Bem, na verdade nem sei bem por onde
começar!
Portugal vive dias difíceis.
Muito difíceis. Mas é, mais uma vez, a prova que nem tudo é economia (alguns
dirão que sim, que há interesses económicos instalados... mas não é esse o
ponto).
Uma coisa é para mim clara neste
momento. Finalmente, António Costa cometeu um erro grave. Sim, porque quem
governa, a qualquer nível, comete erros, e Costa foi cometendo os seus, mas
nenhum desta dimensão.
Ele tem razão quando diz que
não há varinhas mágicas, mas... a sério que foi dizer que não as há numa hora
daquelas? Naquele tom? Com aquela postura? Com o que estava, naquela hora, a
acontecer? Nunca o poderia ter feito, mas fez. Deve, a esta hora, dois pedidos
de desculpa: 1) pelo Estado ter falhado (já chega com delay, depois de Marcelo [já lá vamos]) na mais elementar das suas funções de soberania; 2) por ter cometido um
erro de inabilidade política, e sim, estamos a falar de António Costa que é
muito hábil politicamente.
(Adenda: António Costa já pediu desculpa no Parlamento, enquanto o artigo estava a ser publicado. O que não invalida a opinião continuar a ser expressa para vosso conhecimento, mas fica a nota de que Costa já o fez)
(Adenda: António Costa já pediu desculpa no Parlamento, enquanto o artigo estava a ser publicado. O que não invalida a opinião continuar a ser expressa para vosso conhecimento, mas fica a nota de que Costa já o fez)
Já no seguimento da catástrofe
em Pedrógão, achei que a Ministra não teria condições políticas para continuar,
apesar de tecnicamente ser muito boa, também é preciso habilidade e condições
políticas (veja-se o exemplo de Centeno, que foi ganhando de dia para dia até
ser o Ministro que é hoje), e a Ministra, claramente, a perdeu em Pedrógão. Eu
concordo que a demissão fosse o caminho mais fácil e que não fosse esse o que
Costa quisesse seguir, mas tinha de ser, quando ainda nem a fase supostamente mais
complicada dos fogos tinha chegado (e não, eu não me junto aos especialistas
florestais, de combate a incêndios e de proteção civil que de repente brotaram
como cogumelos em Portugal este verão de 2017) e talvez fosse esse o motivo
para a segurar, até ao fim do verão e até ser conhecido o relatório (já repararam que todos os partidos se entenderam e foi produzido um relatório transparente, independente e muito bom?) sobre esse
incêndio e fossem adotadas medidas, mas este fim-de-semana retirou qualquer timming, e fez cair por terra todas as
estratégias que pudessem haver.
Sejamos honestos, ninguém
estava à espera que estes incêndios, desta dimensão, acontecessem! Quem é que
se lembra de tal em pleno outono? Eu sei que estava bom tempo e que estava
vento e que estas duas variáveis são por si só propensas a incêndios, mas
também sei que já estamos a meio de outubro e que já se pode fazer as chamadas
queimadas e que o "perigo já passou". A estratégia de Costa estava
até bem montada, mas, tal como aconteceu no passado com Vítor Gaspar que queria
sair do Governo e Passos Coelho o fez esperar, volto a criticar a
"espera" face a Constança Urbano de Sousa, e pelo mesmo argumento
que, aliás, é um valor na minha vida: quem não quer estar, sai. Não se deve
prender ninguém a uma relação (seja ela de que natureza for).
Ora, a Ministra sai com um
pedido de demissão que, a meu ver, deixa-a ficar mal a ela, mas ao
Primeiro-Ministro também, passando a ideia de que estavam à procura de alguém,
o que não me parece que fosse necessário. E sai pela porta pequena. Pequenina.
Infelizmente. Foi, em muitos momentos, o rosto da aflição, merecia melhor
desfecho. Mas depois daquela intervenção, duríssima, de Marcelo, a Ministra não
poderia ficar nem mais 24 horas no Governo.
Por falar em Marcelo, eu acabo
de dizer que ele foi duríssimo, mas foi não só com a Ministra, foi também com
Costa, dando a ideia de que está a dar uma última oportunidade, mas também a
todo o Parlamento e à sociedade civil como um todo.
Vejamos. Quanto ao que toca à
então Ministra, acho que não é necessário dissecar muito, ele basicamente lhe
passou um atestado de incompetência política em direto quase a demitindo pela
própria boca. Mas como foi Marcelo a falar, no seu melhor, deixou portas abertas
a diferentes interpretações. Claro que foi isso que aconteceu!
(Nota prévia: não estou a
criticar a intervenção de Marcelo, porque quem o conhece e quem o elegeu sabia
que ele ia meter a "colherada" mal tivesse oportunidade, e a
intervenção foi um mea culpa que o
Governo deveria também ter feito e não o fez, o que aumentou ainda mais a pertinência
da sua intervenção e que retirou, com isso, qualquer margem de manobra a este
Governo)
Ora, e que interpretações são
essas? É fácil de ver, a que Passos Coelho já veio materializar, a reboque de
Assunção Cristas, e a de que o Orçamento de Estado tem de ser bem ponderado.
Quando o Presidente diz que o
Parlamento tem de refletir bem sobre a moção de censura ao Governo apresentada
pelo CDS para depois não haver equivocos, está a dizer em português corrente:
vejam lá o que vão fazer, se os tiram de lá, quem é que para lá vai? E ao mesmo
tempo pede reformas, caso este Governo se aguente, e só com ele pode haver no imediato.
Mais uma vez, a economia não é tudo, muito menos o défice, e aqui acompanho, de
mão dada, o Presidente. O défice está a ser um sucesso deste Governo,
indiscutivelmente, mas eu preferia ter mais uns 0,5% de défice e ter essa
margem em mais investimento no país, nomeadamente em matéria de atratividade do
interior e de prevenção contra causas naturais (incêndios, cheias e afins).
Já agora, e se o Governo cair?
Quem vai a eleições pelo PSD? Será que esta pode ter sido vista como a janela
de oportunidade para a sua sobrevivência, por parte de Passos Coelho? Próximo
artigo, brevemente.
Não posso terminar sem deixar
uma palavra, sentida, a todos os afetados pelos incêndios, que deflagraram em
Portugal, que deve ser já um fenómeno quase comparável ao da emigração na
medida em que todos já devemos conhecer alguém que tenha relações, mais ou menos diretas com pessoas ou localidades afetadas pelos incêndios. Aos bombeiros, mas também aos
polícias municipais e PSP, assim como GNR e "heróis" que foram
surgindo, o meu muito obrigado.
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