"Sejamos claros, temos demasiadas reuniões, com demasiadas pessoas a discutir demasiados assuntos para tão poucas decisões."
Foram estas as palavras que António Guterres proferiu ontem no sua entrevista como candidato a Secretário-Geral da ONU, e que motivaram este artigo.
O ex-Primeiro-Ministro de Portugal, o Eng.º António Guterres foi direto ao ponto. Disse aquilo que estamos fartos de pensar mas que poucos, dentro das próprias instituições o dizem, ou o dizem quando pode ser incómodo. Porque ser-se como Marinho e Pinho que critica as instituições, nomeadamente o Parlamento Europeu, enquanto eurodeputado, e que nelas continua sem mexer uma palha, faz mesmo lembrar, como disse uma jornalista ao próprio numa entrevista, aquelas crianças que atiram a pedra e depois escondem a mão. Ou então, na cimeira para o ambiente, recentemente em Paris, vimos Obama fazer um discurso consciente dos problemas climáticos e a assumir a sua quota responsabilidade enquanto Presidente dos EUA e até o vimos a pedir desculpa ao mundo, mas dizê-lo no final de dois mandatos, não é, notoriamente, suficiente.
António Guterres foi mais longe, criticou as instituições, e portanto, todos os que nelas participam, por causa das excessivas reuniões com excessivas pessoas que, basicamente, nada ou pouco decidem. E fê-lo no dia em que tentava convencer essas mesmas pessoas a aprovar e a levar mais longe a sua candidatura. Quantas vezes, por causa dos resgates na Grécia, ou mesmo o de Portugal, ou até por causa do Brexit temos ouvido a expressão dia decisivo? Quantas vezes, ainda era José Sócrates Primeiro-Ministro, e as cimeiras decisivas ocorriam umas atrás de outras? Era quase dia-sim-dia-sim?
Na casa do leitor não sei, mas na minha, as imagens que entravam pela sala adentro mais pareciam as de um desfile de vaidades do que imagens de pessoas que representam outras pessoas, que estão entaladas de problemas até ao pescoço, e que os "modelos" iriam resolver os seus problemas. Ver, vezes sem conta, a Srª Merkel a receber líderes europeus sempre me fez alguma espécie, não por ser mulher, claro, (até porque acho muito simpático ser uma mulher a receber os líderes, fica bem na fotografia) mas porque a Srª Merkel é líder sim da Alemanha, e não da Europa, em que a Alemanha deveria ter um peso igual ao da França, Inglaterra, Portugal, Espanha ou qualquer outro da globalidade dos 28 países.
Se Guterres vai conseguir ou não ser eleito, não sei, mas que só por alertar para esta questão, que vai saturando as pessoas que sustentam todo o sistema, já valeu a pena. É das tais coisas, não mata, mas mói.
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