Aparentemente, Mário Soares e as recentes eleições, quer as dos EUA como as do Brasil, não têm nada em comum. Mas eu acho que sim.
Vamos começar pelo fundador do Partido Socialista, falecido no início de 2016.
Mário Soares não deixou apenas um partido charneira fundado. Deixou um legado. Um legado da democracia, um legado da participação cívica, uma história de vida verdadeiramente inspiradora para as próximas (e porque não para as atuais) gerações, políticas e não só.
Mas o maior dos legados, e talvez aquele que fez com que Portugal hoje seja o paraíso social em que vivemos e que muitas vezes desprezamos, foi o legado da tolerância. Através dela, promoveram-se diálogos que dificilmente seriam mantidos, conquistaram-se valores que de outra forma não seriam implementados, e que hoje estão enraizados na nossa sociedade. Paz social, o principal.
Portugal teve a sorte de ter Mário Soares como português. O mundo, em geral, nem por isso. Nem mesmo os países CPLP.
Vamos agora aos atos eleitorais do outro lado do atlântico.
Trump nos EUA e Bolsonaro (primeira volta, ainda) no Brasil. Tolerância? O que é isso? Não tenho muito mais a dizer.
No entanto, deixo aqui um reparo a todos, principalmente aos europeus, aqueles que entendem que por serem europeus o mundo gira à volta deles. As coisas não são assim.
Viver em democracia é respeitar as escolhas, mesmo sabendo que a prazo, elas terão consequências para nós. Mas nós, europeus, não votamos nas eleições americanas nem brasileiras. Vamos deixar as coisas acontecerem como os americanos e os brasileiros escolhem que aconteçam. Ao mesmo tempo, podemos tomar atitudes que sirvam de exemplo, que inspirem e que não desiludam o eleitorado. Governantes, podem respeitar o voto e cumprir o que prometem? Podem ouvir os eleitores? Ou estaremos todos à espera que o descontentamento se transforme em figuras aberrantes para as sociedades?
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