.
Nem todos têm a possibilidade de subscrever estes canais. E são
muitos os que se limitam aos canais da TDT.
Vejamos aqui o essencial:
- As pessoas que concorrem a estes programas, fazem-no de livre vontade;
- Os canais passam o que entenderem e nós vemos se quisermos;
- Se há público, é porque interessa a alguém.
O que me preocupa a mim, enquanto jovem
cidadão é esta realidade: a temporada da Casa dos Segredos que
menos inscrições no casting teve contou com cerca de 54 mil nomes,
e o pico foram mais de 100 mil. Estes valores, por baixo, representam
dois dos três maiores estádios do país cheios, ou então a
população de capitais de distrito como Vila Real, Guarda,
Portalegre ou Beja, ou, no limite e realmente preocupante, o número
de alunos que tentam entrar no ensino superior. Dá para entender
onde quero chegar? É a esta geração que pertencemos, todos.
Ainda estou para ver quando teremos o
leilão de pessoas em direto na TV. Sim, porque esta ideia de colocar
mães a escolher noras para os filhos, não só é um atestado de
idiotice aos próprios filhos, como remonta aos antepassados em que
os casamentos eram combinados e as mulheres estavam reservadas a
determinado filho de fulano tal. Vou tentar, com o distanciamento
habitual face a estes temas, perceber se vai ser utilizado o
argumento de que impingir uma mulher a um agricultor desta maneira é
valorizar o território, nomeadamente o interior ou se é uma
valorização da atividade do agricultor.
Por tudo isto, tenho a agradecer à RTP
por ser uma alternativa, pública.
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