Uma ano após as eleições que derrotaram o PS de José Sócrates, não creio que viva num país em melhor estado, pelo contrário.
Durante este ano, senti o aumento da taxa moderadora quando tive de recorrer ao hospital, o aumento do IVA quando vou ao supermercado, vou sentir o aumento da propina no próximo ano lectivo, sinto bastante dificuldade em encontrar um part-time. Sinto principalmente que vivo num país em que as pessoas já não depositam esperanças. Em que se está a tornar um país de segundo ou mesmo de terceiro mundo, onde vemos loucura total com um dia de descontos num supermercado, onde a expectativa de trabalhar é nula, onde nunca se sabe se no dia seguinte, quem ainda trabalha, irá de facto trabalhar ou por sua vez deslocar-se para as filas extensas do centro de emprego, todos os dias, dezenas de casas são entregues ao banco pelas famílias. Foram inúmeros os dias em que comprei o jornal e a manchete era aumentos na despesa das famílias, como na luz e gás natural. Os funcionários públicos tiveram cortes salariais, corte no subsidio de férias e do 13º mês. Poderia continuar o resto do dia a relatar acções deste Governo que têm contribuído para a desmoralização das pessoas, mas não o vou fazer.
Até porque o meu objectivo com este texto, não é reflectir aquilo que tem vindo a ser feito por este executivo, mas sim, dizer o que para mim era o anterior primeiro-ministro.
José Sócrates era primeiro-ministro quando eu comecei a ver as noticias com olhos de ver, quando me comecei a interessar pelo que me rodeia, pela política.
O que me lembro deste primeiro-ministro é a postura que este adoptava! Mesmo em tempos difíceis, nunca desvalorizou o seu país, acreditou sempre no seu povo. O meu secundário foi feito na área de economia, e analisei os primeiros anos de governação e pude averiguar que seguia-mos o caminho de crescimento. Criação de emprego fazia parte da agenda política. Mas o que é de facto de realçar, a meu ver, era a visão futurista daquele que foi para mim, dos melhores políticos que Portugal teve até hoje. A aposta nas novas tecnologias, nas energias renováveis, programas como o simplex, a aposta no ensino superior e na inovação, na ciência, todas estas áreas, entre outras, foram o foco dos anteriores Governos.
Durante o meu ensino básico, tive a oportunidade de frequentar aulas de TIC (tecnologias de informação e comunicação). Durante o ensino básico e também secundário, estavam disponíveis aulas de apoio aos alunos que delas necessitassem. Já no secundário, adquiri este computador através do programa e-escola. Ao mesmo tempo, as crianças tinham escola a tempo inteiro, deixando de ser assim um encargo para os pais até à hora de saída do emprego, adquiriram também elas computadores através do programa e-escolinha, os famosos e exportados Magalhães.
Hoje, estudo na Universidade do Minho, em Braga, e todos os dias passo pelo centro de nanotecnologia, algo que seria impensável em 2005. O que demonstra que Portugal estava na linha da frente em tecnologia e inovação.
Lembro-me de nos noticiários se falar em exportações e em crescimento económico, mais, a sua última acção enquanto primeiro-ministro foi a apresentação de um PEC, a quarta versão. Para quem não sabe, estas iniciais significam Programa de Estabilidade e Crescimento. Enquanto José Sócrates foi primeiro-ministro, não tinha ouvido falar em austeridade, hoje, é ordem do dia!
Porém, não se fique a pensar com isto que era um mar de rosas. Portugal não escapou à crise mundial que despoletou em 2008 e principalmente a partir de 2010, as coisas foram realmente difíceis e de alguma contenção.
E como se costuma dizer, o melhor fica para o fim. E o melhor neste caso, é a meu ver a postura que adoptava, a sua retórica, a forma como se dirigia ao povo. Era para mim uma lição de como estar e falar num púlpito ver e ouvir um discurso de José Sócrates. Quando sabia que este iria debater, era certo que iria ver televisão, um verdadeiro "animal feroz".
Para finalizar, e tem que ver com este último ponto de que falei, a sua retórica, acabei de rever aquele que para mim foi dos melhores discursos políticos que tenho memoria. A postura a adoptar num momento de derrota num país democrático. O discurso efectuado na noite da derrota das eleições legislativas a 05-06-2011. Num momento de despedida de um cargo, que se ocupou durante 6 anos, com o melhor que sabia fazer. Disso, eu não tenho dúvida alguma!
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