Hoje é dia 9 de Janeiro, uma segunda-feira. Portugal está de
luto, inicia-se hoje 3 dias de luto nacional. Mário Soares faleceu no sábado,
dia 7. Portugal não será mais o mesmo.
Mas para a família socialista, Mário Soares não foi a única
perda deste fim-de-semana. Guilherme Pinto, Presidente da Câmara Municipal de
Matosinhos partiu domingo de madrugada.
Pessoalmente, não tenho qualquer episódio para contar que
tenha vivido com qualquer um deles. Não me lembro de travar conversas com
ambos. Mas lembro-me de ser educado, de crescer e aprender e de me guiar com
ideais e com posturas que destaco de cada um deles. A principal? Liberdade.
A minha mãe educou-me com um valor sempre presente, como com
um pilar inalienável. Liberdade. Esse é o maior legado que tentarei transmitir
um dia a geração futura do meu nome. Mário Soares deixa um legado que fez dele
o maior de todos, maior do que ele mesmo, deixou Portugal como ele é hoje, um
país livre.
Neste preciso momento estou no comboio a viajar para Lisboa,
como tem sido hábito nas últimas segundas-feiras, mas desta vez, a tarde será
diferente. Farei questão de estar presente no Mosteiro dos Jerónimos para
prestar a minha mais singela homenagem. Acho que é daquelas coisas que se não o
fizer, um dia vou olhar para trás e me vou arrepender amargamente. Sei que se a
minha mãe estivesse em condições de ir, iria também, por isso, é também por
ela, pela educação que ela me deu, pelos valores que me transmitiu que eu hoje
lá estarei presente.
Numa das primeiras semanas em Lisboa, fui à sede do Partido
Socialista preencher a minha ficha de militante e depois desci a rua de São
Bento e só parei na Fundação Mário Soares. Mostrei a minha admiração pelo pai
da democracia e fiz uma pergunta: como é que é possível ter um livro
autografado pelo ex-Presidente da República? A senhora com quem eu estava a
falar disse-me que não seria possível uma vez que ele já não ia com regularidade
à Fundação por motivos de saúde. Já estava perto de completar os 92 anos que
ditaram a sua ida. Contudo, a simpática senhora com quem falei, ligou à
secretária de Mário Soares e tive a felicidade de receber um exemplar do livro
que tem pautado a minha postura nos últimos anos: Um político assume-se. Mas
não é um mero exemplar, este tem uma chancela. Talvez aquela minha visita, pelo
significado de ter sido das primeiras coisas que fiz em Lisboa, a par de ter
sido imediatamente após a minha inscrição no partido que ele fundou tenha sido
a maior homenagem que eu possa ter prestado. A única satisfação neste momento,
é tê-lo feito em vida.
Deus que foi Deus, não agradou a todos. Mário Soares,
republicano, europeísta, democrata, socialista e laico, não o iria fazer
certamente. Este é o momento de recordar o melhor que ele nos deixou, Portugal
tal como ele é hoje.
Guilherme Pinto era um autarca que deixa uma obra marcante
no concelho de Matosinhos, mas deixa muito mais do que essa obra, deixa uma
postura e uma atitude de referência a qualquer um de nós. Um socialista de
longa data, um homem que sabe o que defende e porque defende, desfiliou-se do
Partido Socialista em 2013 para se candidatar à câmara municipal como
independente, uma vez que não se revia na estrutura do partido para aquela
concelhia. Mostrou independência e atitude. Nas eleições, venceu. Lembro-me da
última vez que estive com ele, foi no Porto, numa iniciativa promovida por
António Costa no conservatório em abril de 2015. Claro, o Tiago Maia, camarada
e amigo de longa data estava lá. Mas foi essa independência e liberdade que
mostrou, que fizeram dele a referência que será, tal como ontem, amanhã também.
Felizmente, uns escassos dias antes de falecer, voltou a filiar-se no Partido
Socialista, o seu partido de sempre. Fê-lo no dia seguinte a renunciar ao cargo
de Presidente precisamente por motivos de saúde.
São, sem dúvida alguma, duas grandes perdas para o Partido
Socialista, mas essencialmente, para o norte e para Portugal. Fica a obra de
ambos.
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